sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Currículo e Didática: a parceria entre professor e aluno




Há muitos estudos na área do Currículo que identificam preocupações e aflições de como o Currículo deve ser elaborado e implementado corretamente nas instituições educacionais atuais, mesmo este sendo definido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. Em muitos casos, a indagação principal é entender o que é o currículo.
A discussão sobre currículo escolar fomentada pelos pedagogos, dentre eles o professor da UFRGS, Alfredo Veiga Neto, aponta que o grande problema do currículo atual é ajustá-lo para que acompanhe as rápidas transformações e desenvolvimento correntes no mundo contemporâneo, cujas informações são atualizadas frequentemente e exigem cada vez mais conhecimento dos alunos.
Outra questão não menos importante e de âmbito nacional, debatida no "Programa Salto para o Futuro", exibido pela TV Escola, sobre o tema “Currículo: conhecimento e cultura”, é a dúvida de como se deve planejar um currículo em um país cujas dimensões são continentais e que possui uma ampla variedade étnica-cultural. Segundo os professores Alfredo Veiga Neto e Jane Felipe, da UFRGS, o impasse deste caso é ocasionado pelas instituições não saberem lidar com a forma de integrar estas disparidades culturais. Uma das questões levantadas pelos convidados é que se deve focar mais na região em que se está inserido ou se todas as regiões devem abranger um caráter único? A única certeza é que é necessário problematizar todas as questões que envolvam as características específicas dos alunos em seu espaço social.
Como dito pela professora Nereide Saviani, UniSantos, o desafio maior é garantir uma igualdade de condições de negociação na base curricular, de forma que seja estabelecido um entendimento entre as características de cada sala de aula, que saiba integrar também os diversos campos disciplinares com o cotidiano escolar e que eles se relacionem entre si, criando uma multi-interdisciplinaridade. É importante ressaltar, ainda, que essas instituições potencializem a produção intelectual dos alunos, de acordo com seus graus de inteligência, possibilitando o desenvolvimento de suas individualidades em uma ampla e ativa participação na sociedade, como proposto por Howard Gardner.
Estendendo a discussão para a área da Didática, com base nos depoimentos dos pesquisadores que participaram do XVIII Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, em Cuiabá, em agosto de 2016, é possível compreender que esse campo de estudo tem como significado a arte de construir conhecimentos ou a técnica de ensinar. É um ramo da Pedagogia que orienta a atividade educativa, de modo a torná-la mais eficaz. Considerando, portanto, que é na sala de aula que o currículo é posto em prática, a Didática assume grande relevância.
Como dito por importantes didatas brasileiros que participaram do ENDIPE, durante a ditadura militar, o ensino era muito rígido, com inúmeras imposições de autoritarismo e centralização na sala de aula. Havia a desmotivação, tanto por parte dos alunos quanto por parte dos professores, devido à falta de articulação em que a educação se encontrava.
Professores de Didática e práticas de ensino das mais variadas áreas, a partir de 1979, começaram a entrar no plano educacional para pensar e superar os limites impostos pela educação no período ditatorial. Poucos eram aqueles que possuíam pós-graduação devido à falta de valor atribuída a ela e, com este advento, uma nova condição profissionalizante se tornou possível.
Ainda que os professores do período citado anteriormente possuíssem dúvidas geradas por falta de clareza sobre as Diretrizes Curriculares, iniciou-se um processo de reflexão sobre os problemas da realidade educacional.
A consolidação de um espaço político educacional reconhecido fez com que professores e estudantes articulassem ideias e posicionamentos. O campo educativo passou de uma imposição de conteúdo para o início de uma discussão de múltiplas dimensões do fazer e do ensinar, superando uma concepção tecnicista de professor transmissor de conhecimento e aluno passivo receptor de conhecimento, em prol de uma articulação entre ensino e aprendizagem mais humanizada, em que professor e aluno tornam-se parceiros durante o ato didático.
Vinculando os fundamentos propostos nos dois documentários, é possível compreender que o currículo é um documento que tem por objetivo organizar as propostas pedagógicas das instituições de ensino. Serve para fomentar o desenvolvimento de competências e habilidades, organizar os componentes curriculares que serão lecionados e é configurado localmente pelo Projeto Político Pedagógico de cada instituição de ensino.
A Didática, por sua vez, estuda os diferentes processos de ensino e aprendizagem nos complexos educacionais. Ela possui como objetivo ensinar técnicas e métodos que possibilitem a aprendizagem do aluno, por parte de um intermediário, o professor. Em seu sentido literal, significa técnica ou arte de ensinar.
Portanto, a relação estabelecida entre o currículo e o plano de ensino proposto pelo professor, assim como a maneira como os conteúdos disciplinares são trabalhados, torna-se uma construção do conhecimento entre professor e aluno, é a forma como o ensino e a aprendizagem são aplicados, seguindo as condições preestabelecidas do currículo, juntamente com uma boa didática. É possível, então, concluir que o ato de ensinar é o modo de como o professor coloca o currículo em ação.

