terça-feira, 31 de março de 2015

Leitura e Escrita, conhecimento contínuo


Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada: uma carta em alemão. 
O exercício de leitura de um texto em língua desconhecida foi difícil. No primeiro instante, não sabia identificar nada, porque não tinha conhecimento da língua. É como se fosse iletrada e estivesse vendo aquelas letras pela primeira vez. Num primeiro olhar no texto, tentei adivinhar as palavras, e algumas eram possíveis ser identificadas, porque em algum lugar já as tinha visto. O não conhecimento faz com que a leitura em outras línguas se torne obscura.
Essa atividade me ajudou a refletir que a leitura é algo que oferece para o ser humano a possibilidade de viajar pelo mundo, sem sair do lugar. É poder aprender e ter um conhecimento para vida. Um texto como a carta em alemão, se pudesse pesquisar o significado das palavras, mesmo não falando a língua, poderia ter entendido seu conteúdo. Por isso, pesquisar é tão importante, porque é uma forma de aprofundar a leitura e a compreensão também.
Segundo Paulo Freire, no livro “A importância do ato de ler”, considerando sempre que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, a vivência de cada um e seu entendimento em relação ao mundo são a base para que se aprenda a ler a palavra. Aquilo que o alfabetizando traz consigo de experiência, o conhecimento que ele adquiriu antes da escola deve ser levado em consideração. Freire enfatiza que, na verdade, a construção do conhecimento deve se dar a partir do que cada um já possui, desta forma a construção se tornará mais fácil e efetiva.
Nesse mesmo livro, Freire fala das bibliotecas populares, mostrando a importância do professor como clareador de ideias, não como manipulador e agente neutro no processo de ensino-aprendizagem. O autor enfatiza: “A educação sistemática atua na produção da ideologia dominante, porém, ao mesmo tempo, ela mostra a realidade em confronto com o discurso oficial”.
Nesse contexto, para Freire, a biblioteca popular se insere como meio cultural, sugerida numa perspectiva crítico-democrática, planejada para fornecer a relação entre a leitura do mundo e a leitura da palavra, e estimular os adultos pós-alfabetizados a criarem o seu próprio acervo cultural, através da pesquisa, sem, com isso, negar seu aspecto político e isento de neutralidade.
Segundo Madalena Freire, não fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos. “Nosso olhar cristalizado nos estereótipos produziu em nós paralisia, fatalismo cegueira”. A carta em Alemão causou esse efeito em quem estava lendo. Para a autora, “para romper esse modelo autoritário, a observação é a ferramenta básica nesse aprendizado da construção do olhar sensível e pensante” do educador, por isso ela sugere que os professores registrem sua prática, refletindo sobre o que fazem e se eduquem como profissionais críticos e reflexivos.
Foi possível perceber que a didática e a metodologia devem estar em sintonia, uma ligada à outra. Acredito que, nesta atividade de síntese reflexiva sobre a leitura e a escrita, foi utilizado um princípio sociointeracionista, pois os alunos foram buscar entender as palavras, a atividade proposta despertou o interesse de saber o novo, e mesmo não tendo conhecimento da escrita e da leitura, tentamos descobrir o que estava escrito com o nosso conhecimento enciclopédico adquirido ao longo de nossas vidas escolares.
"Mas não basta registrar e guardar para si o que foi pensado, é fundamental socializar os conteúdos da reflexão de cada um para todos. É fundamental a oferta do entendimento individual para a construção do acervo coletivo". Como bem pontuava Paulo Freire, o registro da reflexão e sua socialização num grupo são "fundadores da consciência", e assim sendo, sem risco de nos enganarmos, são também instrumentos para a construção de conhecimento.
Esta atividade foi importante, porque compreendemos que a leitura tem que ser contínua, e, só assim, conseguiremos passar para nossos alunos, de fato, a importância do ato de ler, que muitas vezes defendemos e não vivenciamos.

Danielle Monteiro (7º semestre Pedagogia PARFOR)

O olhar atento do educador

No primeiro dia de aula, fomos desafiados pela professora de Conteúdo e Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa II a ler um texto que nem imaginávamos o que estava escrito
Ao me deparar com o texto, logo de início, achei que estava escrito em inglês, e levei um susto. Como nada na vida é fácil, tentei então descobrir ao menos algumas palavras para tentar saber do que se tratava. Confesso que me senti analfabeta por não dominar o idioma. Mas, juntando uma palavra e outra, e contando com a ajuda das alunas da sala, descobrimos que se tratava de um currículo e estava escrito em alemão. Assim, mesmo não dominando o idioma, com a interação do grupo, pudemos chegar a um entendimento coletivo.
O texto de Paulo Freire, “A importância do ato de ler”, deixa claro que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Portanto, podemos identificar e interpretar os sinais. E para fazer essa leitura é importante trazê-la para o nosso mundo, temos que entender o sentido utilizado no texto para compreender a ideia do autor.
Talvez, por isso, a habilidade que usei para interpretar o texto em alemão tenha sido decifrar as palavras que eu já havia visto. Muitas vezes, não conseguimos interpretar um texto, pela grande deficiência do nosso vocabulário e da nossa vida escolar.  A maneira como fomos ensinados talvez não tenha sido boa o suficiente para chegarmos a esse entendimento e só nos damos conta quando precisamos colocar nosso conhecimento em prática.
A leitura de Paulo Freire também me fez refletir sobre minhas experiências com a leitura e a escrita, desde a minha infância. Cresci em um lar onde ninguém tinha estudo. Minha mãe só estudou até o terceiro ano primário, minha avó e meu avô eram analfabetos. Eu tinha uma tia que também teve pouco estudo, mas gostava muito de ler e passava horas lendo pra mim. Confesso que adorava vê-la ler, pois, apesar de seu pouco estudo, ela possuía o hábito da leitura e lia vários livros. Só não sei até hoje se ela apenas decodificava ou realmente entendia o real significados dos textos que lia. Como eu, na época, não dispunha deste entendimento, só sabia de uma coisa: queria saber ler igual a ela. Quando fui à escola pela primeira vez fiquei muito feliz e não via a hora de aprender a ler. Quando comecei a juntar as palavras, ficava imitando minha tia e dizia eu que lia para meus irmãos menores. Adorava sair com minha avó só para ficar lendo os anúncios das placas, os nomes de lugares para onde os ônibus iam etc.
A falta de conhecimento traz muitas barreiras. Com isso, nos desanimamos e ficamos sem vontade de seguir em frente. Devemos aprender que as barreiras vêm, mas temos que enfrentá-las com coragem e ultrapassá-las. Só assim perceberemos o quanto somos capazes de atingir um conhecimento jamais imaginado por nós mesmos. 
Freire também cita a importância da quebra desse sistema de decorar da "educação bancária". É fundamental o aluno saber o significado profundo das palavras. Ler vários livros, ou melhor, “devorá-los” não adiantará, se apenas decodificarmos as palavras sem compreensão de seu real significado. Por isso, os professores precisam trabalhar com os alunos vários tipos de textos e indicar leitura de livros, fazer debates em sala de aula, para que, no futuro, eles saibam interpretar com facilidade um texto e expor suas opiniões.
Ter feito esta atividade de reflexão sobre a leitura e a escrita me fez ver a importância do trabalho em grupo, e a mediação do educador, pois a troca de ideias e as experiências de cada um de nós fizeram com que chegássemos a um resultado satisfatório.
Segundo o texto de Madalena Freire, Observação, registro, reflexão: “aprendemos a pensar junto com o outro, num grupo coordenado por um educador. Aprendemos a ler, construindo novas hipóteses na interação com o outro. Aprendemos a escrever organizando nossas hipóteses na interação com as hipóteses do outro. Aprendemos a refletir, estruturando nossas hipóteses na interação e na troca com o grupo”.
Portanto, a ação, a interação e a troca movem o processo de aprendizagem. A função do educador é interagir com seus educados para coordenar a troca na busca do conhecimento. Por isso, como educadores, devemos sempre trabalhar com nossas crianças com as habilidades de pensamento, por meio da interação, para que elas possam ter um olhar atento aos acontecimentos ao seu redor. Algumas crianças aprendem melhor vendo, outras ouvindo, outras se movimentando, devemos respeitar essas diferenças.
For fim, é possível compreender que se pode aprender de diferentes maneiras. Desse modo, conforme Madalena Freire, é preciso que o educador tenha um olhar atento para mediar de forma natural o aprendizado, compreendendo que as diferenças individuais não são obstáculos, e sim aberturas a novas oportunidades de crescimento. Nesse sentido, nós, que estamos iniciando esta carreira como educadores, devemos fazer a diferença, sermos educadores em constante processo de construção e reconstrução, observadores e reflexivos.

Rosângela Aparecida Bispo (7º semestre Pedagogia PARFOR)

Leitura e escrita, um olhar para o futuro


Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada. Recebemos um texto em outro idioma para que fosse feita a leitura. A princípio me senti perdida, não conseguia entender nada do que estava escrito.
A atividade foi desenvolvida em grupo, e, aos poucos, conseguimos fazer algumas suposições e observações, recorrendo à nossa leitura de mundo, segundo Paulo Freire. O trabalho coletivo foi muito importante, por fim, descobrimos se tratar de uma carta comercial que estava escrita em alemão.
O texto de Paulo Freire, “A importância do ato de ler”, fundamenta o exercício de leitura com a carta em alemão, no sentido de que o esforço, a persistência e a dedicação sejam hábitos constantes na leitura.
Ao analisar o texto de Paulo Freire, observa-se que o autor faz um retrospecto dos seus tempos de criança. Isso nos leva a entender o quanto é importante estimularmos, desde cedo, nossos alunos, proporcionando-lhes diferentes formas de leitura, por meio de imagens coloridas, dramatização e interpretação de textos etc. Quando essas crianças ingressarem no ano de escolaridade propício, não terão muitas dificuldades, pois até mesmo uma aula de matemática baseia-se em uma série de interpretações. Assim, o aluno estará mais ambientado, devido ao hábito de lidar com textos e, com certeza, se tornará um educando que participará de desafios.
Segundo Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, e mais do que decodificar as palavras de um texto, devemos analisar as “entrelinhas”, trazer a leitura para o nosso mundo, para compreendê-lo e, ao mesmo tempo, agregar vocabulário e aprendizados. Como fala Freire, nem sempre complexas bibliografias são devidamente interpretadas, por isso a qualidade da leitura deve ser superior à quantidade de páginas lidas, pois o mais importante é menos extensão e mais compreensão.
O esforço, a escrita e a reescrita fazem parte do aprendizado, para que esta seja transformada em prática. Ao ler um texto, ele é interpretado e trazido inconscientemente para o nosso mundo, com as nossas adaptações necessárias para o entendimento individual.
No exercício com o texto “carta em alemão”, nos esforçamos muito com a leitura e releitura por várias vezes, para tentar fazer a tradução. A partir do contexto e de nossa habilidade de leitura, pudemos deduzir melhor o que estava escrito. Mesmo se tratando de um outro idioma, isto nos faz avaliar a importância de ler. Se não praticarmos a leitura, não conseguiremos fazer a interpretação. Tudo isso também se reporta aos educandos para que este ato se torne um hábito prazeroso e rotineiro.
Aprofundando esta reflexão, segundo a escritora Madalena Freire, o alfabetizador não é aquele que lida com a escrita, mas sim com outras linguagens, em todas as faixas etárias. De acordo com a autora, o registro reflexivo elaborado pelo professor será um importante instrumento metodológico para a observação da prática docente.
De acordo com a escritora, nossas lembranças nos possibilitam pensar sobre o aluno que fomos um dia, para melhor assumirmo-nos enquanto educadores que estamos sendo hoje, para que, nos dias atuais, possamos trabalhar juntos, a fim de que os educandos se interessem mais pelas metodologias propostas.
Que essa dinâmica do alfabetizador seja prazerosa, com carinho, e não um fardo pesado como em minha história passada, quando não havia autonomia, mas rigidez.

