quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Saia justa

Quando meu filho do meio começou a falar, todos diziam que ele era o baixinho da Xuxa. Isso porque toda palavra com s, c, ç, na boca do Rafael vinha com som de “X”. Assim, sapato virava xapato, cidade, xidade... Até o nome do irmão mais velho, de Thiago passava a ser Xiago. Com isso, ele mesmo quebrava a regra do s e c.
Como era gostozinho ouví-lo. Ríamos muito com ele, com um linguajar todo próprio. E como era curioso, o Rafael tudo via, tudo perguntava. Mas essa curiosidade, num dado momento, colocou-me numa saia justa. Fui atender uma vizinha que batia palmas e o Rafael também foi comigo. Conversávamos na frente da casa e ele prestava atenção a tudo. Era uma senhora baixinha, de seios fartos, que de tão grandes exigiam soutiens sob medida. O Rafael, pequeno que era, nos observava, olhando de cima para baixo. Sua cabecinha virava o tempo todo como num jogo de tênis. Percebi que ele nos olhava, mas não entendi o porquê. De repente, fomos surpreendidos pela sua atitude. Rafael levantou sua mãozinha, tocou no seio daquela senhora e falou:
– Noxa Xenhora, que peitão!
Tomei um susto, tentei desconversar, chamando sua atenção e, para minha surpresa, a senhora que se chamava Nair, perguntou:
- Ah, você acha grande? E levantou a blusa, tirou os seios de dentro do soutien e mostrou para ele.
Quando olhamos para o rostinho dele, estava perplexo, com os olhos arregalados, e saiu com essa:
- Noxo Deux, que peitão!

Sem ter o que fazer diante daquela fala e expressão, nos rendemos àquela inocência. Sentamos na calçada e rimos a valer, choramos de tanto rir.
Essa história espalhou-se pelo bairro. A própria D. Nair fez questão de contá-la. Alguns homens mais espertinhos passaram a usar esse bordão e quando passava alguma mulher bonita diziam: Noxooo Deux.

Edna Cirqueira - 2º semestre 2012/2

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