Referências bibliográficas:

PROGRAMA SALTO PARA O FUTURO, Tema “Currículo: Conhecimento e cultura”.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=elqdmXCGVAw&feature=youtu.be>. Acesso em: 21/09/2016.

ENDIPE 2016 – XVIII ENDIPE – Cuiabá-MT.
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=6IWS15WpYQQ&feature=youtu.be>. Acesso em: 21/09/2016.

Arthur Pérez Aguiar - Ciências Biológicas 2º semestre/2016

Currículo e Didática caminham juntos



O Programa Salto para o Futuro, da TV Escola de 2013, discute o tema “Currículo Escolar: conhecimento e cultura”. Importantes pesquisadores da Educação como Antonio Flávio Barbosa Moreira, Vera Candau e Luiz Antonio Cunha, além da grande participação de outros professores e público em geral, trazem para essa discussão a melhoria da qualidade de ensino, a formação dos professores, e a relevância da participação de toda comunidade escolar na elaboração do currículo. 
O que mais me chamou a atenção foi o que a professora Vera Candau, da PUC/RJ, falou: as discussões que envolvem a área do currículo hoje são principalmente em torno das diferenças. 
De acordo com os pesquisadores entrevistados, o currículo escolar deve ser construído considerando a diversidade cultural para os professores e para os alunos. Também o estudo sobre currículo e multiculturalismo precisa estar presente na formação dos professores. O currículo escolar é constituído na base do que é homogêneo, igual, mas, atualmente, a pluralidade se faz presente claramente na escola: diferenças de problemas motores, psicológicos, de gênero, de orientação sexual, étnico-raciais e religiosos, e a maioria das escolas não está preparada para lidar com isso.
Considerando a estreita relação entre Currículo e Didática, no vídeo XVIII ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, Cuiabá/MT/2016, com a professora da USP, Maria Isabel de Almeida, pude perceber como o caminho da Didática tem sido longo, desde o final dos anos 1970, quando a sociedade vivia o momento de luta contra aquela ditadura implantada em 1964.
Dentro do movimento de resistência, começou a se pensar em como melhor a educação. As comunidades da Didática e das Práticas de Ensino deram início aos primeiros encontros do ENDIPE. Em consequência, as pessoas das várias áreas de ensino se reuniram, em 1979, para pensar o que poderia ser feito para ultrapassar os limites rígidos impostos pela Ditadura Militar. As professoras Maria Isabel da Cunha, da UniSinos, Maria Amélia do Rosário Santoro Franco, da UniSantos, e Alda Junqueira Marin, da PUC/SP, foram as que mais me chamaram a atenção. 
Em síntese, disseram que naquela época não havia Doutorado e havia poucos programas de Pós-Graduação no Brasil, que sequer tinham muito valor naquele período. A limitação política era enorme, era preciso se policiar sobre o que falar, o que pensar e o que fazer. 
No vídeo, ao ver estudantes como eu falando sobre Didática, foi possível compreender que se trata da capacidade que o professor precisa desenvolver de construir o conhecimento com o aluno. É a arte de explicar, de mediar pedagogicamente a relação ensino e aprendizagem. Então, se o professor não tiver didática, não adianta a escola ter um bom currículo, pois dar aula é muito mais do que passar um conteúdo, é compartilhar o máximo do seu conhecimento com seus alunos. A “perfeição” seria um bom currículo e uma ótima didática!

