sexta-feira, 7 de março de 2014

(Auto)avaliação formação Parfor: superando a acomodação

A arte de fazer o pão marcou minha vida, minha prática pedagógica e virou meu TCC

Trabalho em escola pública desde a segunda metade da década de oitenta do século passado, quando iniciei um curso de História numa das faculdades mais baratas da Baixada Santista. Era a única maneira de conseguir um emprego relativamente seguro. 
Vivíamos, então, a transição de uma ditadura militar para uma ditadura econômica disfarçada de democracia. Eu fazia pães para custear o curso universitário tão almejado pela minha mãe, que, por ser analfabeta, queria-me um professor. Fiz-lhe a vontade e também a minha, na medida em que não tinha um emprego com salário fixo, nem registro em carteira, tão importante na época. 

Minha namorada era professora alfabetizadora e também exigia que eu fizesse um curso universitário. Em quatro anos terminei o tal curso, no segundo ano, já comecei a lecionar como professor aluno. É preciso esclarecer que nada sabia de crianças em formação e pré-adolescentes, caí numa classe de quinta-série e foi um desastre, pois a faculdade nada me ensinou sobre dar aulas, por ser um curso mercadológico, desses que só querem saber da mensalidade, tipo pagou/entrou/passou, fui aprendendo mesmo na raça. Como não há fiscalização até hoje, em sala de aula das escolas públicas, acontecem ainda absurdos como estes que estou relatando. 

Passaram-se vinte anos e eu com grande necessidade de fazer novos cursos e todos muito caros para o meu bolso. Ainda não existiam os cursos a distancia para pobres professores, pois os computadores eram muito caros, até que um dia qualquer, na escola, procurando informações no site do MEC, deparei-me com a Plataforma Freire e a oferta de um curso de Pedagogia/Parfor, na UNISANTOS, custeado por impostos. 

Na época, eu estava estudando por conta própria, pois havia acabado de passar em concurso público para o cargo de professor de Educação Básica II efetivo do Estado de São Paulo. Fiz a inscrição e fiquei ansiosamente esperando a chamada. Fizemos um exame de seleção e entrei na primeira chamada. 
Como já esperava, o curso está sendo de grande valia para a minha vida profissional. Eu mudei muito a partir deste curso, habituei-me a ler os teóricos atuais da educação. Preparo aulas fundamentadas e contextualizadas, entendo com mais clareza o aluno atual, espelho-me com frequência em meus professores, conheço as leis e não fico mais calado perante as injustiças dentro e fora da escola, onde gestores “sabichões” nos humilham sabendo que nada sabemos sobre leis. Adquiri maior autonomia, escrevo com mais desenvoltura e não quero mais parar de estudar, iniciei um curso de pós-graduação em Ética, Valores e Cidadania, pela Universidade de São Paulo, on-line, com um encontro por semana tutoreado e venho percebendo cada vez mais a importância do magistério para a construção de um mundo melhor e mais humano. “Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção [...] ensinar é ação pela qual o sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado” (FREIRE, 2010). 
Foi o que aconteceu comigo, aprendi com meus professores e na prática, construindo o conhecimento como aluno e professor ao mesmo tempo, pois eu era indeciso e acomodado antes de encontrar a formação Parfor, para me apoiar e continuar o árduo e maravilhoso trabalho de ensinar as futuras gerações.

Renato Sant'Anna - 8º semestre 2014/1

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