terça-feira, 11 de outubro de 2016

Currículo, Didática e Multiculturalismo



O programa Salto para o futuro, da TV Escola, um canal do Ministério da Educação, abriu para a discussão o tema currículo e conhecimento. Tema extremamente relevante e atual para os educadores, profissionais em fase de formação e outros agentes que tenham este e a educação no Brasil, como seus objetos de estudo. 
Além dos apresentadores, para compor o debate foram convidados, Antônio Flávio Barbosa Moreira (Coordenador do Mestrado em Educação da Universidade Católica de Petrópolis - RJ, vice-presidente da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação e consultor da séria discutida e apresentada no programa), Vera Candau (Professora da PUC - RJ e Coordenadora do Grupo de Pesquisas sobre Cotidiano, Educação e Cultura da PUC - Rio), Luiz Antonio Cunha (Sociólogo e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Logo no inicio do programa, foi apresentada uma matéria do quadro Mosaico que mostrou a opinião de seis pesquisadores na área educacional sobre os desafios que se encontra na hora de compor o currículo, sendo citados os seguintes pontos, parafraseados logo abaixo:
Segundo Alfredo Veiga Neto, professor da UFRGS, o desafio estaria em dois eixos principais, um composto pelas rápidas mudanças que há na contemporaneidade e o segundo seria levar em consideração a heterogeneidade que há no Brasil.
Para Maura Corsini, professora da UniSinos, o primeiro desafio seria a multiplicidade que existe na escola, as diferenças e diversidades, o segundo seria trabalhar as disciplinas com o cotidiano da escola.
Elba Sá, professora da USP, apontou que o principal desafio está relacionado com a melhoria da qualidade do ensino, uma qualidade que não seja medida apenas pela eficiência e eficácia através de testes, mas que leve em conta a possibilidade de desenvolvimento do indivíduo e de uma participação ativa e plena na sociedade.
Alda Junqueira, professora da PUC - SP, diz que, em primeiro lugar, precisa-se entender o que é currículo, em segundo que esse seja estudado nas escolas e em cursos de formação de professores, por fim que haja produção de material sobre o currículo para uso de professores e alunos em cursos de formação de professores.
Nereide Saviani, professora da UniSantos, aponta que igualdade de condições na negociação curricular para os professores é o principal desafio.
Jane Felipe, professora da UFRGS, diz que está em incluir uma formação de professores adequada, competente.
Ao iniciarem o debate, o professor Antonio Flávio deu sua opinião sobre a não compartimentalização do conhecimento, visto que é um desafio para a organização do currículo.
Parafraseando suas palavras:

A não compartimentalização é um desafio porque o professor tende a executar o seu trabalho de forma solitária, quando os problemas na sociedade não são desenvolvidos da mesma forma. Portanto, seria interessante desenvolver um trabalho disciplinar e interdisciplinar isso exigiria da escola um esforço para gerar uma integração entre disciplinaridade e interdisciplinaridade, e trazer o diálogo entre os professores para romper esta não compartimentalização, ou seja, no currículo precisaria existir o momento de se trabalhar a disciplinaridade e momentos para trabalhar a interdisciplinaridade, rompendo a compartimentalização. A pluralidade também foi tema. Vera Candau argumenta que a cultura escolar foi constituída com base no que é comum, no uniforme, e hoje em dia, estudos mostram que são muitas as pluralidades existentes na escola. Diz também que infelizmente a escola não demonstra estar preparada e é um tema não muito presente na formação dos educadores. Então, segundo suas palavras, a escola precisa aprender a lidar com o comum e o plural, com a igualdade e a diferença.

