quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Esperteza Infantil II


Nesta época de quase Natal, ficamos mais saudosistas. Lembramos de pessoas que nos fizeram felizes, lembramos da infância, de uma simplicidade que nos mantinha a alegria. Não ligávamos para roupas novas, para brinquedos caros, só queríamos a família reunida, as conversas, as risadas, as brincadeiras, a promessa de ficarmos sempre juntos.
Natal hoje é diferente. É cada um com brinquedo eletrônico novo, sozinho, tentando “passar de fase”; seu celular novo ou seu notebook novo, mandando mensagens e postando fotos para que os outros curtam, compartilhem, preferencialmente, à distância... Natal hoje não devia se chamar Natal, e sim “Natão”, para rimar com prestação, cartão, promoção, solidão...
Lembro-me que nos primeiros anos da minha maternidade, eu, meus irmãos e pais fizemos um Natal à moda antiga, com Papai Noel e tudo mais, para meus sobrinhos e minha filha mais velha. Foi na casa de minha mãe, já faz um tempão, aproximadamente uns quinze anos. Teve que ser de dia, no horário do almoço, porque tínhamos compromissos familiares com sogros e sogras para a tradicional ceia natalina.
As crianças curtiram, é claro. Mas nós, os adultos, é que curtimos mais...
Durante a abertura dos presentes, que saltavam do saco vermelho carregado pelo Papai Noel, os olhos de minha filha brilhavam, ela batia palmas e pulava, mal se aguentava de tanta alegria. Tinha recebido o CD com as músicas que tanto queria, a boneca da moda tão desejada e outros mimos. Um monte de quinquilharias com validade garantida, até no máximo o próximo Natal, quando a ciranda de petições certamente começaria novamente.
Mas foi no quarto de minha irmã caçula, na época com seus dezesseis anos, que se passou um fato curioso. Ela e minha sobrinha mais velha conversavam a respeito de como seria boa a vida das duas, se pudessem se casar com os seus ídolos juvenis da época, os jovens da banda musical Hanson´s (rapazinhos loiros de cabelos compridos, daquelas bandinhas sem graça, que a gente só ama na adolescência e odeia pela vida inteira).
Minha filha, abraçada com a boneca nova, ouvia a discussão entre minha irmâ e minha sobrinha e permanecia em silêncio, como quem prestasse muita atenção no desfecho da conversa. As adolescentes tinham quase a mesma idade, por ser a minha irmã a “raspinha do tacho” de minha mãe. As duas listavam o tanto de benefícios que teriam com o supostos enlaces matrimoniais com Taylor e Zac, os noivos tão cobiçados, dizendo que viajariam por todo o mundo, iriam a todos os shows e seriam famosas e felizes até não poder mais...
Dirigindo-se para minha filha, perguntaram:
- Gigi, com quem você se casaria?
E apontando para o pôster pensaram que a inocente criança optaria por uma beldade ou outra. Porém, minha filha, que só tinha quatro anos na época, saiu com uma resposta que nos surpreendeu e até nos assustou em parte, porque longe de ser uma resposta fundamentada no amor, na paixão ou até na atração física, demonstrava a percepção de uma criança pequena diante dos interesses de uma geração, que tem em suas bases o consumo e a satisfação imediata dos desejos pessoais. Ela disse:
   - Nenhum dos dois. Eu me casaria com o Papai Noel...

Maria Tereza Fumelli - 4º semestre 2012/2

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