Cristina Pereira dos Santos (7º semestre Pedagogia PARFOR)

Für die Position XYZ: só é possível refletir em alemão?

O desconhecido é misterioso, assustador e intrigante. O texto em alemão mexeu com muitos sentidos relacionados ao desconhecido. Como entender o que não transmite significado algum? A partir de conhecimentos já adquiridos, tive uma noção do que poderia ser o texto, mas seu real significado é impossível decodificar sem o conhecimento da prática da leitura em Alemão.
Isso me fez lembrar do meu tempo de criança. Sabem como é memória, cada um tem a sua. Muitos lembram com detalhes do que foi vivido, outros lembram apenas de fatos que realmente marcaram a vida, de uma maneira muitas vezes fantasiosa, em que a realidade e a imaginação se misturam e criam nossa memória de fatos vividos.
Aprendi a ler com cinco anos de idade, mas, mesmo assim, ainda me lembro quando as letras faziam parte do mundo misterioso e cheio de hipóteses que criava para dar significado aos montinhos de letras que surgiam nos livros
Sempre gostei de livros. Na minha casa, eram frequentes a leitura e o manuseio de diferentes gêneros textuais. Eu tive muita sorte, meus pais sempre liam para mim antes de dormir. Tinha eu cantinho de livros no quarto. Mas o que eu mais gostava era de sentar com a minha mãe e ficar folheando os livros de receita que ela tinha de uma tal marca de açúcar, bem conhecida nos anos 80. Ficava vendo as figuras de darem água na boca e tentava entender qual era a relação entre elas, os números e as fotos. Até que um dia minha mãe resolveu fazer a receita do tal “Pudim delicioso”. Minha mãe, que na maioria das vezes tinha muita paciência comigo, este dia deixou eu fazer a sobremesa com ela. Com muita atenção, fui entendendo o significado daqueles números ao lado das letrinhas e minha mãe ia me explicando e lendo para mim o que lá estava escrito.
Chegou a época em que as letras tomaram o espaço dos desenhos e brincadeiras que eu fazia na escola. Confesso que a receita do Pudim Delicioso era mais agradável de aprender do que a Cartilha da Talita, que me acompanhou por um tempo. Ela “a Talita” até que parecia legal, os desenhos eram bonitos, mas logo depois vinham textos a serem copiados e exercícios de repetição que nunca mudavam, apenas as famílias das letras. Quando entendi o esquema da Cartilha da Talita, não via a hora das últimas letras do alfabeto aparecerem. A “Xícara da vovó” nunca foi tão esperada.
Assim eu fui me alfabetizando. Confesso que funcionou muito bem, mas a preguiça e o não entusiasmo pelos exercícios repetitivos surgiram e aprendi também o significado da palavra desinteresse. Me lembro de dizer a minha mãe que eu já sabia aquela família de consoantes e que eu já tinha feito o mesmo exercício com outras famílias. Não entendia o porquê dos exercícios serem tão maçantes, mas, mesmo assim, era obrigada a fazê-los.
Hoje, como professora, e conhecedora de tantos teóricos que só fizeram ampliar meu modo de ver a alfabetização, tento trazer significado para os ensinamentos em sala de aula. Como diz Paulo Freire, “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, então por que usar um material que não tem significado para os educandos, se o mundo em que estamos inseridos nos oferece materiais infinitos para relacionarmos o texto com o contexto?
Seguindo o pensamento de Madalena Freire, “perceber-se no exercício de leitor e escritor da realidade não é tarefa fácil. Requer disponibilidade de re-alfabetizar-se em outra concepção de educação. Reaprender a olhar”. Precisamos, enquanto educadores, nos atualizar e não repetir as ações desconexas e sem significados usadas para nossa alfabetização.
Voltando a fazer um comparativo ao texto em Alemão, no início da nossa discussão, a respeito do ato de ler e escrever, se compararmos o que se aprende em doze meses de cursinho de alemão e um intercâmbio de seis meses na Alemanha, no qual o aluno irá vivenciar diferentes significados de cada palavra, ação ou sentimento, o aprendizado será muito maior e significativo, porque teve a vivência. 
“Aprendemos porque simbolizamos, experimentamos, pesquisamos, nos envolvemos com o nosso fazer e do outro... Aprendizagem do fazer, do ler, do pensar, do expressar e comunicar ideias e sentimentos” (M. FREIRE, 1996).
É com esta frase que tão bem expressa o que ocorreu nesta construção textual, em que pesquisamos, nos envolvemos com o nosso fazer e o dos outros, que encerro esta síntese reflexiva sobre a leitura e escrita.

Daniela Taborda Prado (7º semestre Pedagogia PARFOR)