O Sociólogo e também professor universitário Luiz Antonio Cunha opinou sobre a articulação de tempo e espaço, que é um desafio, pois o espaço da escola em muitas áreas no Brasil é improvisado. Abordou que a escola é uma projeção de outros lugares. Historicamente a escola se desenvolveu a partir do que era possível, e as horas investidas na educação percebe-se que não são suficientes.
Houve uma indagação feita quanto à diversidade cultural local, em breves palavras, Moreira afirma que considerar a diversidade local é muito importante, a criança traz a sua vivência cultural para a escola e acaba, por muitas vezes, forçada a deixá-la do lado de fora. Isso precisa ser trabalhado pela escola, esta precisa aproveitar a cultura local para desenvolver seus conteúdos.
O multiculturalismo e os direitos humanos, embora por muitos educadores sejam considerados questões muito complexas, foram postos em debate. A Professora Vera Candau concordou que se tratam de questões complexas, porque existem diferentes abordagens do multiculturalismo. Propôs que precisamos aprofundar o conceito do tema multiculturalismo. Segundo Caudau, a grande questão entre os direitos humanos e o multiculturalismo está em articular a igualdade e a diferença, o comum e o relativo. Moreira acredita que a escola precisa desenvolver uma postura quanto ao multiculturalismo e procurar entender que esta complexidade na sala de aula, embora dificulte, pode enriquecer o trabalho.
A relação entre currículo e planejamento também foi tema da entrevista, Moreira afirma:

Bem, o planejamento é uma parte essencial do currículo e da escola, né? As atividades que ocorrem na escola são dominantemente planejadas e supervisionadas por ela, o currículo não pode ser aleatório, não pode ocorrer de qualquer modo, é preciso que as experiências que se realizam no âmbito do currículo, é preciso que os conhecimentos que se ensinam, sejam todos eles pensados, sejam todos eles planejados previamente. Agora, é claro que aí também é importante acentuar que esse planejamento não pode jamais ser rígido, esse planejamento precisa estar aberto para inovações, mudanças que vão surgir no decorrer da sua implementação.

Falando ainda de planejamento foi questionado, até que ponto a flexibilidade do currículo é permitida no planejamento do professor?
Cito as palavras de Candau:

Olha! Eu acho que a flexibilidade tem que estar sempre presente, quer dizer, não existe... Na possibilidade você tem um planejamento escolar rígido, né? Eu acho que a flexibilidade é inerente ao planejamento, porque no dia-a-dia, o professor tem que estar continuamente adequando esse planejamento as situações e as realidades que ele vai enfrentar, um aspecto que eu gostaria de acrescentar, em relação ao planejamento, é a importância também, do planejamento coletivo, eu acho que as escolas que tem avançado mais no seu Projeto Político-Pedagógico, são escolas que têm espaços coletivos de planejamento, muitas vezes dos professores de uma mesma área curricular, ou, de uma mesma disciplina, e outras vezes de todos os professores de um mesmo ano escolar, eu acho que é muito importante a escola garantir esse espaço dentro do horário do professor, dentro da sua carga horária, né? Um espaço de planejamento coletivo. Eu acho que isso é fundamental.