Fernanda Rodrigues Mainard
Matemática 2º semestre/2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Currículo e Didática: por uma escola melhor



O Currículo Escolar e a Didática são áreas importantes dentro da carreira acadêmica de todos os que têm como profissão a docência. Ao analisar os dois vídeos “Salto para o Futuro: Currículo e Conhecimento” e “Abertura do Congresso ENDIPE 2016 - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino”, como base para esta análise dissertativa, foi possível observar como ambas as áreas são trabalhadas em sala de aula e na escola. A necessidade de mudanças, a luta de antigamente e a luta dos dias atuais, entre outros aspectos importantes relacionados à educação foram discutidos. Os vídeos apresentam educadores e estudiosos de diversas áreas do ensino, além dos próprios alunos das escolas que se manifestaram para expressar a importância desses dois eixos de debate. 
No vídeo “Salto para o Futuro: Currículo e Conhecimento”, três professores estudiosos da área da educação levantaram questões sobre a importância do Currículo Escolar e como ele é abordado em sala de aula e na escola. Antônio Flávio Barbosa Moreira, Vera Candau e Luiz Antônio Cunha apresentaram tópicos em que a educação enfrenta problemas relacionados com a abordagem do currículo atualmente, sendo estes: planejamento, heterogeneidade, melhoria da qualidade, igualdade, inclusão de professores competentes, a relação do comum com o cultural, a manutenção de materiais adequados dentro da escola, multiculturalismo e o mais importante de todos: entender o que é currículo.
A escola hoje está se corrompendo pelo que chamamos de “acomodação”, ou seja, conforme defenderam os pesquisadores citados, mesmo que um currículo esteja apresentavelmente decente e interessante para os alunos, a escola precisa de uma estrutura de formadores responsáveis que abracem o currículo e com uma didática apropriada, compartilhem do seu conhecimento entre os alunos para que se desenvolva o crescimento dentro da sala de aula, com mais dedicação. No entanto, somente os professores cumprindo seu papel não é o suficiente, mas o sistema de governo precisa desenvolver melhorias para as condições de uma instituição de qualidade, com acessibilidade para seus funcionários e estudantes, ou seja, tudo tem que caminhar de acordo e a favor da educação de qualidade. Como afirma Antônio Flavio Barbosa Moreira, “seria importante que a escola buscasse uma maneira que rompesse essa compartimentalização, buscando uma maneira de favorecer um diálogo entre os professores...” ou seja, é justamente o planejamento individual que desgasta os próprios professores, não favorecendo um trabalho interdisciplinar, tampouco melhorias para as disciplinas como um todo.
O multiculturalismo e o espaço escolar, um dos tópicos de discussão mais enfatizados, e um dos maiores desafios, de acordo com a enquete do programa, abrange o que é relativo e o que é diferente, de acordo com Vera Candau e Antônio Flávio Barbosa Moreira, é grande a dificuldade de interação em sala de aula das variedades culturais das regiões, e de como introduzi-las nos conteúdos estudados para que se enriqueça o trabalho da escola. Por sua vez, Luiz Antônio Cunha ressalta as crenças religiosas como conflitante para o currículo, pois cada crença traz sua posição de defesa, que, muitas vezes pode atrapalhar o desenvolvimento desse aluno por ser um assunto deveras peculiar.
Entre outros assuntos, os três estudiosos defendem que haja sim a flexibilidade da construção do currículo, além das interdisciplinaridades que são fundamentais para o aluno, englobando o trabalho em conjunto dos professores, para as melhores interações do professor com o aluno. 