segunda-feira, 30 de março de 2015

Minha leitura do mundo: refletindo com Paulo e Madalena Freire


Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada. Tínhamos que fazer a tradução de um texto, especificamente uma carta, mas o que não sabíamos era que esta carta estava escrita em outro idioma: alemão.
Nenhum de nós conhecia esse idioma e começamos a associar algumas palavras da carta com palavras do nosso idioma. Por ser uma atividade em grupo, cada um deu uma versão diferente da carta.
A leitura do texto foi difícil, pois não tínhamos o domínio da língua, na qual a carta foi escrita. Procuramos em dupla fazer alguma leitura do texto, e, com muita dificuldade, associamos palavras com a nossa língua portuguesa, como por exemplo: Transport =Transporte, mas não sabíamos se estava correto.
Ao fazermos essas comparações, achamos que poderia ser uma carta com alguma reclamação a uma empresa. Outros grupos também acharam que poderia ser uma carta pedindo um emprego. Isso nos fez pensar como as crianças que não têm o domínio da escrita se sentem, ao se depararem com um texto, mesmo sendo da sua língua. Sem conhecimento da escrita e habilidades de leitura, fica difícil até fazer a associação que fizemos. Por isso, para saber o que exatamente estava escrito no texto, tínhamos primeiramente que ter domínio da língua alemã.
A leitura é fundamental, pois ela é uma ferramenta de ensino e aprendizagem. Mas, para que isso ocorra, é necessário que haja sentido para o aluno. Ler é atribuir sentido ao texto. Paulo Freire, em “A importância do ato de ler”, nos explica que antes de ler a palavra o que lemos e temos à nossa disposição é o mundo, e a gente o lê, somente depois é que o interpretamos e conhecemos. É quando o autor nos mostra que a linguagem e a palavra andam juntas. Nas palavras exatas de Paulo Freire (1981): “A leitura do mundo pede a leitura da palavra”.
Muitas vezes, nos deparamos com alunos que só leem quando a escrita está associada com uma imagem. Mesmo não sabendo ler, ao ver a imagem, eles falam o nome do objeto representado pela imagem, sem saber se o que está escrito é aquilo mesmo.
Por exemplo, quando colocamos a imagem de uma banana com a palavra banana junto, a criança lê banana, quando retiramos a escrita correta e colocamos outra ela continua a dizer que é banana. Isso porque ela não tem a propriedade da leitura. Com o tempo, a criança começa a associar a palavra com a imagem, começa a perceber a sonoridade, quantidade e qualidade do que está escrito. Sei que é muito difícil para as crianças que estão iniciando na leitura a compreensão do texto. E para que gostem de ler e compreendam o que está sendo lido, o texto deve ser de fácil compreensão, prazeroso e, principalmente, fazer sentido para elas. Caso contrário, vão achar chato e perder o gosto pela leitura. No meu ponto de vista, todos os dias deveríamos ler para as crianças na fase inicial e, se possível, fazer uma atividade sobre o texto lido. Tive esta experiência de ler e fazer uma atividade sempre relacionada com o livro e isso despertou um grande interesse dos alunos pela leitura. Toda semana queriam saber qual era a próxima história.
Ao ler o texto de Paulo Freire, “A Importância do Ato de Ler”, pude ver algo que eu desconhecia ou, melhor dizendo, nunca pensei dessa forma. O autor usou no texto a expressão leitura do mundo, que é o ato de ler o mundo ao redor, sem conhecer a leitura da escrita. Paulo Freire (1981) diz “Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior [...]”, com isso ele nos mostra que temos que ensinar para as crianças palavras do seu universo infantil e não palavras do mundo adulto. Desde o momento que fazemos da leitura um hábito, ela não será mais algo que os alunos tenham medo de ler e de expressar diante da sala.
A atividade sobre a “carta em alemão” que realizamos, e, principalmente, a leitura de Paulo Freire me fizeram relembrar meus tempos de criança, que não foram fáceis.
Morava com meus avós em Minas Gerais, enquanto minha mãe trabalhava em São Paulo e só ia uma ou duas vezes no mês nos visitar. Morei com ela até os três anos, depois fomos para a casa dos meus avós. Lá minha mãe teve minha irmã Rosa, parece estranho eu e ela com o mesmo nome, mas é porque minha mãe amava rosas. Lembro de subir no pé de jabuticabas para chupá-las, pois as maiores, “olho de boi” era como as chamávamos, eram mais docinhas. Andar pelos pastos para cortar o caminho, pegar amoras, araçá.
À noite, quando íamos dormir, ficávamos ao redor do fogão à lenha ouvindo os causos da minha vó, como dizia Paulo freire, “medo das almas penadas..”. Era sobre isso que meus avós falavam. Na quaresma falavam do lobisomem, que era um homem que na lua cheia se transformava em lobo e atacava as pessoas. Certa vez na quaresma eu, minhas tias e minha irmã estávamos à beira do fogão. Enquanto minha avó cozinhava, meu avô, que era cego, pediu seu cachimbo, o fumo de rolo e seu canivete e minha avó pediu para ele contar a história de um morador da região que, segundo descobriram, virava lobisomem. No meio da história, começamos a ouvir um barulho do lado de fora da casa e, cada vez mais, o barulho aumentava e meu avô dizia que se cantássemos as músicas do carnaval ou fizéssemos malcriação o lobisomem nos pegaria. Naquele momento, começaram a arranhar a porta e todas nós começamos a gritar, desesperadas, com medo do lobisomem. Até hoje não soube o que arranhou a porta. No dia seguinte, fomos olhar a porta e ela estava toda arranhada e nem tínhamos cachorro. Bons tempos aqueles!
De acordo com Paulo Freire, posso compreender que essas experiências da minha infância tiveram grande relevância para minha formação de leitora, porque, nesses momentos, eu estava construindo minhas lembranças. E o que tem de mais prazeroso do que suas lembranças de infância? Nem todas foram boas, mas o importante é que elas fazem parte de mim, do que sou ou vou ser, dos conhecimentos que adquiri. Podia não dominar a palavra escrita, mas na leitura do meu mundo eu já as conhecia no concreto, como as jabuticabas retiradas do pé, no galho mais alto da jabuticabeira. 
Com o passar do tempo, cresci e comecei a frequentar a escola. Minha cartilha era pequena, num papel amarelado, com gravuras correspondentes às letras. Para chegar à escola, eu atravessava o pasto do vizinho que era no fundo da minha casa, onde eu colhia amoras, morrendo de medo do gado. Naquele tempo, minha escola ou grupo escolar, que era como chamávamos a escola, era de lata, pois era uma espécie de container, com uma porta e duas janelas. Quando chovia, mal se ouvia a professora. 
Foi nessa época que comecei a conhecer as palavras, as quais estavam na minha “leitura do mundo”, conforme explica Paulo Freire. Eu já as conhecia, mas só foi a partir daquele momento que fomos apresentadas convencionalmente. Algumas palavras que me foram apresentadas eram sim do meu mundo como: O BOI BABA, e ele babava mesmo, mas outras não e isso me confundia, pois eram mais difíceis de assimilar. Será que é por que não faziam parte do meu mundo? Segundo Paulo Freire, a alfabetização precisa se dar pela “palavramundo”, então acredito que sim.
Eu não gostava de ir para escola, Talvez porque quisesse ficar mais em casa, subindo nas árvores, queria ir morar com minha mãe ou porque não conseguia fazer as lições. Paulo Freire tem razão ao ressaltar que as lições na escola precisam ser significativas. Apanhei muito da minha tia. Ia apanhando até a escola, ficava de castigo, por não querer fazer a lição. Naquele momento, eu só queria que minha mãe viesse me buscar e me levasse embora. E, lendo a carta em alemão, me veio na lembrança esse momento.
Acho que senti medo e, ao mesmo tempo, me coloquei no lugar dos meus alunos que devem estar sentindo esse medo: o medo do desconhecido. Entretanto, os livros didáticos também não estão ajudando o aluno ou o professor que não tem um diálogo com seu aluno para fazer um diagnóstico. Segundo Paulo Freire, uma das tarefas do educador para com o educando hoje é o diálogo. Mostrar ao aluno seu avanço, para que ele não desanime.
Lembrei-me de um aluno do quarto ano que fazia reforço comigo que, ao dar uma atividade e pedir que levasse para casa e me trouxesse na próxima aula, ele implorou para que pudesse terminar na escola, só faltou ajoelhar. Então, dispensei os outro, pedi que ele esperasse e perguntei porque ele não queria levar a atividade. Foi aí que ele me disse que seu pai o chamava de burro, idiota e que se pudesse não teria ele como filho. Recolhi a atividade dele e lhe disse que, no nosso próximo encontro, o ajudaria e passei para a direção da escola o fato. Esse aluno foi retido, pois não havia condição nenhuma de ele passar e me pergunto se é o pai que lhe bloqueia para aprender. O pior de tudo é que ele fala que quando crescer quer ser como pai, que sempre diz "nunca terminei os estudos e sou mecânico, funileiro e não precisei de nada disso". E eu me pergunto novamente: o que posso fazer nessa e em inúmeras situações?
Paulo Freire nos relata que foi mais ajudado do que desajudado pelos pais e essa rica experiência de compreensão de seu mundo fez com que ele iniciasse a leitura das palavras, com isso, ele nos mostra como é importante os pais na vida escolar dos filhos, ajudando e o estimulando, não criticando. 
Minhas lembranças da escola e da infância me acompanham até hoje. Quando lembro que, para fazer um mapa, tinha que usar o papel de pão da padaria, pois meus avós não tinham dinheiro para o caderno de desenho, me dá um nó na garganta. No começo, era difícil fazer a lição à luz de lamparina, mas depois de um ano, já tínhamos luz elétrica, mesmo com algumas dificuldades, sabia que era importante saber ler e escrever. Mesmo não tendo minha mãe ao lado, minha tia, do seu grosso modo, me mandava para escola para que eu aprendesse, e hoje vejo a importância do ato de ler.
Tivemos que nos mudar. Minha tia Maria morava aqui em São Vicente, viemos morar com ela, alugamos um barraco. Morávamos eu, minha mãe, minha irmã, e minhas tias com a tia Maria e começamos uma nova história. 
Aqui era tudo diferente. Voltei a estudar, mas fui para o primeiro ano, não sei porque. Minha mãe trabalhava, eu tomava conta da minha irmã, que quando começou a estudar, era eu que lhe ensinava as lições. Lembro-me de fazer as famílias silábica em cartolina e brincar de formar palavras, tomava a leitura, acho que eu já estava no caminho para a Pedagogia. Hoje, ela é formada em Ciências Contábeis, é uma excelente professora de reforço da aula em casa para minhas sobrinhas, que são feras como a mãe. Hoje, até alfabetização para adulto em casa ela faz.
Se trabalhássemos em cima do cotidiano das crianças, em vez de seguir os livros didáticos, iniciando desses conhecimentos do dia a dia com eles, talvez fosse mais fácil para o entendimento do conteúdo. Por isso, Paulo Freire nos ensina uma grande lição: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”.
Retomando a atividade de leitura da carta em alemão, que gerou esta produção escrita, compreendo que o gênero textual escolhido pela professora foi uma carta, que pode ser formal ou informal dependendo da pessoa ser culta ou uma pessoa amiga. A carta começa com uma saudação ao destinatário, depois o corpo da carta, e por último o desfecho. Com essa escolha, a professora teve a intencionalidade pedagógica de facilitar nossa “leitura”, já que carta é um gênero que sabemos reconhecer com facilidade.
A segunda atividade proposta foi a leitura do texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, que nos fez refletir sobre o que é a leitura e como estamos ensinando a leitura para nossos alunos. Será que respeitamos seu aprendizado, sabemos o que eles sabem ou ignoramos tudo e introduzimos a leitura sem respeitar seus saberes?
A meu ver, a professora Rosana quis nos colocar no lugar de nossos alunos para que nos sentíssemos como eles, e também não ignorar o resultado dessa introdução, como ela fez, nos ajudou a refletir, guiando-nos na reflexão do que fazemos? Como fazemos? Com nossos alunos, seguimos esse caminho de pensar, refletir e guiá-los até o sucesso. Percebo, então, que tenho muito a aprender com meus alunos e comigo mesma.
Nesse sentido, Madalena Freire nos faz compreender que o professor precisa observar, registrar e refletir, porque, fazendo esse percurso, é que poderemos refletir de como está sendo nossa prática na sala de aula.
Quando registramos sobre o nosso fazer pedagógico, nos questionamos e pensamos de como isso está sendo praticado. Se o que fazemos tem um significado para nossos alunos, ou melhor dizendo, se eles estão aprendendo ou não. As respostas dessas questões só teremos quando avaliarmos nossos planejamentos, refletirmos e aprendermos com os resultados.
Foi mais ou menos o que ocorreu nesta atividade, desde a primeira até a terceira tarefa de escrita e revisão de texto, em que tive que refletir sobre o que li, sobre minhas memórias e fazer uma ponte entre os textos e minhas lembranças de aprendizagem. Tudo isso só foi possível com a leituras dos textos de Paulo Freire e de Madalena Freire.

Rosa Maria de Deus Jorge
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

O desafio de uma atividade inusitada

Na primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, as meninas da sala de aula me contaram que a professora Rosana surpreendeu a todos com uma atividade muito interessante.
Nesse dia, faltei por motivos particulares e isso, de certa forma, me prejudicou bastante, mas com as orientações e a paciência da professora Rosana, Mestra em Língua Portuguesa, e com toda a sua competência, pude dar início à minha tarefa. Na sala de aula, fui perguntando para as alunas sobre a atividade e elas me contaram que a professora entregou um texto em outro idioma e pediu para que todos o lessem e foi o maior reboliço.
Em casa, sozinha, quando tive contato com o texto, me senti frustrada, por causa da minha total falta de habilidade com outros idiomas. A princípio, diante da minha frustração com o texto “Carta em Alemão”, pude sentir na pele a minha total falta de compreensão na leitura. Foi estranho, parecia que não sabia ler, no papel eram apenas palavras sem significados, mas com significados para pessoas que dominam esse ou aquele idioma.
Após a leitura de “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, quando estava escrevendo este texto reflexivo, percebi que não se trata apenas de saber outros idiomas, esse desafio vai além. É buscar soluções, e não se sentir frustrada ou culpada por não saber outras línguas (lembrando que conhecimento nunca é demais). É buscar outras possibilidades para a compreensão do texto, pesquisando, perguntando, enfim, procurando informações para que, de alguma forma, encontre a resposta ou, pelo menos, chegue perto dela. Paulo Freire nos explica que a linguagem e a realidade se prendem dinamicamente, para que a compreensão do texto seja alcançada, na sua criticidade das relações do texto e o contexto, ou seja, é preciso que o sujeito utilize sua experiência de vida, sua vivência, aprendendo a fazer a leitura da palavra escrita, a partir de sua “leitura de mundo”.
Por isso, ao ler Paulo Freire, fiquei muito sensibilizada quando o autor relata seus momentos iniciais de leitura, que primeiro nasceram de sua experiência existencial, leitura do seu pequeno mundo, a leitura da palavra, buscando a compreensão do ato de “ler” e a capacidade de perceber suas relações com o outro.
Paulo Freire me fez refletir sobre minha trajetória pessoal com a leitura e a escrita. Quando criança, gostava muito de ler histórias em quadrinhos, a famosa “Turma Da Mônica”. Os meus pais não tinham o hábito de comprar livros, os que eu tinha eram emprestados, mas não era comum me ver lendo aqueles livros, eu não tinha ideia “da importância do ato de ler”.
Eu lembro bem do meu primeiro dia de aula, estava tão feliz, eufórica, não via a hora daquele portão abrir. Tenho em minha memória a primeira letra que escrevi no caderno, mal sabia pegar no lápis, me recordo da minha alegria de conseguir copiar as bolinhas e pauzinhos que a professora escrevia na lousa.
Quando fui para a segunda série, tive muitas dificuldades, lembro-me da primeira palavra que a professora mandou eu ler na lousa, diante de uma sala lotada de alunos. Naquele momento, fiquei olhando para a palavra e fiquei tão nervosa e tão envergonhada, porque eu ainda não sabia ler, só conhecia as letras. A professora perguntou para a sala qual era a palavra e a maioria dos alunos respondeu, bem alto e com eco em meus ouvidos: “– É limão professora!”.
Como futura docente acredito que posso trabalhar a linguagem oral e escrita, juntando esse aprendizado à realidade do meu aluno. Paulo Freire nos relata todo o processo antes de ser alfabetizado. Ele fala de sua compreensão de ler o mundo, em que ele vivia momentos que faziam parte de sua infância, experiência vivida no momento em que ele ainda não lia as palavras e da importância do trabalho de seus pais, no seu processo de alfabetização.
A Atividade de leitura e escrita que a professora desenvolveu conosco “Carta do Alemão” foi muito interessante do ponto de vista didático-pedagógico. Segundo Madalena Freire, posso compreender que a professora nos proporcionou momentos de criar, questionar, buscar significados e perguntar. Dessa forma, com base no texto da autora, “Observação, registro, reflexão”, a professora Rosana usou teorias que podem embasar esta atividade como o sociointeracionismo e construtivismo, porque pudemos pensar junto com o outro, num “grupo coordenado por um educador, construindo novas hipóteses na interação com o outro” (M. FREIRE). Assim, como diz Madalena Freire: “A ação, a interação e a troca movem o processo de aprendizagem”.
Com esta atividade, posso afirmar que
, enfrentando todos os meus medos e inseguranças, pude criar, pensar, pesquisar e fazer algo para a construção de minha ação pedagógica.
Aqui fica o meu agradecimento por palavras tão belas que recebi por e mail, pelo incentivo e por acreditar em minha competência que, por um momento, nem eu mesma acreditava. Aqui deixo o meu muito obrigada para a professora Rosana Pontes.