Podemos notar que o currículo atualmente enfrenta questões, no que tange ao macro de sua estrutura, ou seja, ainda temos questões que precisam ser refletidas e socializadas e que são comuns a todo o território nacional: como entender e atender os alunos como indivíduos que carregam suas culturas locais para dentro da escola, estruturando um currículo bem planejado, flexível, que leva em consideração a liberdade de negociação do professor e que busca a não compartimentalização das disciplinas, mas que aplique seus conteúdos de maneira disciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar?
A E.B Beatriz de Souza Brito, localizada em Florianópolis - SC, foi mencionada em uma matéria sobre disciplinaridade e transdisciplinaridade, no programa Salto para o futuro, onde alunos exercitam a leitura na aula de Geografia. Isso é um bom exemplo de que é possível trabalhar, de modo que as disciplinas e as habilidades exigidas para os diversos conteúdos ensinados em sala de aula conversem entre si, agregando ao aluno uma vivência diferenciada, e consequentemente associando seu aprendizado ao cotidiano.
Além de o currículo ser tema de discussão, em cursos de formação de professores, outro tema presente e tanto quanto relevante é a Didática e os processos de aprendizado, uma vez respaldado no currículo, no planejamento, e diretrizes educacionais, o professor terá um papel diferenciado no aprendizado dos seus alunos, podendo ser um grande incentivador, entre o conhecimento e os alunos, assim como é de sua responsabilidade proporcionar e planejar instrumentos que lhe permitirão acompanhar o rendimento e autoavaliação de ambos, dados que poderão ser úteis para o professor, alunos, responsáveis, secretária e outros agentes educacionais.
Mas fazendo apontamentos sobre a Didática em si, e sobre a sua trajetória no Brasil desde a ditadura, encontramos muitos agentes envolvidos, Professores que enfrentaram muitos desafios e que persistem em sonhar com dias melhores para a nossa educação.
Temos como exemplo o 18º Endipe - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, que ocorreu em Cuiabá – MT, em agosto de 2016. Maria Isabel de Almeida, professora da USP, nos reporta a longa jornada que está por traz desse evento, parafraseando as palavras de ALMEIDA:

A partir dos anos 70 começou um movimento no Brasil, em resposta à ditadura que teve inicio em 1964, então se procurou pensar, ou melhor, repensar sobre a democratização, mas também em fazer melhorias nas salas de aula, da didática, das práticas de ensino. Muitos de seus colegas, Professores Universitários das disciplinas de Práticas de ensino, de diversas áreas, a partir de 1979, e no começo dos anos 80, se reuniram.

Os professores entrevistados reportaram as dificuldades que precisaram superar para dar continuidade aos seus estudos, em nível de pós-graduação.
Naquele período, os professores não encontravam o apoio, ou a estrutura de hoje para conquistarem seus diplomas. Havia uma tensão político-social, sob a qual os professores eram investigados, questionados e podiam ser afastados da sala de aula, dos setores públicos, se não estivessem a favor da ditadura.
Os professores sofriam uma limitação didática imposta pelo governo, conforme o depoimento de Maria Amélia do Rosário Santoro Franco, professora da UniSantos:

Então 79, pra mim, é isso, então não podemos esquecer, nós estamos no momento de ditadura e o tecnicismo adentrando totalmente na questão do ensino. Então, nós tínhamos a limitação política do que se falar, o que se pensar, e o como fazer, e esta limitação também da técnica pela técnica, então, se eu falei que o Comenius me botou pra pensar didática sempre assim... É uma reflexão que requeria um método... Agora não, era uma técnica, nem método seria e a reflexão terminada, então em 79 veja, eu dava aula nos cursos de Pedagogia, e a observação, o que se pretendia, é que eu ensinasse meus alunos a fazer instrução programada do ensino, quer dizer, picasse o ensino em pequenas frases que pudessem caber numa máquina, que pudessem caber num verbo, tinha que ser aquele verbo, o aluno ou só vai definir, ou ele só vai identificar. A vida, a relação, as relações de pensamento, a crítica, a reflexão, totalmente banida dos processos de ensino, e, portanto, dos processos de aprendizagem. Então em 79, como me vejo? Me vejo, extremamente, ainda, angustiada.

Maria Isabel de Almeida afirma que, ao longo dos 37 anos de história do Endipe, esse evento conseguiu estabelecer uma articulação com o campo educativo, através da discussão, das múltiplas dimensões do fazer, do ensinar dentro da escola.
Para a Professora Yashie Ussami Ferrari Leite, UNESP:

Pra gente que trabalha com formação de professores, todas as definições políticas, elas têm tentado avançar dois passos e recua cinco passos. As condições salariais, as condições de trabalho dos professores estão cada vez mais precarizados, o alunado tem demonstrado um resultado muito ruim no sentido do sucesso pedagógico. Pra onde vai à educação? Eu acho que nós temos assim, uma frente de lutas de uma complexidade grande de fatores muito diferenciados, mas eu não quero perder a utopia ou a esperança de que a escola possa se constituir de uma forma melhor, e que a educação tenha que cumprir uma função política, oferecendo a todas as crianças realmente uma educação de qualidade que lhe dê condições de cidadania mais digna.

