quarta-feira, 12 de março de 2014

(Auto)avaliação formação Parfor: a busca incessante por melhorias

Minha prática docente iniciou-se como atendente de educação de uma creche na cidade de Praia Grande, São Paulo. Comecei esse percurso sem conhecimento pedagógico nenhum, visto que minha formação se restringia ao ensino médio. Desta forma, reproduzia modelos que trazia em minha bagagem como aluna. 
Após alguns anos trabalhando nessa área, obtive a formação em Magistério, nível técnico. Esse curso foi oferecido pelo município do qual fazia parte do seu quadro de funcionalismo público, na época, como determinação da LDBEN 9394/96, em seu artigo 62, que diz ser o Magistério (nível técnico) exigência mínima de formação para atuar na educação básica. No entanto, o curso de Magistério, no meu ponto de vista, não me proporcionou muito conhecimento teórico que me subsidiasse segurança para uma prática docente de qualidade.
Busquei cursos universitários a distância, uma vez que era a formação que minha condição financeira permitia na época, apesar de não considerar essa modalidade de curso com a qualidade que eu pretendia. Entretanto, não consegui me matricular em nenhum.
Ainda bem! Porque surgiu uma oportunidade dos sonhos: Cursar Pedagogia na melhor universidade da baixada (UNISANTOS) e além do mais com bolsa de estudo integral pelo Parfor. Não pensei duas vezes, me matriculei.
Hoje, após 4 anos de curso, posso afirmar com propriedade que concluo o curso de Pedagogia com a minha prática docente transformada. Isto quer dizer que, aquela prática inicialmente ingênua, leiga, reprodutora e mecânica foi superada por uma prática pedagógica permeada pela crítica, reflexão e autonomia.
Isso foi possível, devido à vivência em atividades e projetos que me ensinou a pensar e pesquisar. Essa proposta pedagógica consta no Projeto Pedagógico do Curso, bem como é aconselhada por grandes autores na área de formação de professores, dentre os quais Paulo Freire.
Nesse sentido, os professores utilizaram como estratégias de formação os registros reflexivos em diários de bordo e crônicas pedagógicas postadas neste blog, seminários de pesquisas, produção de documentários e a realização de pesquisas.
Essas estratégias foram relevantes para eu conquistar um perfil crítico-reflexivo, pesquisador e autônomo. Desse modo, pude associar a teoria com a prática, sempre por intermédio da investigação e problematização mediada pelos professores. Fui me tornando uma professora-autora, ou seja, tornando-me sujeito da minha própria aprendizagem. Senti-me apta a pensar e agir de acordo com os conhecimentos adquiridos por meio da reflexão sobre a teoria na prática.
Paulo Freire, no livro A Pedagogia da Autonomia, afirma que “a teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”. Diante dessa afirmação, posso inferir que a transformação em minha prática docente foi possível em virtude da teoria ter iluminado a minha prática.
Eu, particularmente, agarrei oportunidades grandiosas, oriundas no grupo de pesquisa da universidade, que foi a elaboração do pôster sobre as vivências de formação em Pedagogia na Unisantos apresentado no II Encontro Nacional do Parfor, na sede da CAPES/MEC em Brasília, na primeira quinzena de junho de 2013.
Como resultado desse pôster, produzi em coautoria com minha querida orientadora professora Rosana Pontes, um  artigo científico: “Relatos de experiência de uma professora-autora em construção: implicações da formação Parfor na prática docente”, publicado no primeiro livro do Parfor a ser lançado brevemente. E ainda, outro artigo que, mais uma vez, juntas, apresentamos no Congresso Internacional de Avaliação, promovido pela Universidade do Rio Grande do Sul, Unisinos, em Gramado/RS, nos dias 06, 07 e 08 de outubro de 2013, cujo título foi: “(Auto)avaliação de uma professora em construção: implicações da formação Parfor na prática docente”. Essa experiência como autora acadêmica levou-me ao tema do meu TCC: A formação de professores no Parfor.

Quando eu imaginaria que uma menina de origem humilde, aluna de uma escolarização pública fragilizada, poderia chegar aonde eu cheguei! Sem dúvida, foram experiências riquíssimas para uma professora em formação inicial.
Contudo, ainda me sinto um ser inacabado, como afirma Paulo Freire, porém, consciente desse meu inacabamento, busco constantemente aprender cada vez mais para que a minha prática docente esteja sempre rodeada de reflexão, pesquisa e autonomia.
Apesar de todas essas conquistas, tenho enfrentado dificuldades para transpor a teoria estudada na universidade para minha prática cotidiana.
Do 1º ao 6º semestre do curso de Pedagogia, atuava em uma creche, na qual era de minha responsabilidade apenas o “cuidar”. E ao me deparar com as teorias que embasam a educação infantil, no caso o Referencial Curricular Nacional, aprendi que o cuidar e o educar são indissociáveis, portanto era minha tarefa também “educar”.
Entretanto, as atividades pedagógicas não eram planejadas por mim e por nenhuma outra atendente de educação, elas já vinham prontas e nós apenas as aplicávamos. Muitas vezes, recusei-me a aplicar atividades, por vários fatores: a atividade não era adequada para aquela faixa etária; a atividade estava distante da realidade das crianças, no que se refere ao desenvolvimento, ora muito além, ora muito abaixo; atividades em que os recursos didáticos não eram fornecidos pela escola etc.
Desta forma, comecei a me indagar: como poderia avaliar a aprendizagem daqueles alunos se não sou eu que planejo e organizo as atividades e a rotina da turma?
Então, fui questionar a equipe gestora da unidade na qual trabalhava. Foi um questionamento em vão, pois quase não me ouviram e, por consequência, fiquei vista como a funcionária questionadora.
A gestão escolar dessa unidade atuava de forma autocrática, por isso não consegui dialogar sobre as questões pedagógicas que envolvia aquela escola, até porque ouvi que eu não era professora.
Já no 7º e atualmente no 8º semestre, atuando como professora, após passar no concurso público na cidade de Santos, também encontro alguns desafios.
Em relação ao planejamento, organização das atividades e otimização do tempo e espaço até tenho autonomia para trabalhar, porém sinto-me sozinha para refletir, percebo que há uma desconexão entre o trabalho docente. Penso que o trabalho com projetos seria uma forma de integração, porém o trabalho com projetos ainda não está claro para algumas professoras.
Enfim, apesar de todas as dificuldades encontradas, a minha motivação docente é maior. A busca incessante por melhorias na qualidade da educação é o que me move a estudar. E os desafios servem como indicadores para possíveis mudanças no pensar e agir no contexto educacional. Acredito que é para isso que estamos nos formando como Pedagogas.

Para finalizar, adiciono a imagem acima que representa meu sentimento de evolução como consequência da formação em Pedagogia/Parfor.

Maria Flávia Medeiros dos Santos - 8º semestre 2014/1

Nenhum comentário:

Postar um comentário