Ângela do Nascimento Oliveira
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

Ninguém nasce vazio, cabe a nós escrevermos a história


Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada: nos foi entregue uma folha com um texto em Alemão.
De primeiro momento, algumas alunas comentaram que a tarefa havia sido feita por engano, já que sua escrita estava em outro idioma. Confesso que me senti confusa e um tanto que perdida, já que não conseguia entender qual a proposta daquela atividade. Passados alguns minutos, conseguimos identificar algumas características do gênero textual.
Durante o exercício de leitura, ao receber o texto, me senti como uma criança ainda não alfabetizada, tendo contato com a língua escrita. Por se tratar de um idioma desconhecido, não consegui realizar a leitura, ou melhor, não consegui fazer a junção das letras para formar uma palavra ou frase, mesmo que, no decorrer do texto, houvesse algumas palavras com a escrita da mesma forma que o idioma utilizado em nosso país, o Português.
Assim como uma criança que procura uma imagem para fazer a leitura, procurei por meios de identificar o gênero textual que, neste caso, tratava-se de uma carta comercial, embora o conteúdo em si não tenha sido compreendido devido à falta de conhecimento do idioma alemão.
Essa atividade me fez questionar: seria fato a criança ou adulto aprender a ler somente ao ingressar em uma instituição de ensino?
Acredito, conforme Freire, que a criança ou adulto, ao chegar num ambiente escolar, carrega consigo uma grande bagagem: as experiências vividas em seu cotidiano, isto é, seu conhecimento do mundo.
Freire afirma, em seu livro A importância do ato de ler, que a primeira leitura é a que circunda a criança no seu dia a dia, em seu convívio com os pais, avós, irmãos, ou seja, o mundo no qual ela está inserida. Ao contrário do que muitos pensam, a leitura já acontece muito antes de se aprender a decodificar as letras ou codificar uma frase, já que a criança ou adulto, antes de ingressar em um convívio escolar, carrega consigo sua experiência existencial.
Segundo Freire, a alfabetização, precisa ser realizada pelo professor na escola, de modo que a experiência existencial, por parte dos educandos, faça junção com a experiência proporcionada pelo educador, facilitando assim a escrita da língua oral. 
Sendo assim, a leitura do mundo volta em forma de leitura já codificada. 
No texto que nos foi dado em aula, no qual tínhamos a tarefa de realizar a leitura em grupo, por alguns momentos, nos sentimos, eu e meu grupo de companheiras, perdidas, como crianças entrando em contato com o mundo da leitura e da escrita. Mas, com nossas experiências existenciais, como nos explica Paulo Freire, conseguimos compreender que se tratava de um idioma desconhecido: Alemão. Após algumas explicações dadas pela professora, conseguimos ir analisando o texto. Desta forma, o nosso conhecimento foi se entrelaçando com o fornecido pela professora, concluindo assim nossa “leitura”, ainda que superficial. Desta mesma forma, ocorre com as crianças e adultos, ao ingressarem em um convívio escolar.
Cabe ao professor observar e analisar o seu grupo de alunado e trabalhar, de forma que a criança ou adulto venha expor seu conhecimento de mundo, para que seu ingresso ao mundo letrado venha a ocorrer de uma forma prazerosa e produtiva.
Sobre o trabalho do professor, Madalena Freire nos explica que, no dia a dia, enfrentamos um processo de criação na prática educativa, lidando com o inusitado. Ao nos depararmos com uma sala repleta de alunos, cada um com sua cultura, seu conhecimento de mundo, cabe ao professor uma abordagem interativa, lendo a realidade de seus alunos, buscando informações para organizar seu fazer pedagógico. O fazer pedagógico é além de ensinar a ler e escrever e sim interagir com seus educandos para obter, assim, a troca de conhecimentos.
Segundo a autora, é de suma importância que o professor registre sua prática, ou melhor, seu viver pedagógico. Esses registros não servem apenas para relatar como foi a aula, mas, principalmente, para que o professor reflita sobre suas ações pedagógicas.
Madalena Freire nos afirma que a reflexão registrada tece a memória, a história do sujeito e de seu grupo. Esses registros reflexivos servem para que o professor avalie o que aconteceu em classe, o desenvolvimento dos alunos, além de ter um registro para acompanhar o desenvolvimento do grupo como processo de ensino e aprendizagem, as observações, exemplos de atividades. Desta forma, caso necessite, poderá rever seu fazer pedagógico. Esses registros podem ser válidos para planejamentos futuros, e mais, registrar fazeres que podem se tornar grandes histórias.
Durante todo este processo, pude analisar que a criança carrega consigo um conhecimento existencial, como nos afirma Paulo Freire, e que cabe ao professor analisar seu grupo de alunado, registrando toda sua ação, assim como o desempenho de seus alunos, como nos afirma Madalena Freire: “ao compartilhar nossos registros, aprendemos a pensar junto com o outro”.
Portanto, a atividade “carta em Alemão” foi apenas um pretexto para desenvolvermos esta síntese reflexiva que envolveu a complexidade do pensar crítico.
A teoria que pode embasar esta atividade é o sociointeracionismo, porque houve uma interação, em que a aprendizagem foi construída com a interação dos sujeitos e do meio.
Concluo, citando Madalena Freire:
"Aprendemos porque damos significados à realidade, porque buscamos, desejamos desvelar o porquê do que não conhecemos. Toda busca de saber nasce de uma inquietação. Onde o criar, o sonhar, [...] possa ir sendo instrumentalizado por um educador possibilitando assim um pensar e um fazer criativo".

Kelen de Jesus Silva Dutra (7º semestre Pedagogia PARFOR)

domingo, 29 de março de 2015

A arte de ler e escrever a própria história

Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada: a leitura de um texto em outro idioma. 
A princípio, me senti confusa diante de tantas palavras desconhecidas. Por não dominar o idioma alemão, busquei decifrar e arriscar o significado de algumas palavras, para poder compreender qual o assunto tratado no texto. Ao discutir com os colegas de classe quais poderiam ser as hipóteses sobre aquele incógnito texto, nossos conhecimentos prévios nos auxiliaram.
No primeiro momento, não sabíamos que se tratava de um texto em alemão, mas por meio de nosso conhecimento enciclopédico, ou seja, “leitura de mundo”, como nos explica Paulo Freire, mesmo não dominando o idioma citado, chegamos à identificação juntos. Em seguida, foi preciso acionar nossas habilidades textuais, para chegar à conclusão de que se tratava de uma carta de emprego.
A atividade proposta pela professora nos mostrou que, para ler, é preciso muito mais do que decodificar palavras. É preciso que haja uma interação entre o texto e o leitor.
Paulo Freire diz, em A importância do Ato de Ler, que “a leitura de mundo procede a leitura da palavra”, ou seja, a leitura da palavra só fará sentido para nós quando for significante. A mesma coisa acontece com nossos alunos, no processo inicial de alfabetização.
O aluno traz consigo suas experiências culturais, por isso, já tem essa “bagagem” de mundo, e mesmo não sendo alfabetizado, desconhecendo os signos e a decodificação, sabe o que se passa, pois está inserido no mundo.
As experiências trazidas por ele representam sua “leitura de mundo”. Então, pode não saber fazer a leitura convencional da palavra, mas tudo o que viveu será significante no processo de construção de sentidos. E é por meio dessa “leitura de mundo” que estabelece relações com o que posteriormente irá ler. 

Considerei a carta em alemão um ótimo exemplo, para fazer essa associação com o que Paulo Freire afirma.
Analisando a leitura e a atividade de escrita, geradas a partir da carta em alemão, foi possível perceber que a didática e a metodologia devem estar em sintonia uma com a outra, embasadas em teorias educacionais, como por exemplo: 1. O sociointeracionismo se deu quando a professora permitiu que fizéssemos a troca de conhecimentos no início da atividade. 2. Os gêneros textuais permearam toda a atividade. Primeiramente, nos foi oferecida uma carta, gênero de fácil reconhecimento que nos ajudou na “leitura”; a seguir, nos foi solicitada uma síntese reflexiva, um gênero mais complexo que nos desafiou a desenvolver o pensamento crítico sobre o que lemos e produzimos por escrito. 3. Toda a sequência didática preparada pela professora nos ajudou a melhorar nosso nível de letramento com relação a textos acadêmicos, nos preparando para o TCC, bem como para uma análise mais crítica de nossa prática docente.
Ainda analisando a atividade do texto em alemão, podemos relacionar com o que Madalena Freire fala sobre a importância da interação entre o educador e o educando. A aprendizagem se dá por meio dessa movimentação e de diálogo que nos fazem refletir e aprofundar ideias.
A autora também fala da importância de registrar o pensamento, pois essa prática permite que, em um outro momento, possa haver uma revisão e um aprofundamento do que foi pensado.
Ao ler as palavras de Madalena Freire, confesso que me senti envergonhada por ser uma educadora e ter encontrado tantas dificuldades em registrar meus pensamentos.
Recordei-me da infância, quando ganhei um diário. Escrevia todas as noites, relatava, naquela linda agenda cor de rosa, tudo o que me acontecera durante o dia. À medida em que fui crescendo, fui perdendo o hábito de registrar meus dias. A era da internet chegou e foi tomando o lugar dos “velhos, queridos, diários”.
Talvez nossos alunos não tenham mais os diários, mas ainda existem outras ferramentas, por meio das quais é possível que eles registrem seus pensamentos, por exemplo, este blog do qual participamos com a professora Rosana e que se constituiu em um grande diário de bordo do curso, nos ajudando a praticar o registro reflexivo, tão importante para nossa prática docente.
Esse exercício de registro do pensamento nos permite guardar aquilo que, de alguma forma, faz parte de nós e deve ser contínuo. Na nossa prática pedagógica, escrever é algo indispensável e devemos despertar em nossos alunos esses prazeres que são a leitura e a escrita.
Só praticando os exercícios da leitura e da escrita, seremos capazes de escrever e compreender nossa própria história.