Vendo que embora tenhamos passado o período de ditadura no Brasil, ainda vivemos resquícios, a democracia não parece estar funcionando como deveria, os recursos não são destinados corretamente aos seus fins, a educação está em processo de amadurecimento e sofrendo com os rumos que impõem a ela.
Mas sem perder o fio da meada e retomando o assunto, Didática, o que significa essa palavra então...
Didática, segundo Marilda Aparecida Behrens, PUC-PR:

A didática na realidade é o eixo norteador da formação docente, ela tem o papel de articular a concepção e a discussão das abordagens, da ação pedagógica do professor e bem como instrumentalizar o professor pra uma organização do trabalho docente, qualificado, significativo, que leve esse aluno a aprender.

De acordo com Professora Suzana dos Santos Gomes, UFMG, Didática e prática de ensino são espaços propícios para estudo, pesquisas, troca de experiências sobre os processos educacionais em todos os níveis de ensino.
Observando as citações acima, podemos notar que a Didática é de extremo significado para que o professor cumpra com o seu papel. O professor que é didático consegue ensinar um conteúdo que aparentemente seja complexo, de maneira clara e facilitadora.
Quando pensamos no currículo, podemos ver que muitos são os agentes envolvidos para torná-lo possível, no entanto para que seja eficaz, a Didática precisa ser considerada.
Durante os vídeos, observei os esforços para trabalhar com flexibilidade, não compartimentalização, disciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, aproveitar a cultura local para desenvolver o conteúdo de modo significativo, multiculturalismo, etc.. São termos didáticos ou que visam facilitar a mesma. Ou seja, a Didática, juntamente com a prática de ensino, irá nortear o trabalho do professor e influenciar diretamente a composição e a implementação do currículo.

Referências Bibliográficas:

ENDIPE 2016. 28'00". Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6IWS15WpYQQ>. Acesso em: setembro de 2016.

SALTO PARA O FUTURO - CURRÍCULO ESCOLAR. 48'56".
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=elqdmXCGVAw>. Acesso em: setembro de 2016.


Jorge Lucas Carvalho Galdino de Aguiar
Letras 2º semestre/2016

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Currículo e Didática: desafios e novas práticas