Embora o currículo seja a apresentação de conteúdos para ensinar e aprender na escola, contendo os planos pedagógicos feitos pelo corpo docente e avaliações que ajudam a analisar o desenvolvimento do aluno, isso não é possível sem uma didática apropriada, que, por sua vez, é a forma de ensino e aprendizagem realizada por cada professor, à sua maneira, para que o aluno aprenda de forma objetiva e clara, ou seja, “é o eixo norteador da formação docente, e tem como papel articular a concepção e a discussão das abordagens da ação pedagógica do professor”, conforme a professora Marilda Aparecida Behrens afirma, no segundo vídeo de discussão abordado. 
A Didática foi assunto de debate neste segundo vídeo: “Abertura do Congresso ENDIPE 2016", em que diversos professores da época da Ditadura Militar relembraram, em entrevistas, os métodos de ensino no início de suas vidas acadêmicas. Uma época em que tudo era controlado.
De acordo com a professora Maria Isabel de Almeida, a apresentadora do vídeo, em 1979, um grupo de professores recém-formados se reuniram para abordar novos caminhos para práticas de ensino e aprendizado. Na época da ditadura militar, o ensino era controlado por meios rígidos para que o conhecimento não ultrapassasse o que o governo impunha. Esses professores retornam a falar sobre o que houve naquela época e como suas vidas foram transformadas, através da luta pelo ensino, com a opressão militar.
Nesse período, não podiam atuar em suas profissões aqueles que eram contra o regime militar e, após a anistia, isso foi possível, como declarou o professor José Carlos Libâneo, cassado pela Ditadura Militar, que participava dos movimentos estudantis contra o regime ditatorial da época, e só foi possível lecionar após sua liberdade.
O ENDIPE durante seus 37 anos, conforme Maria Isabel de Almeida, articula o campo educativo a favor da Didática. Houve uma consolidação de um espaço político-educacional em que a participação de todos livremente contribuísse para as melhorias do conhecimento para um crescimento de uma nação. Afirma a professora Maria Amélia Santoro Franco, da UniSantos, que “a educação não atingiu ainda os seus objetivos de educação de qualidade, igualdade e conhecimento para todos, mesmo com alguns avanços”.
Com base nas discussões trazidas pelos dois vídeos estudados, é possível afirmar que a relação entre Currículo e Didática engloba as propostas de aprendizado apresentadas pela melhor forma de ensino, ou seja, uma área está atrelada à outra. Os conteúdos não são alcançados se a Didática não for elaborada e aplicada de forma eficaz. Avaliando dessa forma, é possível indagar se a responsabilidade é quase total do professor. Evidentemente que não, pois muitos fatores delimitam o Currículo e a Didática, conforme os depoimentos dos inúmeros autores nos dois vídeos em questão, mas se os professores não fizerem o máximo de esforço, no seu espaço “sala de aula”, a diferença não chegará a um resultado satisfatório para a escola e para o aluno.
Os professores que lutaram por uma educação revolucionária para os estudantes, na época pós-ditadura, ainda não contemplam um ensino e aprendizagem com grandes melhorias. Infelizmente, o sistema de governo não favorece as necessidades para que o jovem abrace a educação e o conhecimento de forma digna e decente. A função dos professores é de levar seu conhecimento, sua bagagem de aprendizado e continuar aprendendo juntamente com seus alunos, ao invés de se acomodarem com uma situação desfavorável para todos. 
A luta de antigamente foi em prol de um futuro melhor, e hoje, é preciso enfrentar os novos problemas e não abandonar jamais a profissão de educador. Com esse pensamento, a Didática será transformada em favor do aluno, os currículos e todos os documentos de ensino-aprendizagem serão menos utopia e mais realidade e os estudantes alcançarão os objetivos propostos. É notável que a luta não é só para o professor, mas se todos abraçarem a causa, uma vez que o corpo estudantil unido é maioria, com a ajuda dos próprios estudantes e seus pais, a sociedade será transformada para melhor.