Elza Helena Costa (7º semestre Pedagogia PARFOR)

sábado, 28 de março de 2015

Leitura e escrita: a eterna busca pela luz do entendimento

Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa II, fomos instigados pela professora a fazer a leitura de uma carta em alemão, algo muito inusitado para nós.
Porém, durante o exercício de leitura do texto, o estranhamento foi dando lugar à curiosidade e, ao analisar com mais atenção, começamos a “garimpar” palavras semelhantes a nossa língua materna e caminhamos nesse sentido. Até nos deparar com a palavra “leite” que nos indicou cautela, ao somente lançar mão desse recurso estratégico, pois temos no nosso restrito conhecimento do vocabulário alemão que a palavra leite é bem semelhante à palavra “milk”, devido a uma famosa marca de vinho branco alemã que usa a palavra “milch”. Além de algumas outras palavras semelhantes ao inglês.
Ler não significa só decodificar o conjunto de letras e inferir sentido a partir delas, mas também trazer toda bagagem cultural e antecipações do que o texto vai tratar, pensando que ele está restrito a um tema, no caso da nossa atividade, um e-mail curricular, trazendo somente vocabulários alusivos ao seu objetivo.
Mobilizamos nossos reconhecimentos de língua materna e da língua universal e suposições das delimitações que um assunto traz, quase sempre não fugindo do lugar comum. Claro que um melhor conhecimento da língua alemã daria mais rapidez e fundamentação mais concreta de uma compreensão de leitura, mas mesmo não tendo estes instrumentos, chegamos ao mesmo objetivo pelo caminho das estratégias de leitura.
Paulo Freire, em “A importância do ato de ler”, reflete sobre a compreensão do ato de ler não esgotada na decodificação pura da escrita, seja na forma grafada ou falada, como mostram na linguística os estudos teóricos de Ferdinand Saussure sobre significado e significante. Freire enfoca a antecipação do conhecimento de mundo, a bagagem cultural que o indivíduo adquiriu durante sua vida.
No texto em alemão, buscamos garimpar na memória as semelhanças das palavras em nossa língua materna, e/ou numa outra que conhecemos e recriamos estes códigos semelhantes, com base no que já conhecemos previamente e, como num “quebra cabeça”, tramamos as peças que facilitam a compreensão do contexto, fazendo relações com o que deixem mais límpidas as nossas suposições, antes de nos embrenhar no texto, como diz Paulo Freire “o meu mundo imediato”.
Usamos a “garimpagem” no início da busca, mas sem notar que, ao longo do texto, a ação se torna um ato arqueológico, como descreve Freire, no seu texto sobre a importância do ato de ler, com base em suas experiências de vida. Não de uma forma vazia, partindo de um indivíduo para um receptor, e sim a construção do contexto e da compreensão vir do próprio universo do agente, expressando todas as inquietações de sua realidade.
O enfoque está na perspectiva da redescoberta cultural que faz parte da função humana, enquanto ator da prática na transformação do seu próprio mundo, e os desafios de descortiná-lo, utilizando o conjunto de ferramentas advindas do processo inerente ao ser praticante da observância instintiva, que é também naturalmente humana.
Já Madalena Freire, na Série de Seminários “Observação, Registro, Reflexão: Instrumentos Metodológicos I”, nos apresenta a arte de educar alicerçada no ensinar, criar e educar. A importância do registro do professor, agente que já passou pelo enfoque que vimos em Paulo Freire acima e a agora irá atuar como o escriba da sua prática e, por conseguinte, será o crítico de seu próprio fazer didático pedagógico. A politização da Educação engajada em métodos teóricos, trocando o ato de ensinar por fazer arte, o mesmo acontece com o de criar em dar ciência, e mais ainda, o de educar em fazer política.
Na sua prática de ensinar, o educador é o gerador da ciência da educação. A autora fala em dar forma aos nossos desejos “para desenvolver o esforço na educação do desejo que traz o germe da paixão”. Formatar não seria talvez o vocábulo adequado e sim outra que dê sentido à concepção Freireana do homem como ser inacabado, mas receptor e observador das transformações à volta do seu mundo e disposto a atuar nessa metamorfose.
Registrar as redescobertas faz parte imprescindível da construção da consciência pedagógica e política do educador. Criar suas práticas, dando assim vazão ao ato de fazer com o alicerce na reflexão, no verbal e não verbal. O educador é o sujeito-autor, educado para tal tarefa, que não é das mais fáceis, mas muito importante, como já afirmamos, na busca do conhecimento, seja na ação, interação e troca no processo de aprendizagem com outros educadores.
Permitir-se estar no mundo das lembranças e dar a elas um novo olhar crítico, trabalhando o pensamento, por meio da reflexão, faz com que o educador não seja um mero copiador de teorias e sim um agente irrequieto cheio de “por quês e porquês”, pois é capaz de ser agora um sujeito-pensante e produtor de memórias, tecedor do seu próprio fio, de sua história, pensamentos, teorias e práticas, ou seja, um estudioso da ciência educacional, na sua plenitude de observador, escriba, pensante reflexivo, avaliador e arquiteto de sua própria prática sociointeracionista.
Por meio das reflexões tecidas, nesta atividade, posso afirmar que a leitura e a escrita são para o sujeito lugares de eterna busca pela luz do entendimento. Ao mesmo tempo em que o conhecimento sacia as necessidades impostas pelo mundo letrado, faz com que saiamos da nossa área de conforto. É como a imagem da tempestade de areia no deserto, em que o caminhante tem dificuldades com a sua proteção sensorial natural. E, assim, lança mão de seus conhecimentos para enfrentá-la. 
Os registros são peças fundamentais, tanto nas lembranças, pois se transformam em bagagens que serão carregadas pela vida e utilizadas quando forem precisas, assim como a revisão escrita contínua e processual das práticas pedagógicas do professor. O profissional experiente sabe que caminhos e como trilhar com cautela e sabedoria, transformando o seu fazer educativo em frutos a serem colhidos por aqueles que estão sob sua responsabilidade e habilidades instrucionais.
Como conclusão, reconheço que a professora Rosana, ao nos propor esta atividade, que começou com a “leitura” da carta em alemão e terminou com uma síntese reflexiva, embasada em autores como Paulo Freire e Madalena Freire, teve a intencionalidade pedagógica de nos ajudar a desenvolver o pensamento crítico-reflexivo sobre nossa prática docente, que tem como preocupação nuclear o ensino da leitura e da escrita.

André Luiz Correa de Oliveira 
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

sexta-feira, 27 de março de 2015

Sobre a leitura e a escrita: reflexões, memórias, sínteses...


Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada: a leitura de um texto em outro idioma.
Houve, a princípio, grandes dificuldades de interpretação da leitura, por não haver entendimento do texto.
Foi necessário elaborar suposições, pois havia muitas possibilidades de hipóteses. Os alunos reuniram-se em grupos para tentar decifrar a leitura. Alguns usaram pequenos conhecimentos sobre outros idiomas, outros utilizaram leituras daquilo que imaginavam, sem terem certeza, com embasamento em gêneros textuais. Enfim, chegamos a um contexto geral, tratava-se de um texto em alemão, cujo conteúdo era o de uma carta de apresentação para emprego.
Essa atividade, aparentemente simples e sem sentido, nos ajudou a perceber que realizar uma leitura compreensiva é ler com total entendimento do texto. A leitura é um processo de compreensão de alguma informação. Ela envolve o conhecimento do vocabulário, frases, síntese e as habilidades do entendimento da leitura e escrita para interpretar as intenções do escritor. Portanto, para realizar uma leitura compreensiva é fundamental interpretar e analisar o que realmente encontra-se escrito, compreender as ideias, sua lógica e os enunciados. 
Paulo Freire, em “A importância do ato de ler”, nos explica sobre a importância da compreensão da leitura. Uma leitura quando bem contextualizada torna-se uma viagem ao tempo de nossas memórias. A leitura de Paulo Freire também me conduziu a refletir sobre minhas experiências com a leitura e a escrita, ao longo de minha vida.
Desde muito jovem, na verdade desde a minha infância, entendi a importância de saber ler e escrever, pois sou filha de pai apenas com ensino primário e de mãe analfabeta. Assim que me alfabetizei, me senti responsável em passar o meu pouco conhecimento para minha mãe. De início, a minha voz alfabetizada era mediadora em tudo na vida dela. Onde quer que fosse, lá estava eu, auxiliando-a: bancos, supermercados, consultas médicas etc.
O tempo passou, obtive mais conhecimento e hoje lendo o texto em que Paulo Freire relata: “Primeiro, a leitura do mundo, do pequeno mundo em que me movia, depois a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da minha escolarização, foi a leitura da palavra mundo”. Isto me fez reviver a vontade que me movia dentro do meu pequeno universo de alfabetizar minha mãe.
Segundo Paulo Freire, sua alfabetização aconteceu sob as folhas de uma mangueira. Isso me retorna à memória as tardes em que sentava com a mamãe a uma mesa improvisada, muitas vezes com a minha pequena mão sobre a dela, direcionando o traçar do seu nome sobre as linhas do caderno, o qual ela tinha como seu grande tesouro.
Hoje, não tenho mais a mamãe ao meu lado, amo Educação Infantil, mas sonho em dividir a minha carreira Pedagógica junto à EJA Educação para Jovens e Adultos, completando assim um ciclo inacabado da minha vida pessoal: o sonho de alfabetizar o mundo.
Retomando a atividade com a carta em alemão, Paulo Freire me faz compreender que linguagem e realidade estão entrelaçadas, sendo assim, para decifrar, entender ou interpretar um texto, não basta uma leitura superficial, é necessária uma leitura mais complexa.
Paulo Freire enfatiza que a alfabetização seja realizada por meio de palavras que tenham sentido para o aluno, sempre aos cuidados do alfabetizador.
Elaborando uma reflexão das minhas práticas pedagógicas, compreendi que o professor precisa ter a visão leitora do mundo como um todo, promover uma alfabetização que leve o aluno à compreensão do sentido da palavra, vinculando esse aprendizado à sua realidade, como resultado do que aprendeu, pois o que aprendemos só passa a fazer sentido depois de articulado ao conjunto de nossos conhecimentos. A leitura em sala de aula precisa ser encarada como um ritual de práticas diárias, fazer o aluno refletir criticamente, não necessariamente numa abordagem prática, mas numa visão esclarecida a respeito do mundo: o mundo da leitura.
É preciso que o aluno tenha a liberdade de desenvolver seu próprio conhecimento, a partir de sua realidade, buscar por si só, imaginar, construindo aquilo que faça sentido para o seu desenvolvimento.
Voltando a analisar a atividade do texto em alemão, percebi que a atividade nos fez desenvolver pensamentos lógicos e reflexivos, na sequência, nos colocou diante da interação com o outro. Assim surgiu uma linha de pensamento compartilhada, o que me retorna às palavras de Freire de que "ninguém ensina ninguém, aprendemos juntos".
Ao ler o texto de Madalena Freire, em seu livro “Observação, registro, reflexão”, foi possível compreender com maior clareza o que se faz necessário para um bom desenvolvimento em sala de aula, assim nos fala a autora: “Aprendemos a pensar junto com o outro, num grupo coordenado por um educador. Aprendemos a ler, construindo novas hipóteses na interação com o outro. Aprendemos a escrever organizando nossas hipóteses no confronto com as hipóteses do outro”.
Suas palavras me levaram a uma reflexão como educadora sobre minhas práticas pedagógicas desenvolvidas no cotidiano, sempre visando a levar o aluno à interação com o outro, proporcionando atividades que o direcione a criar e construir o seu próprio saber. Com esta interação em grupo, fica mais fácil desenvolver estratégias facilitadoras para uma maior compreensão do aluno, no desenvolvimento de práticas de leituras e registros de seu aprendizado. 
Segundo a autora Madalena Freire, “a ação, a interação e a troca movem o processo de aprendizagem. Função do educador é interagir com seus educandos para coordenar a troca na busca do conhecimento”. A autora destaca a importância do processo de ensino e aprendizagem, classificando-o como essência da vida, adaptando a vida do aluno à sua própria realidade. Essas informações nos levam a reconhecer a relevância de registrar essas criações, acompanhando, assim, o desenvolvimento dos educandos. Portanto, é de suma importância que nós, educadores, registremos nossas atividades pedagógicas. Sem esse registro, parte de nossa história fica perdida.
Segundo Madalena Freire, o aprendizado do registro é o mais poderoso instrumento na construção da consciência pedagógica e política do educador. Quando registramos, tentamos “guardar, prender fragmentos do tempo vivido que é significativo para mantê-lo vivo. Não somente como lembranças, mas como registro de parte da nossa história, nossa memória”. Através desses registros, construímos nossa memória pessoal que é também coletiva.
A partir da análise da atividade carta em alemão, com base nas leituras de Paulo Freire e Madalena Freire, compreendi que uma atividade, por mais simples que seja, precisa estar embasada pedagogicamente em aspectos didático-metodológicos recomendados por autores da área da educação.
Minhas reflexões me levaram a observar que a atividade carta em alemão envolveu aspectos teóricos como: primeiro, sociointeracionismo, em que o aluno interage em grupo, compartilhando ideias, construindo conhecimentos e colocando em prática suas habilidades; segundo, Gêneros Textuais, pois a atividade proposta carta em alemão é um gênero de fácil identificação que logo foi decifrada pelo grupo, e, por fim, a síntese reflexiva solicitada pela professora, a qual foi um grande desafio, uma nova aprendizagem do que realmente é síntese e o que é uma atitude reflexiva do escritor.
Escrever é uma arte, a arte de representar palavras, de expor ideias, de expor sonhos e transmitir pensamentos e ações em uma folha de papel, sentimentos que se misturam, sejam eles de amor ou de dor. Escrever também é relatar histórias de memórias outrora esquecidas. Escrever, assim como ler, é enriquecimento cultural.