O Currículo e a Didática devem estar diretamente ligados, mas qual a relação desses dois termos nos dias de hoje? Existem três temas que envolvem o currículo: Compartimentalização do conhecimento; a construção do currículo considerando a diversidade cultural e a articulação de tempos e espaços na articulação do currículo. Esses três temas foram discutidos no programa Salto para o Futuro, exibido pela TV Escola, em 2013. 
Sobre o primeiro tema “A compartimentalização do conhecimento”, o professor António Flavio Moreira defende que os conhecimentos não devem ser compartimentalizados, mas sim trabalhados de maneira interligada, cortados por uma linha transversal, pois no dia-a-dia os conhecimentos são também ligados entre si. Isso se comporta como um grande desafio para a escola, pois partindo do sistema escolar que temos hoje com matérias separadas e não interligadas, não é fácil propor uma mudança tão drástica como a descompartimentalização, porém esta tensão entre disciplina e interdisciplinaridade deve ser criada dentro do ambiente escolar, e para que isso ocorra é necessário que haja momentos na escola em que os professores das diversas disciplinas se encontrem e proponham atividades interdisciplinares. No programa, há um exemplo de atividade realizada por uma professora, em que é trabalhada essa questão através da leitura do livro “Robson Crusoé”, em que diversas disciplinas são integradas, como: Artes, Geografia, Ciências e História.
Foi realizada uma enquete no programa sobre estes três temas questionando sobre qual seria o mais desafiador, a resposta foi o tema “ A construção do currículo considerando a diversidade cultural”. Inclusive, durante o programa, foi o tema que ganhou maior destaque, pois como a professora Vera Candau disse: “A escola é constituída com base do que é comum. Construída com base naquilo que é uniforme”. Levando em conta essa afirmação, podemos entender porque este assunto foi considerado o maior desafio, e como é essencial a inclusão do multiculturalismo, e como também é necessário o entendimento desse termo existindo diferentes pontos de vista sobre ele. 
A definição de cultura ao longo dos séculos tomou diversas formas, durante o século XIII, por exemplo, estava ligada ao cultivo da terra, já no século XVIII ao cultivo da mente, incluindo a apreciação da arte, que hoje está ligada a fatores sociais, tem sido usada por uma classe para manter status, o antigo, o clássico têm sido extremamente valorizado. E mesmo hoje muitos professores têm essa ideia de que apenas o que é clássico é cultura e descartando a cultura de seus alunos e a realidade da qual vieram que também envolve muitos temas como a sexualidade, gênero, discriminação racial, discriminação social e religiosa entre outros.
O multiculturalismo acaba colidindo com a questão da equidade social como se fossem opostos, o que não é verídico, uma professora faz citação do sociólogo português Boaventura Santos: “Temos o direito de reivindicar a igualdade sempre que as diferenças nos inferiorizam, e temos direito de reivindicar a diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza”, essa citação deixa claro como se deve articular as questões de igualdades contidas nos direitos humanos e o multiculturalismo que existe dentro de nossa sociedade. 
A articulação do tempo e do espaço dentro do currículo está ligado aos espaços físicos, onde se situam as escolas. Muitas vezes estes espaços são improvisados, ou seguem padrões de outras instituições como o quartel, igreja, cantina. O tempo que, principalmente no ensino fundamental, às vezes é menor do que quatro horas diárias, o que é insuficiente para um bom desempenho do aprendizado.
Esses três temas se interligam e compõem grandes desafios que nossa escola tem que enfrentar. Desafios que só serão vencidos com o empenho de todos os trabalhadores da área. Este empenho tem que estar presente desde o estudo do currículo pelos profissionais atuantes, como pelos profissionais em formação, deve ser um trabalho contínuo dentro da escola propriamente, começando com um planejamento que articule a interdisciplinaridade e o multiculturalismo. Para isso, se fazem necessários espaço e tempo adequados. Por sua vez, planejamento deve ser sempre revisado, pois somente no dia-a-dia se poderá verificar a ou não sua eficácia. Essa verificação ocorre apenas na sala de aula, aí vemos a intrínseca relação entre currículo e didática. Mas afinal qual é a nossa didática?
A Didática desde os anos finais da ditadura até os dias atuais foi abordada no vídeo de abertura do ENDIPE 2016 – Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, realizado em Cuiabá, em agosto de 2016. Vários professores falaram sobre sua experiência no ano de 79, ano do primeiro ENDIPE. Em 1979, estavam vivendo um momento de abertura política, momento no qual a educação começava a pensar numa nova Didática, diferente da tecnicista trabalhada durante aquele período. Uma didática que fosse capaz de formar cidadãos críticos e criativos. 
Durante a fala desses professores, percebeu-se uma certa tristeza porque a escola que desejavam ainda não se concretizou, mesmo depois de mais de trinta anos, mas os mesmos falam de uma utopia de que a educação pode mudar. 
Esse clima confirma-se ao fim do vídeo, quando dois e mails são mostrados sobre o planejamento do evento em Cuibá. O professor Silas Monteiro, organizador do evento, escreve para a profa. Dra. Selma Garrido Pimenta, uma grande didata brasileira, da USP e da UniSantos, falando como este momento de crise que o país está passando está afetando a área da educação. 
Esses dois momentos históricos, o passado da ditadura e o presente apresentam algumas características comuns, como dito no vídeo, estamos vivendo um momento em que está existindo uma tentativa do retorno da Didática tecnicista, além de uma discussão de um tema como o estado laico e escola pública e gratuita, bandeira defendida pelos “Pioneiros” do Movimento Escola Nova, no Brasil, que corre um sério risco de regredir. Aliás a laicidade da escola e do Estado é um assunto que até mesmo no programa Salto para o Futuro foi discutido.
Em meio a esse cenário uma Didática eficaz se faz necessária, pois somente na sala de aula, entre professor e aluno é que o currículo deixará de ser um mero documento e passará a ser um instrumento para a finalidade a que deseja útil, que é a formação de alunos críticos, criativos, que estejam preparados para a vida em sociedade, que estejam preparados para transformar a sociedade em um lugar mais justo e igualitário, sociedade em que sabemos conviver com multiculturalismo.