Laís Cristina Alves Ribeiro - Letras 2º semestre/2016

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A relação Currículo X Didática e as dificuldades desde o período pós-ditatorial

Analisando a situação atual do currículo escolar, é possível perceber que as discussões sobre esse campo de estudo se concentram em alguns temas que abrangem a heterogeneidade presente em nossa sociedade, nos dias atuais, e a compartimentalização do conteúdo, por meio de matrizes curriculares estanques.
Conforme a discussão realizada no “Programa Salto para o Futuro”, com os professores Antônio Flávio Barbosa Moreira, Vera Candau e Luiz Antônio Cunha, é necessário conseguir adaptar o currículo para que seja possível acompanhar as mudanças e transformações constantes que nossa sociedade sofre na contemporaneidade, considerando também o fato de que o ambiente escolar passou a ser um espaço de multiplicidades, um ambiente extremamente diversificado, cheio de pluralidades, e cabe ao professor saber lidar com isso.
Outro desafio presente na constituição do currículo, de acordo com a fala da professora Elba Sá, no quadro Mosaico do referido Programa, é conseguir uma melhoria na qualidade do ensino, não pelo ponto de vista “tradicional”, em que a eficiência e a eficácia da educação são medidas a partir de resultados em testes e índices, mas sim uma melhoria que parte da premissa de que a escola deve contribuir com o desenvolvimento do aluno para que este seja um cidadão pleno e ativo na sociedade.
Conforme afirmou a professora Vera Candau, todos esses fatores nos remetem ao processo de formação de professores, que também impacta diretamente na elaboração e implementação do currículo. 
A partir das discussões realizadas no "Programa Salto para o Futuro", os professores, em sua maioria, não são capacitados para lidar com tal heterogeneidade, e também não conseguem estabelecer um diálogo para que a interdisciplinaridade seja uma realidade nas escolas – ponto necessário para a descompartimentalização do Currículo –, unindo a essas disciplinas as questões que envolvem a comunidade escolar, levando em consideração a diversidade local e as características específicas dos alunos naquele ambiente social.
Ainda sobre o ambiente escolar, podemos notar que a democratização da sala de aula não é algo que sempre esteve presente em nosso âmbito escolar. Esse processo de democratização aconteceu aos poucos e teve início no período pós-ditadura, conforme foi possível compreender pelos depoimentos de inúmeros pesquisadores que participaram do Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, em Cuiabá, em agosto de 2016. Por meio desses encontros realizados a cada dois anos por profissionais da educação, foi possível pensar em maneiras de superar os limites e barreiras deixados pela época ditatorial.
Segundo os depoimentos dos professores Eduardo Adolfo Terrazzan e Maria Amélia Santoro Franco, alguns fatores desmotivavam os professores, como, por exemplo, a queda brusca no valor do salário dos profissionais da educação e a imposição de um tecnicismo no ensino, deixando de lado a reflexão proposta por Comenius, qual seja “ensinar tudo a todos”. Tal imposição limita o trabalho do professor, e é algo presente até hoje dentro das salas de aula, com a utilização de apostilas e livros didáticos.
Considerando as discussões e depoimentos apresentados pelos dois vídeos estudados, é possível compreender que o Currículo abrange um conjunto de disciplinas que devem ser trabalhadas com o estudante, sendo formado por um conteúdo selecionado que é considerado adequado para o ensino e que tem como objetivo a formação do indivíduo a partir desses saberes. Por sua vez, a Didática engloba o processo ensino-aprendizagem e todas as práticas pedagógicas e estratégias voltadas para a construção do conhecimento. Portanto, há uma relação direta entre Currículo e Didática.
A estreita relação entre ambos é indispensável para a formação do docente, pois é por meio do Currículo que o professor selecionará todo o conteúdo a ser trabalhado, e a partir desse, utilizará a Didática e as práticas pedagógicas para conseguir construir os conhecimentos necessários com o aluno.