Jovita Mendes dos Santos Adão 
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

Uma atividade didática de investigação sobre a leitura e a escrita

Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade bem inusitada, porém divertida, pois foi algo totalmente diferente. Uma leitura em uma língua estrangeira.
Logo de cara, quando recebi o texto, imaginava que era inglês, mas, ao ler as primeiras linhas, percebi que se tratava de um texto em alemão devido aos tremas e ao sotaque interessante que adquiri ao ler. Foi algo bem engraçado eu e minhas colegas de classe rimos bastante.
Dificuldades foram muitas, mas, com bastante calma, trabalhando em grupo, ao tentar interpretar o texto, fomos percebendo que se tratava de uma carta escrita por uma pessoa do sexo masculino. No decorrer da leitura, percebemos também que havia o envolvimento de uma empresa.
Assim, podemos dizer que ler um texto como esse foi um ato de decodificação e interpretação, juntar partes mais compreensíveis com aquelas praticamente não compreendidas. Usei todas as minhas habilidades de interpretação, como a minha competência leitora, com a qual comparei, analisei, relacionei e levantei hipóteses, para justificar e tentar contextualizar o texto.
De acordo com o texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra”. No caso do texto em alemão, usei também a minha habilidade da leitura de mundo, como reconhecer um currículo ou uma carta de recomendação. Se sempre praticarmos o hábito de ler, aumentaremos muito a nossa experiência existencial. Na verdade, aquela leitura foi algo novo pra mim, algo que nunca tinha visto, muito menos tentado ler, como um mundo novo apresentado a mim, como um mundo da minha primeira leitura.
Para Freire, a leitura do nosso mundo sempre será fundamental para a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrever o texto, e transformá-lo através de uma prática consciente. O ato de ler implica a percepção crítica, interpretação e “reescrita” do lido.
Acredito que a intencionalidade pedagógica da professora, ao aplicar tal atividade, foi valorizar uma atividade investigativa, um exercício reflexivo, que nos levasse a pensar e a elaborar hipóteses para, assim, adquirirmos novos conhecimentos sobre a prática pedagógica, usando uma metodologia que nos levasse a interagir com um texto, com outro texto e também com nossa vivência na prática da leitura e escrita. De acordo com o texto de Madalena Freire, "Observação, registro, reflexão", é enquanto reflito sobre o que vi que a ação de estudar extrapola o patamar anterior. Neste movimento podemos nos dar conta do que ainda não sabemos, pois iremos nos defrontar com nossas hipóteses adequadas e inadequadas e construir um planejamento do que falta observar, compreender, estudar.
As teorias que podem embasar esta atividade são: 1. O sociointeracionismo, porque nossa professora foi uma mediadora e estimuladora da nossa aprendizagem, incentivando nossa curiosidade e nossa vontade de aprender algo diferente e inusitado. 2. A teoria dos gêneros textuais, porque utilizou, incialmente, uma carta, que seria um gênero de fácil reconhecimento para nós, a fim de nos ajudar na “leitura”, mas depois pediu a escrita de uma síntese reflexiva, ou seja, um gênero textual mais desafiador, que nos forçou a dialogar com outros textos reflexivos, de Paulo Freire e de Madalena Freire. Assim, pudemos desenvolver uma atividade investigativa complexa.
A contribuição principal desta tarefa foi despertar em nós, alunos, uma percepção reflexiva e permitir-nos compreender o processo do conhecimento para investigar a prática e vice-versa. De fazer leitura de autores consagrados como Paulo Freire e Madalena Freire e pensarmos como nos portarmos melhor como educadores que somos.
Esse processo que vivenciamos nos leva a ter um olhar de amor para com os nossos alunos e também refletir sobre o significado e a importância de se construir uma postura investigativa e de dialogar com os saberes construídos no cotidiano das práticas pedagógicas.

Samantha Mendes Adão Aguiar
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

quinta-feira, 26 de março de 2015

Um olhar diferente sobre a linguagem escrita e o mundo

Na nossa primeira aula de Conteúdos e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada. 
A professora distribuiu um texto em outra língua. No primeiro momento, ficamos assustados, mas depois fomos percebendo o que falava o texto. A princípio, me senti perdida, não entendia nada do que estava escrito, pois o texto estava escrito em alemão, me senti como uma criança que ainda não sabe ler. Até tentei decifrar algumas palavras, mas foi muito difícil. Agora eu sei o que uma criança pequena sente, quando nós professoras damos livros sem imagens.
Para mim, ler significa entender o que está sendo lido, na verdade a leitura foi feita com toda a turma da sala e cada um foi dando a sua opinião. E descobrimos que se tratava de uma carta comercial. O que faltou, para eu fazer a leitura mais aprofundada, foi compreender o sentido das palavras do texto.
Segundo Paulo Freire, no texto “A importância do ato de ler”, a compreensão do texto e do contexto precisa ser alcançada por meio da leitura crítica que implica a percepção de relações de sentidos. Para aprofundar essa compreensão, o autor relata também um pouco sobre a sua infância, em que gostava de ler em meio à natureza e era isso que lhe inspirava.
Paulo Freire busca compreender o ato de ler, por meio das lembranças de sua alegre infância. Fala também que foi alfabetizado no quintal da sua casa pela sua mãe e que aprendeu a ler observando tudo o que acontecia a sua volta, por isso o seu amor à leitura. Ele ainda explica que a leitura da palavra não é apenas feita pela leitura do mundo, mas de escrevê-lo ou reescrevê-lo através do que fazemos de nossa prática.
Paulo Freire ainda descreve nesse texto a luta dele pela alfabetização de adultos. Fala sobre as dificuldades dos alunos em interpretarem textos. Quando ele se referiu à interpretação de texto, parecia que eu estava me vendo, porque eu tenho uma grande dificuldade para interpretar textos, mas aos poucos eu vou aprendendo. Cito uma frase de Paulo Freire: “A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral”.
Para ressaltar a importância da escrita para a prática do professor, Madalena Freire explica que o educador lida com a arte de educar e que o instrumento de sua arte é a Pedagogia. É no seu ensinar que se dá sua aprendizagem de artista. Na concepção de educação de Madalena Freire, este educador faz arte, ciência e política. “Faz política quando alicerça seu fazer pedagógico a favor ou contra uma classe social determinada; faz ciência quando apoiado no método de investigação científica estrutura sua ação pedagógica; faz arte porque cotidianamente enfrenta-se com o processo de criação na sua prática educativa, onde no dia a dia lida com o imaginário e o inusitado”.
Para a autora, o ato criador é o processo de dar forma, dar vida aos nossos desejos. O escritor registra seu fazer pedagógico, questionando-o, perguntando-se sobre as hipóteses do seu pensar. Pois, quando registramos, tentamos guardar, prender fragmentos do tempo vivido que nos é significativo, para mantê-lo vivo. Através destes registros construímos nossa memória coletiva e pessoal. Fazemos HISTÓRIA.
A autora realça que quando escrevemos, desenvolvemos nossa capacidade reflexiva sobre o que sabemos e o que ainda não dominamos. Com certeza, o educador é um alfabetizador a partir do momento em que ele não lida só com a linguagem escrita, mas também com outras formas de linguagem, com que o educador entra em contato com seu processo educativo, seja verbal ou não-verbal, e com a aprendizagem do fazer, do ler, do pensar, do expressar e comunicar ideias e sentimentos.
A autora enfatiza: “aprendemos a pensar junto com o outro, num grupo coordenado por um educador. Aprendemos a ler, construindo novas hipóteses na interação com o outro, ou seja o educando aprende com o educador e vice- versa. A função do educador é interagir com seus educandos para coordenar a troca na busca do conhecimento”. Cito ainda uma frase de Madalena Freire: "A pergunta é um dos sintomas do saber. Só pergunta quem sabe o que quer aprender".
Ao finalizar estas reflexões, compreendo que a atividade que desenvolvemos a partir da carta em alemão envolveu importantes aspectos, tais como: 1. A professora utilizou o sociointeracionismo, embasada em Vygotsky, quando promoveu o trabalho coletivo, de modo que, nos grupos de trabalho, uns fossem mediadores de conhecimento dos outros. 2. Usou a teoria dos gêneros textuais, quando nos fez reconhecer na leitura inicial uma carta, bem como nos desafiou a escrever uma síntese reflexiva das aulas, dialogando com textos de autores e os relacionando com esta atividade escrita. 3. Promoveu o desenvolvimento do nosso nível de letramento, nos preparando para a escrita de textos mais elaborados e acadêmicos, como o nosso TCC.
Portanto, considero que esta atividade de leitura e escrita foi bastante complexa e compreendeu muitos aspectos didático-metodológicos, nos ensinando, principalmente, a desenvolver o pensamento crítico reflexivo.