Felipe Lima - Letras 2º semestre/2016

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Currículo e Didática: a diversidade na sala de aula


No decorrer das últimas décadas, as discussões em torno da educação brasileira ganharam notoriedade, e a formação de professores vem se especializando cada vez mais, levantando muitos temas e áreas que buscam aperfeiçoamento entre teoria e prática – práxis. Na atualidade, se discute a integração das novas tecnologias e a formação dos professores para a diversidade cultural da escola e sala de aula, abrangendo e respeitando as particularidades de cada região, mas, sem deixar de relacionar os conteúdos com a vida dos estudantes. Temas como estes ganham espaço nos documentos curriculares nacionais e o Programa Salto para o Futuro, da TV Escola, discutiu sobre o “Currículo Escolar: conhecimento e cultura”, em 2013, para debater essas questões.
Segundo os professores presentes no programa, Antônio Flávio Barbosa Moreira, Luiz Antônio Cunha e Vera Candau, é preciso adaptar o currículo para acompanhar as transformações da sociedade, contextualizar o ambiente escolar, de acordo com essas mudanças e valorizar as diferenças que existem em cada unidade. Infelizmente, porém, são muitos os professores que não se sentem preparados para lidar com a diversidade, mostrando que essa discussão é de fundamental importância nos cursos de formação docente.
O paradigma de um Currículo, com grande quantidade de assuntos que necessita abordar, cria certa inflexibilidade para o professor desenvolver temas em conjunto de outras áreas, especialmente o professor especialista. Ele isola o conhecimento e distancia o aluno com a não integração e contextualização dos conteúdos. Apesar do surgimento de ideais, como a interdisciplinaridade ou o multiculturalismo, acabam se tornando metas muito distantes com a falta de planejamento, em conjunto dos professores de uma mesma escola e discordância socioculturais. Além disso, as escolas apresentam dificuldade em acompanhar os avanços e estudos da Educação, onde surge certa resistência de alguns profissionais à atualização do currículo, das diversas práticas de ensino e no domínio das inovações tecnológicas. 
Somando-se à discussão a Didática - outra área fundamental para a prática de ensino e que anda de mãos dadas com o Currículo - a abertura do XVIII Congresso da ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino), em Cuiabá de 2016, trouxe diversos didatas que discorreram sobre o caminho que a Didática percorreu desde o período militar. Em termos gerais, atingimos a democratização do Ensino. Esta, uma conquista, um momento de ruptura com as práticas de ensinar e aprender sem promoção de reflexão do educando para uma outra que visa a alunos com maior autonomia e criticidade. A professora da UNISINOS, Maria Isabel da Cunha, afirmou que não existiam muitos programas de pós-graduação e doutorado no Brasil, pois não tinham valor ou eram de pouco interesse do Governo. A professora Maria Amélia Santoro Franco, da UniSantos, em seu depoimento, afirma que ainda há fatores desmotivantes para os professores, sendo um deles a desvalorização do salário dos profissionais da educação.
Contudo, encerrando uma fase de tecnicismo, amplia-se os horizontes da prática docente, surgindo cursos para formação continuada e seguindo ideais de que não há uma única receita para o ensino e aprendizagem, mas uma busca constante de aperfeiçoamento na arte de ensinar. A Didática articula os conteúdos, respeitando o processo de aprendizagem de cada estudante, admitindo que todos são diferentes e, portanto, aprendem de formas diferentes. Para tal, há inúmeros recursos que podem ser utilizados na prática do professor para atender essa diversidade de sala de aula, sem perder de vista o objetivo maior: levar o aluno a adquirir um determinado conhecimento através da reflexão e construção desse saber. O Curriculo é imprescindível para que haja esse diálogo.