Marcus Vinícius Schmidt de Ávila - Letras 2º semestre/2016

Currículo e Didática: o multiculturalismo brasileiro



O Brasil é um país com muitas diferentes facetas, culturas e diferenças que se devem tanto ao contexto histórico, como ao contexto social. Portanto, uma das principais questões que envolve a área do currículo hoje é o tema do multi-interculturalismo. Como é possível integrar todas as diversidades de todos os alunos em um currículo? Como se pode tomar em consideração todas as características de cada indivíduo? 
Estas questões devem preocupar os professores, enquanto estabelecem um currículo escolar. Como disse o professor Alfredo Veiga Neto (UFRGS), é importante lidar com a heterogeneidade da sociedade brasileira no âmbito da educação e isso implica também que esta discussão esteja presente na formação dos professores. 
Como averígua bem a professora Alda Junqueira (UFRGS), no momento de formar professores é de grande importância incluir a realidade social brasileira com todas as diversidades para garantir uma formação adequada e competente. Como seria possível confrontar-se com o multiculturalismo nas escolas se nem os professores tivessem conhecimento sobre esta discussão? Então, antes de tudo, como observa bem o professor Antônio Flávio Moreira, é necessário que se desenvolva uma postura por parte dos docentes, em relação à necessidade de compreender que a complexidade do multi-interculturalismo pode enriquecer o trabalho.
É um grande desafio relacionar a diversidade com o currículo, porque o espaço escolar foi construído na base do que é comum e se considera a escola como algo uniforme. Portanto, a ênfase está, ou estava, sempre no comum, como diz a professora Vera Candau (PUC-Rio). Apesar disso, esta questão está ganhando mais e mais importância, mas nem a escola, nem os professores estão preparados para esta transformação.
Outra grande discussão abrange o trabalho em relacionar a diversidade com o conhecimento e, ainda por cima, garantir uma qualidade boa. Aqui se pode colocar a questão da importância. O que é mais importante para uma educação qualitativa, a cultura ou o conhecimento? Mas a chave não está em escolher um ou outro, mas sim em inter-relacionar as duas discussões para poder elaborar um bom currículo.
Em resumo, o grande desafio consiste em como articular o comum com o plural e a igualdade com a diferença. A sociedade brasileira, como afirma Vera Candau, deveria sensibilizar-se para a importância da relação entre igualdade e individualidade, não somente para uma democracia escolar, mas também para autenticar a democracia do país. O trabalho não consiste somente em respeitar e reconhecer a multiplicidade e assim se esquecer da individualidade. É preciso encontrar um caminho para equilibrar a questão do multiculturalismo com os direitos humanos, que focalizam as questões da liberdade, individualidade e universalidade. Para a sociedade brasileira de hoje, não basta estabelecer um currículo escolar baseado no conhecimento, no comum, é preciso integrar a realidade social, que é a diversidade.
Ampliando a discussão para a área da Didática e analisando-a historicamente, foi possível compreender, por meio dos depoimentos de importantes pesquisadores brasileiros que participaram do Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, em Cuiabá, em agosto de 2016, o retrocesso que a educação brasileira sofreu no período ditatorial. A ditadura militar começou em 1964 e durou até 1985. A partir dos anos 1970, grande parte dos educadores brasileiros começou a manifestar-se, quer dizer, empenhou-se em uma luta não só para democratizar o país, mas também para democratizar as salas de aula, as escolas e as faculdades. As comunidades didáticas e das práticas de ensino começaram a organizar seus primeiros encontros, denominados ENDIPE. Esta história bastante longa e significativa tem o seu início em 1979, quando as comunidades começaram a refletir sobre como se podia superar os limites rígidos impostos pela ditadura militar.
