terça-feira, 5 de junho de 2012

Chico Pá


Outro dia, esperando o ônibus para ir à faculdade, presenciei um rico, romântico, filosófico e porque não dizer, intenso diálogo entre um casal de namorados. Ele, do tipo “mano”, encabeçava com certa irritação a prosa:
- Ô mina, tu sabe que eu sô meio pá heim!
- Se pá eu tive que desenrolá com teu irmão é pá e aí pá nóis vai ficá numa boa.
O silêncio da mulher era tão eloquente que eu fiquei imaginando quais os mecanismos cerebrais que ela estava utilizando para decodificar tamanha pérola. Que sinapses o cérebro dela estaria fazendo? Fiquei impressionado, não com a falta de recursos linguisticos, mas com a capacidade do indivíduo de fazer com que um vocábulo monossílabo, substantivo (lembrei disso) assumisse tantos significados com tamanha improvisação. Mal sabia ele que estava revolucionando a língua portuguesa ( que minha mestra não escute isso...), tamanho o seu poder de síntese. E o que dizer dos filósofos a apropriar-se de tais recursos:
-Pá em que sentido?
-No sentido existencial, é claro!
-Mas, se pá existe, como será o pá absoluto?
O diálogo do casal me veio à tona quando escutei de um dos meus alunos a seguinte frase:
-Aí nois vai lá e pá mano!
A frase poética entrou-me ouvido adentro como um desses socos de vale tudo, pois tal carinho com a língua levaria um professor de Letras no mínimo ao infarto fulminante. Imagina a análise sintática da frase! Bom, voltando à frase, ao ouvi-la fui tomado de súbita inspiração: Instituir o troféu Chico Pá, com o qual seriam laureados todos aqueles cujas as pérolas como “nóis vai”, “vai naonde”, “vô i (verbo ir) lá”, etc. povoassem seus vocabulários. O que nóis num fais em prol da língua?

Acir Oto da Silva Filho - 4º semestre

Um comentário:

  1. E pá que gostei Acir.....estou tentando fazer o análise sintático da oração rsrsrsrsrsrrssrs

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