sexta-feira, 1 de junho de 2012

O dia em que arremessei Paulo Freire


Bom, não sei se após esta crônica serei perdoada pelos diversos fãs dessa figura tão ilustre da educação brasileira, mas talvez contando a história vocês me perdoem.
Tudo começou com a notícia que a prefeitura de São Vicente iria oportunizar a faculdade a todos professores efetivos que não tivessem o curso de Pedagogia, e estivesse atuando no Ensino Fundamental I. Foi um frisson na escola, todo mundo afoito e ansioso para descobrir como seria. Nós professores desconfiados com a gratuidade do curso. Enfim, a gratuidade procedia, mas a conversa que teríamos que prestar um vestibular não estava nos meus planos. Resolvi encarar, pois não tive muita escolha. Perder meu emprego depois de tanto tempo lutando e estudando não estava nos meus planos também, porque o boato que corria na rede era que se o professor não tivesse a bendita Pedagogia iria ser remanejado ou exonerado, resolvi não pagar para ver e me inscrevi.
Na noite que antecedeu o vestibular, comecei a procurar meu RG, procurei... procurei... e nada de achar o documento. Debrucei-me sobre uma caixa amarela que guardava embaixo da minha cama. Havia uma sacola que brilhava de um jeito esquisito, não aguentei a curiosidade e resolvi pegar, me deparei com várias apostilas e resumos sobre textos de “Paulo Freire”, dados a mim pela minha querida irmã recém formada. Não me contive e arremessei com toda minha fúria todas as apostilas na parede, não bastando, gritei uma frase nada pedagógica eu tinha esperanças que meu documento estivesse ali, mas não estava. Conclusão encontrei meu RG em um canto qualquer de meu guardarroupa.
No dia seguinte, me dirigi até a Unisantos, onde aconteceria o vestibular, fui caminhando meio perdida naquele imenso corredor, quando me entregaram a prova, fiquei perplexa, era Paulo Freire do começo ao fim, vários pensamentos caíram sobre mim naquele momento: "Será que Paulo Freire, irado com minha atitude de arremessá-lo contra a parede do meu quarto irá me castigar?
Ele vai me castigar fazendo com que eu erre todas as questões..." Confesso que fiquei muito assustada, nervosa, arrependida, assombrada e muito mais. Continuei a prova temerosa que o pior acontecesse, saí da sala sem muitas esperanças. "Será que depois de ter proferido frases nada pedagógicas em relação aquele pobre velhinho... Será que ele iria me ajudar a responder perguntas sobre sua nobre e heroíca vida, era muito pouco provável mas..."
Não preciso nem falar o que aconteceu, porque, se não tivesse acontecido, não estaria escrevendo esta crônica para vocês.
 

Carla Cristina da Silva - 4º semestre

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