Maria do Carmo Gomes Conceição 
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

Refletindo sobre a importância da leitura e da escrita na prática docente

Na primeira aula, no 7º semestre do curso de Pedagogia, da disciplina de Conteúdos e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada.
Pediu que formássemos grupos de três integrantes. Logo depois, entregou um texto para realizarmos uma leitura. A atividade era para incentivar os alunos à leitura de um texto aparentemente incompreensível, a seguir, à discussão sobre o que é ler e sobre aspectos didático-metodológicos envolvidos na atividade proposta.
A princípio, quando nos deparamos com o texto, ficamos assustados, pois estava escrito em um idioma que desconhecemos, não sabíamos discernir se a escrita era em Francês, Inglês ou Alemão. Ao tentar realizar a “leitura”, mesmo que superficialmente, percebemos que havia palavras semelhantes ao Português e que a língua era o Alemão.
Observamos que era preciso acompanhar a próxima linha para poder identificar essas palavras que são também do nosso vocabulário. Os alunos do grupo tentaram ler o texto, mas encontraram dificuldades de compreender a escrita. No entanto, na nossa discussão, descobrimos que se tratava de uma carta. Houve muita dificuldade de entendermos a que assunto a carta se referia. Uma aluna dizia que parecia com um recado para um amigo, o outro dizia que parecia com um pedido de emprego.
Para se conseguir uma boa leitura é preciso saber decifrar, compreender e dominar bem o vocabulário e buscar conhecimento cultural prévio. Faço essa afirmação, a partir de Paulo Freire, em “A importância do ato de ler”, quando o autor explica que a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
Com base em meus estudos no curso de Pedagogia, compreendo que as habilidades cognitivas e o processo de codificação e decodificação das palavras são construções de um longo tempo de aprendizagem do código linguístico. Faltou-me compreender o texto que foi escrito em alemão, pois desconheço esse idioma. Foi preciso recorrer ao meu processo cognitivo prévio para poder estabelecer um diálogo (mesmo que superficialmente) com o texto em um idioma desconhecido. Por isso, ler não é apenas decodificar, mas, como nos ensina Paulo Freire, ler significa conhecer a regência verbal, a síntese da concordância, o problema da crase, o inclitíssimo pronominal, mas, principalmente, apreender a profunda significação do texto.
A atividade com a carta em alemão e a leitura de Paulo Freire me fizeram recordar minha infância. Relembrar uma experiência maravilhosa que vivi e que foi marcada por fatores sociais determinantes. O lugar em que morava, um sobrado de bloco, próximo ao morro de Barro Vermelho. Somos uma família de seis irmãos, dois homens e quatro mulheres. Meu pai trabalhava o tempo todo, tanto fora de casa, como na própria construção do sobrado.
Lembro que minha mãe não parava em casa e deixava os irmãos mais velhos para cuidar dos mais novos. Meus pais não tinham tempo para nos educar, não existia diálogo entre nós, éramos livres para fazer o que queríamos. Meus irmãos, na hora de dormir, liam grandes clássicos, como, Bambi, João e Maria, Rosa Vermelha, lendas da Mula sem cabeça, Boi Tatá, Saci Pererê, Narizinho etc. Este contato com a leitura foi muito importante para meu desenvolvimento como futura leitora. Sobre este aspecto, refleti, a partir de Paulo Freire, que, no esforço de retornar a infância distante, “buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia”, permitiu-me refletir sobre o que “re-crio, re-vivo no texto que escrevo a experiência vivida no momento que ainda não lia a palavra”.
Ao voltar ao passado, vejo o quintal de casa rodeado de plantas, onde apareciam pequenos insetos, borboleta, pássaro e a joaninha, e eu não tinha medo de pegá-la. Permitia que andasse em volta de minha mão, às vezes soprava para ela voar sobre as folhas. Esta liberdade me permitia brincar de várias formas, brincadeiras de esconde-esconde, casinha de boneca. Como relata Paulo Freire, é como se eu estivesse fazendo agora a arqueologia de minha compreensão do complexo ato de ler, ao longo de minha experiência existencial. O contato com as mais diversas situações me permitiu um pré-conhecimento da leitura em sala de aula, que agora vivencio.
Minha mãe me acordava logo cedo para comprar pão no bar mais próximo de casa. O caminho era longo, o chão com terra batida, o cano da Sabesp de água para cima da rua. Vendo-me nesse bar, percebia a grande quantidade de produtos que lá vendiam sempre me peguei olhando para tudo, mas não tinha coragem de entrar nos corredores das mercadorias. Ao ver aquele baleiro cheio de diversas balas, esperava ansiosa o troco do pão para comprar uma bala soft, um saquinho de mini chicletes, ou um Dipn-lik e outros, dependendo da quantidade de moedas. Ainda não era alfabetizada, mas conseguia ler as imagens das embalagens e até contar as moedas. Naquele momento, não tinha ideia de que já estava fazendo uma leitura de mundo e me aproximando do universo da cultura escrita.
Essa experiência despertou o desejo de frequentar uma escola, pois sabia que lá se ensinava a ler e escrever. O tempo passou e me vem à memória a escola que frequentava.
Lembro-me que aos oito anos eu ficava maravilhada em saber que logo chegaria à escola. Uma escola grande com escadarias largas, em que, através da janela, observava o gramado ao seu redor. Entrando na escola, corríamos para realizar a fila e, após cantarmos o hino nacional e o hino da bandeira, a professora escolhia um aluno para levantar a bandeira do Brasil naquele lindo mastro. Começava construir, então, uma rotina escolar, entendendo que ambiente seria aquele para mim. Lugar para trazer minhas leituras prévias de mundo e transformá-las em “palavramundo”, conforme explica Paulo Freire,
Assim que a professora passava atividades com textos, me convidava para ir à lousa escrever. Eu não evitava, pois me sentia útil em escrever enormes textos e depois retornar à carteira e refazê-los no caderno. Aqui, refletindo a partir de Paulo Freire, compreendo que nem sempre esses textos tinham sentido para mim ou mesmo sequer traziam as palavras do meu mundo. Por isso, quando me deparei com o texto da carta em alemão, me senti tão assustada, quanto na escola, quando eu copiava textos enormes sem compreendê-los direito. Só que agora já detenho uma cultura da palavra escrita que me ajudou. Por exemplo, percebi que havia palavras em alemão semelhantes ao português.
Retomando ainda a leitura de minha infância, lembro-me que eu viajava na cartilha “Caminho Suave”, de Branca Alves de Lima. A imagem daquele menino e menina dando as mãos e, segundo a imagem me sugeria, o caminho me levava ao mundo da imaginação.Via como se fosse eu passeando por meio do bosque, para chegar até aquela escola. A leitura de Paulo Freire me fez perceber que a cartilha que me alfabetizou trazia palavras e textos longe do meu contexto, portanto sem sentido. O autor explica que os textos, as palavras, as letras daquele contexto precisariam se encarnar no contato com a minha vivência. 

