quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Esperteza infantil I


Tarde de janeiro. O sol que há pouco tudo escaldava começa a baixar no horizonte. A praia começava a ficar menos cheia: crianças pequenas correndo com seus baldinhos, praticantes de frescobol, idosos, caminhantes...
O mar, mais parecendo uma piscina salpicada de pontos de luz, tocava nossos pés e refrescava nossas almas. Estávamos eu e minha filha caçula à beira-mar caminhando e nos despedindo de mais um dia iluminado e quente. Muito quente...
Essa sensação me levou ao passado. Lembrei-me dos meus oito anos, ali naquele mesmo local, com meus pais e meu irmão. Sacola com frutas, água , biscoito, esteira de praia. Parecíamos lagartixas esparramadas ao sol... Ao fim do passeio, lixo todo recolhido. Éramos “farofeiros”, mas limpinhos! Ao contrário do restante da praia, onde o cenário era de se envergonhar. Centenas, talvez milhares de copinhos, latinhas, palitos de picolé e até coisas piores, rolando na areia. O vento se encarregava da dispersão...
De volta ao presente, olhando ao redor, percebi subitamente uma diferença: apesar dos mesmos cheiros e sensações, a praia estava diferente, estava bem menos suja! Coincidência ou não, com uma recente passagem dos varredores, não havia um copo sequer jogado na areia, nem palitos de sorvete pelas proximidades, nada. Só um ou outro gravetinho de árvore, coisa natural e uma porção de bitucas de cigarro espalhadas. Nada que chamasse muito a atenção. E comentei com a minha filha:
- Olha só, não tem nenhum copinho no chão, nada! Antigamente isso ficava a maior sujeira! Não fosse pelas bitucas de cigarro, a praia estaria limpinha... Sinal de que as pessoas estão aprendendo a respeitar os outros, recolhendo a sua sujeira e colocando no lixo.
Foi então que minha filha, na altura de seus dez anos, deu uma olhada ao redor e lançou uma observação que fez inveja à maturidade de muitos adultos:
- Mãe, eles ainda não aprenderam nada. Se fumam assim desse jeito, não aprenderam a cuidar nem da própria saúde, não respeitam nem o próprio corpo... Como podem respeitar os outros?
É. Uma bituca de cigarro pode parecer pouca coisa, mas de acordo com pesquisas realizadas na Inglaterra, são o lixo mais comum no planeta e uma das principais causas de obstrução dos encanamentos de águas pluviais urbanas, além de extremamente poluentes para a água dos rios e mares, por liberarem substâncias altamente tóxicas na natureza e demorarem até dois anos para se dissolverem...
Um mundo melhor passa necessariamente pela autodisciplina. E, no caminho, fui pensando no velho ditado: “se queres consertar o mundo, começa pela tua própria casa.”

Maria Tereza Fumelli - 4º semestre 2012/2

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