Nas décadas dos anos 70 e 80 havia poucos mestrados e pós-graduações e não existiam doutorados como existem hoje em dia. As pessoas que quisessem se doutorar poderiam se inscrever no Conselho Estadual da Educação, arranjar um orientador e fazer a sua tese, mesmo sem ter uma pós-graduação.
No âmbito público da educação era muito difícil de trabalhar, por causa de uma greve histórica quando Paulo Maluf era governador de São Paulo. Do ponto de vista do professor Eduardo Terrazzan (UFSM), isso foi o marco para a decadência da educação pública nesse estado, porque achataram os salários e a greve não trouxe a vitória esperada. 
Por causa da ditadura militar, estabeleceram-se também interdições em relação à ideologia política. Quer dizer, quem não atuava da maneira esperada pelo Governo (participação em movimentos políticos etc.) poderia acabar sendo afastado da universidade, como foi o caso do professor José Carlos Libâneo (PUC-GO). Ele foi afastado da universidade porque acabou sendo interrogado pelo serviço de informação. Teve uma ficha suja nos arquivos do Serviço Nacional de Informações, por ter participado de movimentos políticos. No ano de 1979, não houve muitas perspectivas na sua vida, mas um ano mais tarde, em 1980, foi beneficiado pela anistia, podendo voltar a estudar.
Ao longo daqueles anos, a partir de 1979 até hoje, houve uma consolidação de um espaço político-educacional que hoje é reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Pode-se destacar, então, que desde o período da ditadura militar até hoje se tem feito grandes progressos no âmbito educacional, em relação à democratização e estabelecimento de escolas, possibilidades de pós-graduações e doutorados. Ainda assim, falta muito até que o Brasil tenha o sistema educacional desejado que envolva todas as necessidades dos professores, dos alunos e da sociedade. O país está numa situação difícil e precária e o trabalho de estabilização da educação já é um desafio em si, quer dizer que agora vai ser ainda mais complicado. Por esta razão é de suma importância o povo se manter unido, olhar para o futuro com um pensamento otimista e ir de mãos dadas.
Na minha opinião, a relação entre o Currículo e a Didática é a colaboração, quer dizer que o planejamento do currículo e a teoria da aprendizagem, na sala de aula, devem ser compatíveis com a prática. A essência de uma boa aula está em desenvolver de uma forma clara e compreensível o que expressa a teoria. Portanto, existe uma interdependência entre estas duas questões. O Currículo escolar não tem valor, se não puder se transformar na prática e ao contrário é valido dizer o mesmo. A teoria e a prática devem se fundir por meio do professor. Fundir ao saber ensinar, dialogar com a sociedade em relação a todas as suas múltiplas facetas (diferenças, diversidades, multiplicidades etc.)
Penso que em muitas profissões, não somente relacionadas à educação, a teoria nem sempre coincide com a prática, porque o ser humano não é capaz de estabelecer uma teoria fixa para um mundo que está em constante mudança. A vida, o homem estão sempre mudando, as situações cotidianas não são sempre as mesmas, em resumo, a cada dia nós temos de enfrentar novos desafios e surpresas que a vida nos traz. Exatamente por isso, é de suma importância criar um espaço para a flexibilidade, tanto no Currículo como na prática. É um trabalho muito difícil relacionar todas as questões que abrangem uma sociedade e embrulhá-las numa teoria que se opõe a esta mudança. Em verdade, nos encontramos ante a uma contradição e isso é o que causa estas discussões e dificuldades na área educacional.