A cartilha tinha imagens, letras que me permitiam relembrar a experiência da infância, mas desconhecia o significado daqueles símbolos. Naquela época ela se tornou o instrumento da escrita. Eu me lembro do pequeno texto, Barriga ba eu vejo a barriga do bebê, daí vinha a leitura das sílabas, ba, be, bi, bo, bu, que após se tornavam sílabas-geradoras, então iniciava-se o processo de alfabetização. A cartilha era um auxílio para ler e escrever, era preciso um processo de memorização. Para Paulo Freire, não basta um trabalho de memorização mecânica de ba, be ,bi, bo, bu, la, le, li, lo, lu, não é possível reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras.
O tempo foi passando, quando chegava a casa, deixava a bolsa na cama e corria para brincar nos morros ali por perto, procurando a plantinha chamada de Maria pretinha para comer (era uma frutinha preta doce, que ao mastigar a língua ficava roxa); a folha chamada de quatro trevos que azedava na boca; a plantinha dorme Maria, uma planta cheia de folhas pequenas, que, ao passar a mão, ela se fechava e demorava a voltar ao normal. O pé de jambolão que não podia encostar-se à roupa para não ficar manchada
Muitas foram as brincadeiras de rua que vivi, corre cotia, cabra cega, ciranda cirandinha, queimada, esconde-esconde, rouba bandeira, gosta deste, jogo de bolinha de gude, pião, amarelinha... São tantas que a noite era pouco para continuar brincando. Quando o tempo estava muito calor, os amigos se juntavam para furar aquele cano da Sabesp e assim todos podiam se molhar, naquele chuvisco que saia daquele pequeno buraco. Algumas vezes o buraco ficava tão grande que podíamos ver o arco íris entre as águas. Essas são experiências marcantes na minha leitura de mundo. Comparo-as com o que narra Freire: "Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto se encarnavam no canto dos pássaros [...]"
A partir dessa citação, posso refletir o quanto é importante a escola saber respeitar e valorizar os saberes que as crianças trazem de seus mundos. É isso que tento fazer como professora, por exemplo, ao elaborar uma atividade para produção escrita através de uma musiquinha, proponho aos alunos que circulem as letras consoantes no texto, após peço-lhes que escrevam seu nome na folha por terem conhecimento das vogais, na continuidade escolhemos uma letra que se encontra na música e realizamos a escrita de palavras. Como relata Paulo Freire, “tudo isso era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva”.
Entendo que a família, a escola, os amigos, a comunidade, os animais as plantas, os filmes, os desenhos, os brinquedos, a praia, tudo isso contribuiu para minha formação pedagógica. Por exemplo, com os exercícios de coordenação com a letra C com a musiquinha " Onda vai, onda vem, [...]"
Percebi que as ondas do mar também se movimentavam assim, pois eu sempre as usava para brincar de jacaré. Isso fazia sentido para mim e, assim como a musiquinha sugeria, eu criança realizava um movimento de agir e refletir. Compreendo, portanto, o que Paulo Freire quer dizer: "Este movimento dinâmico é um dos aspectos centrais, para mim, do processo de alfabetização".
São tantas lembranças que me encanto, não caberiam neste papel, ao escrever este texto, porque me vem o desejo de fazer tudo de novo. Hoje, me vejo como um ser histórico, cultural, inacabado, curioso, em processo de evolução, como define Paulo Freire.
Com esta reflexão, a partir do exercício Carta em Alemão e a leitura de Paulo Freire, voltei ao passado e reconheci que o vivido é de extrema importância no meu conhecimento de leitura e de mundo.
Hoje com a leitura e a escrita em sala de aula, compreender, interpretar e ler a Carta em Alemão, no momento em que a professora nos propõe uma atividade didática, para depois realizar uma tarefa escrita, isso faz com que eu reflita sobre o momento em que aplico um texto para os alunos da Educação Infantil. O sentimento de se aproximar do texto traz um desconforto interno de não conhecer os meios da leitura de outra cultura, como define Madalena Freire: “a reflexão registra, tece a memória, a história do sujeito e do seu grupo”, foi o que os alunos do meu grupo de trabalho sentiram durante a discussão. 
O mesmo acontece com os alunos na fase inicial de alfabetização, a reação do contato com o desconhecido. Através da explicação da professora, percebemos que vamos nos familiarizando e chegamos a entender que tudo faz parte da nossa vida, como relata Madalena Feire “o desafio é formar, informando e resgatando num processo de acompanhamento permanente, um educador que teça seu fio para a apropriação de sua história”. Por isso, a autora defende que o professor registre suas atividades cotidianas, de forma reflexiva, a fim desse registro tornar-se um importante instrumento metodológico.
Compreendo que o propósito do ensino é levar o aluno a desenvolver os seus conhecimentos prévios adquiridos na escolarização e em seu convívio social. Como relata Madalena Freire: “a questão não se resume em criar ambientes alfabetizadores na língua escrita, o desafio está em acompanhar o processo de re-alfabetização”. Logo, o objetivo é desenvolver e relacionar a prática do professor com o que o aluno já aprendeu culturalmente.
Desse modo, esta atividade de reflexão sobre a importância da leitura e da escrita, que nos foi proposta, atingiu importantes objetivos do ponto de vista didático-metodológico, como: praticar o sociointeracioniamo, quando trabalhamos e construímos conhecimentos coletivamente; utilizar gêneros textuais diversos, ao ler uma carta, escrever um memorial e uma síntese reflexiva; refletir sobre o ato de ler, dialogando com Paulo Freire; refletir sobre a importância do registro para o professor, dialogando também com Madalena Freire. Todos esses aspectos são importantes e necessários na nossa prática docente.

Jane Rosilda Santos Ferreira (7º semestre Pedagogia PARFOR)

Falando de leitura e escrita

Na nossa primeira aula de Conteúdos e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada.
A atividade foi aplicada em sala de aula, onde a professora propôs que os alunos lessem uma carta no idioma alemão, com a ajuda dos colegas de grupo. No início, procuramos um colega que é professor de inglês e que, por ironia do destino, estava no grupo, porém o colega guardou o segredo a sete chaves. Restou-nos fazer uma decodificação das palavras conhecidas e encaixá-las usando a imaginação.
Logo após o susto, percorri as linhas e percebi que algumas palavras eram de fácil leitura, porque eram semelhantes ao português e, com a ajuda dos meus colegas do grupo, chegamos à conclusão de que se tratava de uma pessoa pleiteado uma vaga de emprego, em uma conceituada empresa alemã.
Entendo que a compreensão do texto é muito importante, ler é atribuir sentido ao texto. E se não consigo atribuir sentido a esse texto, como vou compreendê-lo? Paulo Freire, em “A importância do ato de ler”, explica que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Assim, compreendo que é a minha leitura de mundo que trará sentido às palavras, justificando a ausência do meu entendimento nesse exercício da carta em alemão.
Dessa forma, as habilidades usadas para compreender o texto foram decifrar as palavras que eu não conhecia, encaixando com as de fácil compreensão, ou seja, aquelas semelhantes às da Língua Portuguesa. No entanto, a falta de domínio do idioma foi o que complicou a leitura e a fácil compreensão do texto. Com isso, percebo o quanto é importante conhecer outros idiomas e, principalmente, quão importante é ler, atribuindo sentido ao texto.
Sobre a construção de sentido no ato de ler, Paulo Freire nos ensina que esse ato não se constitui mecanicamente, mas dinamicamente com a construção de todos os saberes existentes dentro desse mundo. Ao ler o texto de Paulo Freire, remeto-me ao passado e às histórias que ouvia. Ao primeiro livro que me transportava para um novo mundo, em que eu me via dentro daquele barquinho amarelo, descendo naquelas águas. Era um livro do qual eu gostava muito, o título era “O barquinho Amarelo”, da autora Lêda Dias da Silva.
Era um livro que me fascinava pelas imagens que eram fáceis de entender. Uma história de um menino que construiu em barquinho de papel amarelo, soltou esse barquinho na correnteza de um rio e observava aquele barquinho deslizar sobre as águas, até sumir. Logo após a leitura, eu corria ao tanque de minha casa e colocava um barquinho, fingindo ser o mesmo da história, reproduzindo a leitura através de gestos.
A leitura não era das palavras e sim das figuras, que, de certa forma, me inspiraram para querer aprender a ler e dar significado a cada uma das palavras. Recordo da estante cheia de livros de minha casa, e folhear aqueles livros, para mim, era como se eu entendesse o significado das palavras, mais tarde descobri que aqueles livros eram tão complexos e a leitura era de cunho acadêmico. Meu pai sempre me dizia para ter cuidado com os livros para que durassem por mais tempo. Compreendo, por meio de Paulo Freire, que somos naturalmente seres curiosos, por isso, acredito que compreender o novo, principalmente o universo escrito é tão atraente para uma criança.
Retomando o assunto “leitura”, e seguindo o raciocínio de Paulo Freire, compreendo melhor o que venho observando com os meus alunos. Aprender a ler, escrever e alfabetizar, antes de tudo, é aprender o mundo e compreender o seu contexto. Isso não se dá por uma manipulação mecânica de palavras, mas através da linguagem e da realidade existente no mundo do indivíduo.
Conforme Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” e seu inicio se dá na infância, quando da convivência com a família, com os pais e irmãos mais velhos, vivenciando crenças em seu cotidiano, adquirindo conhecimento do seu mundo, por meio da transferência cultural, até os anos do início da alfabetização. As primeiras leituras de uma criança são os brinquedos, a mãe, as brincadeiras de roda, as canções, nas brincadeiras de feira, de mercado e de casinha. Ainda segundo o autor, “não podemos deixar de lado, desprezado, como algo imprestável o que as crianças, jovens e adultos trazem de compreensão do mundo, nas mais variadas dimensões de sua prática social” (FREIRE, 1993, p. 86).
A informação vem através da leitura e a leitura amplia o conhecimento, devastando tudo aquilo que chamamos de ignorância, mas como compreender um texto se o mundo que cerca o aluno é bem distante daquele a que a palavra se refere? Antes de tudo, o mundo do aluno tem que ser compreendido pelo professor, sendo primordial para o ensino que o envolva, induza e traga para esse aluno a realização para o seu aprender. Essa tem que ser “a paixão por conhecer o mundo”, segundo Madalena Freire, daqueles que nos cercam diariamente, bem como aquele que ensina precisa apaixonar-se por ensinar
A leitura, a escrita e a alfabetização devem ser feitas através do amor e principalmente da compreensão dos fatores existentes na sociedade. Quão bom é saber ler e ler com existência, com alma, sabedoria e ler com vivência. Como diz Paulo Freire: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação reflexão” (FREIRE, 1987, p.78).
Todo esse processo de aprendizagem passa por uma metamorfose. De acordo com Madalena Freire, “o ato criador é o processo de dar forma, dar vida ao nosso desejo”. Como criadores e educadores precisamos extrair do ser algo que mova a paixão por conhecer o mundo e principalmente educar a si próprio.
Aprendemos juntos na troca, em grupos e diariamente através de nossos registros. Para Madalena Freire “a ação, a interação e a troca movem o processo de formação permanente”. Ninguém aprende sozinho, nós aprendemos com o outro, com convivência com o outro, com a cultura do outro com as perspectivas do outro.
O registro de atividades do cotidiano possibilita-nos corrigir, rever, aprofundar ideias a respeito da nossa prática como educadores responsáveis, com o dever de planejar, observar e refletir sobre todo o mundo que nos cerca, pesquisando e abrindo horizontes para conhecer o novo, com suas lutas cotidianas e permanentes.
Afirma a autora: “O educador pensante reflete e pratica a autoria da sua reflexão, e assim registra com as certezas da vivência com o outro, das surpresas que o outro faz, e que aguçam a imaginação”.
Para maior compreensão, os registros são ferramentas que o educador tem para acertar e modificar sua prática docente, quando algo estiver fora do seu contexto, e assim buscar entender como resolver problemas e trazer as soluções.
Toda atividade segmenta-se num método. Na atividade proposta “Carta em Alemão” o método usado foi construtivista, o que fez com que o grupo buscasse algumas formas de entender o texto, mesmo tendo no grupo um mediador que nos ajudou na tradução de algumas palavras. Também foram importantíssimas as interversões da professora com a intencionalidade de nos auxiliar no bom desenvolvimento da tarefa, e, assim, pude compreender, com base em Paulo Freire e Madalena Freire, que vivenciamos três dimensões pedagógicas:
A política, porque a professora teve uma intencionalidade pedagógica clara, assumindo uma postura de educador que escolhe uma metodologia crítica para nos fazer pensar. Com isso, vencemos o desafio de conseguir entender o texto em outro idioma, quebrando o paradigma de que não é possível a leitura de um texto com palavras desconhecidas. É o pensar crítico, superando o pensar ingênuo, como nos diz Paulo Freire.
A científica, quando a professora nos estimulou a pesquisar e procurar métodos para entender o estranho texto, mas, principalmente, para realizar esta síntese reflexiva, embasada em autores críticos da área pedagógica.
A artística, quando nos incentivou a trabalhar com o imaginário e com as lembranças de nossas histórias de vida.
Quanto à didática utilizada nas atividades, considero boa, pois nos orientou na aprendizagem com muita eficiência, ajudando-nos a alcançar os objetivos predeterminados.
E, com isso, concluímos mais uma atividade complexa e crítica, “à sombra de uma mangueira”.

Fernanda Dal'Mas Sales da Silva 
(7º semestre Pedagogia PARFOR)