Patrícia Silveira Barsotti - Ciências Biológicas 2º semestre 2016


Currículo e Didática: a construção de uma estrada segura para transitar



De acordo com o encontro de pesquisadores da área da educação, no programa "Salto para o Futuro", exibido pela TV Escola, em 2013, sobre o tema "Currículo Escolar: conhecimento e cultura", um currículo escolar precisa ser elaborado, atendendo aspectos que contemplem tanto a pluralidade cultural, quanto os conteúdos disciplinares construídos historicamente. 
Segundo o prof. Antonio Flávio Moreira, deve-se observar os desafios de como articular os campos múltiplos do saber com o cotidiano. Já a profa. Vera Candau se preocupa em como inserir as diferenças, o pluralismo e a forma de negociação das diferenças para integralizar a todos. E o prof. Luiz Antonio Cunha entende que o professor está isolado e que a ênfase no comum, no uniforme, indo de encontro com a diversidade cultural pode tender a uma fraude pedagógica entre o laico e o religioso; a ciência e o mito. 
Discute-se também a necessidade ou não do currículo conter disciplinas que abordem questões multi-interculturais, que tenham dimensão macro e tornem o aluno não só um depósito de conhecimentos pelo professor, mas também um cidadão pensante e consciente dentro da sociedade. 
Trazendo a discussão para o campo da Didática, o vídeo de abertura do XVIII ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, realizado em Cuiabá, em agosto de 2016, apresenta depoimentos de inúmeros didatas brasileiros renomados que relatam a trajetória da Didática desde o período militar. 
O período de domínio da Ditadura Militar é diferenciado por sofrer forte influência das ideologias antagônicas de então. Um governo que direcionava e fazia patrulhamento das ideias e ideais dos professores, massacrando e, às vezes, doutrinando o ensino de então para temas de alienação e nacionalismo exagerado.
Dava-se ênfase aos cursos profissionalizantes e à alfabetização a qualquer custo, via MOBRAL, causando uma super população nas escolas, utilizando o mesmo espaço com um rodízio de alunos, diminuindo a carga horária e a consequente perda de conteúdo, piorando a qualidade do ensino. Quando se nota essa perda de qualidade, a recuperação que se quer obter, além de tardia, não é alcançada, ainda apesar de muito esforço, o mínimo desejável. Há uma melhora desde então, mas longe dos índices comparativos internacionais (de IDH). 
Usando uma metáfora, o currículo é a estrada e a didática são os veículos que rodam nela. O currículo deve ter planejamento do conteúdo, os materiais, recursos e realizar os objetivos a se buscar. A didática é a estratégia que se vai utilizar para obter esses objetivos dando a melhor técnica aos recursos oferecidos. O processo pedagógico é mutante e deve se adequar às características regionais e articular campos múltiplos de saber com o cotidiano da escola.
Voltando à estrada, se é bem pavimentada e sinalizada, qualquer veículo em boas condições deve transitar por ela sem sustos. Vai depender da potência ou preparação desse motor para se chegar ao destino/objetivo. Ou seja, se o professor tiver uma boa formação, compreenderá o que é currículo e saberá conduzir suas aulas da melhor forma didática possível.