Nadine Siegrist - Letras 2º semestre/2016

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Reflexões sobre Currículo e Didática



Na época da ditadura, havia um controle muito forte sobre as manifestações e ações das pessoas, principalmente, sobre as pessoas que excitavam a reflexão, o raciocínio, ou seja, sobre os professores e, consequentemente, sobre a educação no território nacional. Neste período, havia a limitação política e paralelamente o tecnicismo entrou no ensino, limitando assim o que falar, o que pensar, como fazer, banindo naquele momento a crítica e a reflexão dos professores e alunos, ao aplicarem a técnica pela técnica como fala a profa. Rosário.
Presos nesta redoma militar e vigiados pelo serviço nacional de informação, como cita o Prof. Libâneo, por volta do ano de 1979, os professores de prática de ensino começaram a se reunir para pensar em como superar os limites rígidos impostos pela ditadura. Desejavam resgatar os resquícios da educação que ainda sobravam e manifestavam a vontade de democratização não só da sociedade, mas como da educação também. Um dos caminhos para ultrapassar essa barreira no ensino era reestruturar a interação prática-didática.
A didática é o eixo norteador da formação docente, a responsável por articular a concepção e a discussão das abordagens dos conteúdos, e por instrumentalizar o professor para uma organização do trabalho docente qualificado, significativo. Ela tem como preocupação os processos de ensinar e aprender, objetivando assim o processo de ensino-aprendizagem. É o corpo teórico para entender a ação pedagógica do professor, compõe com a avaliação e formação dos professores.
Ao longo desses 37 anos que se passaram, ocorreu a consolidação do espaço político educacional brasileiro que hoje é reconhecido nacional e internacionalmente. Houveram muitos avanços neste espaço, entretanto ainda há muito o que se fazer. Sem perder a esperança, é preciso discutir a qualidade da aprendizagem, defender a educação pública, laica e para todos. Além de repensar o financiamento público para rede particular e voltar as atenções para o neotecnicismo, ao silêncio das escolas e a falta de autonomia dos professores.
Como vimos, no passado, a prática da didática estava articulada com a sociedade. Na época da ditadura, a sociedade era podada de várias formas, assim como a didática em sala de aula, fomentando discussões de como sair da inércia que aquele momento da história impunha. Sair da inércia é também uma das discussões que a elaboração do currículo escolar traz.
Para um currículo ser inovador, comprometido com a formação de cidadãos críticos, autônomos e criativos, é preciso superar alguns desafios. Dentre eles estão: pensar, planejar e executar um currículo que acompanhe minimamente as rápidas transformações do mundo contemporâneo; lidar com a heterogeneidade (sociedade x formação do professor); escola como espaço de diferença, multiplicidade; como articular campos disciplinares diferentes com as questões relacionadas ao cotidiano da escola; melhoria na qualidade do ensino. Não sendo esta mensurada por resultados de testes, eficiência, mas uma qualidade que leve em conta o desenvolvimento do indivíduo plenamente e com participação ativa e total na sociedade. Entender o que é currículo, sendo este estudado pela escola e na formação de professores; produção de material que mostre o que é currículo para ser usado pelos professores em formação; garantir aos professores igualdade na negociação curricular; incluir uma formação de professores adequada e competente; diversidade cultural; a não compartimentalização do conhecimento e a articulação de tempos e espaços na flexibilização do currículo.
Frente a esses desafios, é preciso analisá-los para elaborar um plano de ação com o objetivo de superá-los e consequentemente elaborar o currículo de forma ética, coerente e aplicável. Por exemplo, a cultura é um desafio, pois a escola está baseada no que é comum. Para superar tal desafio, esta deve compreender como articular o comum com o plural, a igualdade com a diferença. A construção do currículo deve considerar a realidade da escola, a diversidade local, pois esta é fundamental, demonstra experiência cultural, socialização. 
O professor deve saber relacionar essa riqueza que o aluno traz consigo com o conteúdo que precisa ser ensinado. Todavia, é preciso que haja compreensão dos gestores, diretores e professores sobre essa complexidade por enriquecer o trabalho. Com um currículo multicultural, a escola tem meios de combater o preconceito, estimular o respeito as diferenças presentes na realidade dos estudantes.
Outros desafios notórios são a organização do conhecimento e a relação do tempo, espaço e flexibilização do currículo. A organização é complicada porque os professores não dialogam, a escola não usa as disciplinas como eixo de organização, o que impede a interdisciplinaridade. Já o espaço da escola é muitas vezes improvisado, relacionado a uma ideologia (militar, religiosa, política) e se desenvolve a partir daquilo que é possível, ao invés daquilo que é necessário. O tempo, por sua vez, é pouco, frente à quantidade de conteúdo a ser trabalho, por isso é preciso um excelente dimensionamento cronológico para que não haja defasagem. 
A flexibilidade deve estar sempre presente na escola, no currículo, no planejamento, os quais vão se adequando à realidade, conforme o dia-a-dia vivido. O planejamento para ser eficaz deve ser feito no coletivo, de modo que possa sofrer alterações e servir de base para a construção do currículo. A prática coletiva dos professores na escola ocorre depois de serem reconhecidos nas suas diferenças e por serem capazes de criar um canal de diálogo.
Moreira, Candau e Cunha falam que currículo é o lugar dos conflitos que estão na sociedade e que refletem na escola (por exemplo, a religião), é o momento da construção da igualdade, é o coração da escola e que se realiza no momento em que o aluno e professor estão juntos. 
E é neste momento que o professor coloca em prática a didática que o acompanha. É com ela que o professor conseguirá ensinar ao aluno, não somente o conteúdo pragmático, mas também todos os outros aprendizados a que um indivíduo em formação deve ter acesso, como o respeito à diversidade, os direitos humanos, o multiculturalismo, a universalidade em um espaço e tempo adequados e com um ensino de qualidade.

Catharina Rocha - Matemática/2º semestre