sábado, 23 de abril de 2016

Rotina escolar



Os dias em sala de aula poderiam ser descritos equivocadamente por alguém como dias rotineiros. E, por um lado, talvez faça sentido, afinal o professor possui uma rotina diária, dentro de um mesmo ambiente, com os mesmos alunos, direcionado pelos mesmos conteúdos. 
Entretanto, na prática é bem diferente. Meus dias como mediadora de inclusão, pelo terceiro ano consecutivo, com o mesmo aluno, atualmente no 5º ano, ilustra com perfeição essa realidade: embora haja um plano traçado, a sua execução é sempre uma surpresa.
- Bom dia, querido! Abre o caderno para continuarmos a atividade de ontem.
- Sabe o que é professora? Eu posso falar uma coisa? Eu estou muito cansado dessa atividade – argumentou o aluno com mansidão.
- Entendo. Então vamos fazer aquela atividade de Matemática que você gosta, certo?
- Mas professora, posso falar uma coisa? Eu estou muito cansado de lição. Eu só queria brincar um pouco, porque a minha mãe não me deixa brincar nunca! – persistiu o aluno calmamente.
- Ela não deixa você brincar? Mas ontem você disse que não podia fazer a atividade, pois estava com sono, porque havia brincado até tarde!
- Sabe o que é professora? Posso só falar uma coisa? – disse o aluno entoando a voz com mais força.
- Pode falar, querido!
- Eu odeio essa escola, eu odeio você! Você nunca gostou de mim! Você nunca me escuta! E eu só queria que você morresse! Só isso! Só isso! Sua monstra! Canalha! – expressou o aluno aos gritos e aos prantos.
Após tentar sair da sala e de fato conseguir, o aluno corre pela escola, profanando todas as minhas gerações passadas. Eu calmamente tento me aproximar, mas com ele gritando e fugindo, torna-se impossível. Minutos depois, cansado da fuga sem razão, ele volta pra sala, e terminando o choro, faz uma parte da atividade.
Matemática! Ele adora!
- Parabéns, querido! Você acertou todas as adições!
- Professora, eu gosto tanto de você! Você pode me passar contas de vezes? – disse o aluno ao me abraçar.
- Passo sim!
- Obrigado professora! – e com um beijo o aluno demonstra sua
gratidão.
- Que legal!! Você fez as multiplicações muito bem! Só aqui que você esqueceu de somar o número que subiu.
- Mas professora, posso falar uma coisa? Eu não fiz errado! Essa conta é assim mesmo! Eu já aprendi a fazer certo!
- Eu sei que você sabe! Mas aqui você só esqueceu! Vamos apagar e arrumar!
- Mas professora, posso falar um coisa?
Respirei!
- Fala.
- Você nunca diz que eu acerto a lição! Você nunca gostou de mim! Você nunca me escuta! Eu só queria que você morresse, sua monstra!
E, assim, essas surpresas diárias tornaram-se minha "rotina escolar".

Pétala Rosa Borges - Curso de Pedagogia - 1º semestre

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