Débora Vezzali Rico - Letras 2º semestre 2016

sábado, 1 de outubro de 2016

A interdependência entre Currículo e Didática


Conforme o Programa Salto para o Futuro, da TV Escola, produzido em 2013, sobre o tema “Currículo Escolar: conhecimento e cultura”, no mundo contemporâneo, a área do currículo possui várias incertezas, que geram discussões.
Essas discussões, envolvendo a área do currículo, podem, de acordo com os professores Alfredo Veiga Neto, da UFRS, e Maura Corsine, da UNISINOS, serem divididas em dois eixos: a heterogeneidade cultural das escolas, e como relacionar as disciplinas básicas (Matemática, Português, História...) com o cotidiano da escola.
Elma Sã, professora da USP, acredita que a construção do currículo escolar possui uma relação estreita com a melhoria da qualidade de ensino e deveria, ao invés de se concentrar em testes de resultados e eficiência, focar nas áreas de conhecimento em que o aluno pode desenvolver suas capacidades. 
De acordo com Alda Junqueira, professora da PUC, o currículo deveria ser abordado nas escolas e nos cursos de formação de professor. Existe também a questão da dificuldade de igualdade dos professores perante a negociação curricular, de acordo com as professoras Nereide Saviani, da UNISANTOS, e Jane Felipe, da UFRS, assim também como incluir no currículo suas capacidades e competências.
No Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino de 2016, XVIII ENDIPE, em Cuiabá/MT, foram repensados valores oprimidos na época da ditadura militar brasileira, que foi um período que prejudicou a Didática.
Conforme os professores entrevistados, como Maria Isabel de Almeida, da USP, nessa época, os professores eram muito censurados e pressionados, logo não conseguiam exercer suas funções de educadores com autonomia e liberdade. 
De acordo com Maria Isabel da Cunha, professora da UNISINOS, em 1979, existiam poucos programas de pós-graduação e quase nenhum de doutorado no Brasil; só existiam os cursos de mestrado. Era uma época em que todos esses cursos não possuíam valor. Como acontecia a reabertura política, houve a revisão dos métodos de ensino, por parte dos educadores. 
Em 1977, segundo Eduardo Adolfo Terrazan, professor da UFSM, aconteceram greves nas escolas estaduais, período histórico, em que Paulo Maluf era governador. Foi um tempo de decadência do ensino público em São Paulo; a greve falhou e os salários decaíram.
Somente em 1996, foi aprovada a atual lei de Diretrizes de Bases n. 9.394. Houve, então, a criação de cursos de pós-graduação que promoveram reflexões sobre a realidade, de acordo com Selma Garrido, professora da USP e UNISANTOS.
Muitos educadores, como o professor José Carlos Libâneo, da PUC-GO, foram forçados a se afastar das escolas, por serem caçados pela Ditadura, em virtude de fazerem parte de movimentos políticos e estudantis. Foram 25 anos de limitações, de acordo com a professora Maria Amélia do Rosário Santoro Franco, da UniSantos, um período em que existia o tecnicismo adentrando o ensino, ou seja, uma educação que privilegiava a técnica pela técnica, a cópia, a repetição, a memorização, em detrimento do pensar. Existia a limitação política; o que se deve falar, o que fazer, e o que pensar; e a limitação educacional, em que não se podia mais fazer reflexões, era só que os professores ensinassem os alunos técnicas pré-programadas, a crítica e a reflexão foram “banidas” das práticas de ensino.
Todos os educadores dos dois vídeos concordaram que o currículo deveria ser uma das áreas abordadas nas escolas. O currículo em si, como construir o documento, e para que serve o mesmo, deveria ser assunto discutido nas escolas e na formação dos professores. É possível compreender, a partir das discussões apresentadas, que existe uma interdependência entre Currículo e Didática. Um não existe sem o outro, pois é na sala de aula que o professor desenvolve os conteúdos curriculares, por meio da didática. Por isso, "ensinar a ensinar" deve ser um elemento central nos cursos de formação de professores.

Gustavo Lara - Ciência Biológicas 2º semestre/2016