domingo, 15 de abril de 2012

A aula




Estudiosos da Didática, Pedagogia e outras áreas da educação afirmam que a aula é um campo de tensões e conflitos, devido à complexidade de elementos que fazem parte desse espaço/tempo tão intenso, em que sujeitos interagem em busca da produção de conhecimento.

Claro que essa coisa da interação e produção de conhecimento no coletivo é uma concepção da atualidade, depois que, graças a Deus, descobrimos Vygotsky, Paulo Freire e outros teóricos mais humanistas. Na minha época, aluno calava a boca, copiava, decorava e o professor "transmitia o conhecimento" e ninguém criticava, porque não havia espaço para "diálogo", para o aluno "refletir" sobre a aula.

Teorias a parte, para mim, a aula é mesmo um campo de batalha. Sim, porque eu acredito na interação, no coletivo pesquisador, na autonomia, na autoria, enfim em todas as utopias possíveis e cabíveis em uma aula. E como isso é difícil! Às vezes, dá vontade mesmo é de "atacar de ditadora". Por isso, acho que a batalha é grande. Como lidar com o inesperado? Ou o que fazer quando o próprio aluno espera de você o modelo tradicional? É, porque, como dizia Paulo Freire, o oprimido introjeta dentro dele o modelo do opressor. Se o modelo tradicional é do professor autoritário e da aula "bancária", com o aluno passivo esperando que depositem nele o conhecimento, então é muito mais fácil, não é? Não dá trabalho para ninguém. O professor "vomita" um conhecimento decorado, o aluno "copia" um conhecimento pronto, sem nem pensar a respeito, e depois faz a prova: umas perguntinhas já estudadas previamente. Dá até saudades disso! Éramos felizes e não sabíamos?


Mas, suando, brigando comigo mesma e, claro, com os demais sujeitos que habitam comigo o espaço/tempo da aula na universidade, acho que estamos conseguindo construir aulas bem razoáveis, em que o conhecimento é realmente construído por todos.
Gostaria de destacar nossas primeiras aulas de 2012. Como sempre, no começo, sinto-me perdida em uma névoa densa, tateando em busca de um caminho seguro a seguir. Sei como começar, mas não tenho ideia de onde vai dar, porque, daí para frente, agimos no coletivo. Todos se envolvem, dedicam-se, ajudam-se mutuamente e a aula flui. A produção final é bem melhor do que nossas expectativas iniciais. Acho isso mágico, por mais sofrido que pareça ser. Aliás, como aluno gosta de reclamar, não é?
Após ler tantas reclamações nos diários de bordo (coisa que na minha época seria algo proibido para um aluno), tive a "brilhante" ideia de propor uma atividade simples, com cartaz, nada do complicado Power point, dos temíveis seminários, do terror de falar na frente da classe. Planejei a aula. Sim, porque jamais entrar na sala sem um plano de aula, mesmo que ele nunca funcione. Somos profissionais. E para minha surpresa, foi uma grande confusão!
Em uma classe (não direi qual) todo mundo querendo falar junto. Não tinha nem o combinado de levantar a mão antes. Cartazes cheios de imagens. Houve planejamento? E a estética? Não sabem fazer cartazes e sabem fazer Power point? Voltar a manusear o papel é difícil? E ainda, no final, tive que ouvir que preferiam fazer Power point e seminários. Quanta contradição!
Em outra classe (também não direi qual), concordei que usassem um tempo para colar as figuras. Só não tinha ideia da quantidade de figuras que trouxeram para recortar! Em uma terceira classe, só um grupo fez o cartaz, o outro não entendeu. E que texto difícil!
Será que foi um fiasco total? Só tenho ideia maluca? Poxa! Eu queria ser tão democrática e agradar a todos, propondo uma tarefa mais fácil!
Aí resolvi enxergar o lado positivo dos "erros" (meus ou dos alunos?). Então, otimisticamente, descobri que, na aula em que todos queriam falar juntos, é porque todos tinham estudado e queriam demonstrar suas leituras e descobertas. Portanto, foi uma das aulas mais interativas e participativas que tivemos. Mesmo saindo com dor de cabeça, por causa do tumulto, adorei!
Na aula, em que se perderam na fase das colagens dos cartazes, estavam querendo ser o mais completas possíveis e não perder nada do texto. Foi como quando começaram a fazer mapas textuais, lembram? Mais textos que ideias-chave? Hoje vocês já fazem mapas textuais muito mais enxutos.
E, na classe em que um grupo deixou de realizar a tarefa, foi só uma resistenciazinha, daquelas que todo aluno sabe fazer quando quer que o professor ceda nas exigências.
Viram quantos conflitos enfrentamos em cada aula? O importante é que sempre vencemos essa árdua batalha entre a preguiça e o esforço de aprender.
Para mim, essas aulas foram de grande aprendizado. E agora terei que reconduzir, para que ninguém se perca "demasiadamente". É, porque se perder um pouco é normal! Como se diz em espanhol: "Ahora conduzco yo". Esse é o papel do professor, mesmo ao trabalhar com grupos autônomos como os de vocês. Cronograma, orientações, planejamento, datas-limite, tarefas... e a aula se consolida em um momento sagrado e consagrado pela mediação humana. Por fim, tenho a certeza de que "erros" não existem. Erros são hipóteses de acerto. Ninguém acerta, sem errar antes.
Rosana Pontes

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