quinta-feira, 4 de abril de 2013

Branca de Neve


Esta é a história de uma jovem que conquistou a todos, contornando com sabedoria as dificuldades encontradas pelo caminho.
Era uma vez, um reino muito feliz, governado por um rei e uma rainha muito distintos. Eles eram adorados pelo seu povo por serem generosos e justos.

Entretanto, naquele tempo, nossos governantes passavam por constantes descontentamentos. A rainha não conseguia engravidar. Eles amavam crianças e todas elas tinham livre acesso ao castelo, mesmo não sendo dia de festa.
O rei até montou um pequeno parque e uma biblioteca, onde a rainha adorava contar histórias para os pequenos dentro das dependências do castelo. Assim, poderiam sempre ir visitá-los todas as tardes, enchendo de vida e alegria aquele lar, tão carente de herdeiros.
No entanto, esses dias de angústias estavam prestes a acabar. Num belo dia de primavera, em uma dessas tardes felizes, a nossa rainha acordou de um sonho lindo que se fez logo realidade, quando viu  uma linda menininha órfã.

Tinha os cabelos encaracolados e olhinhos curiosos pretos como jabuticabas maduras e, apesar de sua pele negra como as noites de outono, chamava-se Branca de Neve. Dizem que havia nascido num dia de muita nevasca.
A menina fora levada ali por sua avó materna que, sustentada por uma bengala, veio falar com sua alteza sobre a guarda da criança. Já estava muito velha e doente e, não tendo mais parente algum nesse mundo, pediu que ficasse com a garotinha, uma vez que não teria mais condições de criá-la.

A rainha encheu novamente seus olhos de vida e logo se apaixonou por Branca de Neve. Depois desse dia, todo o castelo permaneceu em extrema felicidade. O rei e a rainha adotaram e criaram Branca como filha de sangue. A menina também se apaixonou por eles e adorava escutar as histórias que a rainha contava. Tudo era motivo de festa. A menina era muito amada.
Dias, meses e anos se passaram e aquela garotinha se transformou numa bela jovem muito inteligente, dona de uma delicadeza e doçura contagiantes. Era muito admirada por isso e por sua inteligência e beleza sem iguais.

Até que, numa noite muito fria, dessas de tempestades de inverno, sua mãe, a rainha, adoeceu e, não resistindo às geladas temperaturas, veio a falecer.
O reino ficou de luto por um bom tempo, mas vendo seu pai, o rei, muito triste, Branca de Neve acabou aconselhando-o a casar-se de novo e assim o rei o fez.

Com alegria nos olhos, novamente, conheceu uma jovem senhora dona de uma beleza alva e exuberante com quem resolveu se casar.
Depois disso, invernos e primaveras vieram e se foram, e a jovem rainha, agora madrasta de Branca de Neve, cada dia que passava alimentava um sentimento de inveja e preconceito contra a jovem enteada. Seja pela beleza de sua cor, seja pela sua inteligência e  carisma que mantinha com todas as pessoas do reino, incluindo o amor incondicional do rei pela filha, que tinha muitos dos traços de atitudes da rainha que se fora tão cedo.
Não demorou muito, no entanto, para que ocorresse com o rei o mesmo destino de sua primeira esposa. Logo, a tristeza tomou conta do reino e Branca de Neve ficou órfã mais uma vez. Agora com uma madrasta que viu, nesse momento, uma grande oportunidade de tratar a enteada como gostaria, com desprezo e preconceito, pois achava um absurdo uma jovem negra ser criada com tanto luxo.
Os dias, então, já não eram mais os mesmos. O reino tomou outra cor, outro humor... O parque e a biblioteca foram fechados com trancas e cadeados.

Branca de Neve era tratada como uma das criadas do castelo, limpava, cozinhava, costurava, fazia de tudo sobre as vistas e ordens de sua madrasta. Entretanto, no pouco tempo que lhe sobrava ainda para descansar, folheava escondida um de seus livros que guardara em segredo e viajava em suas histórias maravilhosas.
A rainha, por sua vez, vivia se admirando num espelho mágico que dizia a ela tudo que gostaria de ouvir, ou melhor, quase tudo... Quando se tratava da mais pura beleza e inteligência, a resposta era sempre o nome de Branca de Neve que a rainha ouvia. Mesmo a jovem estando suja, proibida de ler, e vestindo trapos de tecidos, para o desespero da madrasta.
Numa noite estrelada, Branca de Neve, cansada das labutas do dia, pegou um dos seus livros, abraçou-o contra seu peito e olhando para uma estrelinha bem reluzente, fechou os olhos e fez um pedido: que um dia pudesse se dedicar ainda mais em seus estudos e espalhar sabedoria a todo seu reino.
O dia amanheceu e a rainha acordou com um plano infalível para se livrar de vez de sua enteada. Pediu para um de seus criados, o mais ignorante e rude que havia, para levar a jovem Branca de Neve a uma visita à biblioteca do reino vizinho, porém eles iriam pelo caminho do mangue e, bem ali, perto da mais pobre vizinhança, o homem teria de cumprir o pedido da rainha: eliminar Branca de Neve com uma faca.
A jovem suspeitou um pouco dessa visita, mas estava tão feliz, imaginando que seu pedido iria finalmente se realizar que não deu importância para sua intuição e foi conduzida pelo ignorante criado.
No caminho, Branca de Neve tirou um livro escondido em sua roupa, começou a ler e contar as mais belas histórias que o criado jamais ouvira e, por isso, escutava-as com muita atenção.
Assim, chegando próximo ao destino, o pobre homem ignorante ficou tão grato a Branca de Neve, por ter lhe proporcionado um momento de grande prazer e sabedoria, que pediu desculpas a ela, quando, por um momento, quis tirar a faca de sua cintura.

E, ao invés de eliminar a jovem, cortou uma ponta de sua roupa e sujou-a com seu próprio sangue para dar a rainha uma prova mentirosa. Disse à jovem que fugisse de lá o mais rápido possível, pois sua madrasta tinha muita inveja de sua sabedoria e preconceito pela sua cor.
Branca, então, correu, correu o mais que pôde, com toda sua força, e, cansada, desmaiou perto de um povoado.

Logo ali, vinham sete crianças brincando de se esconder. Uma delas, bem orelhuda por sinal, encontrou a jovem adormecida no campo, abraçada com um livro, e estranhou. Chamou seus amigos e fizeram uma roda em volta dela e ficaram observando-a, quando, de repente, Branca de Neve acordou assustada. Não sabia onde estava e, com medo da rainha a encontrar, achou por bem aceitar a oferta das crianças e se escondeu em um casebre abandonado perto das palafitas.
Branca de Neve ficava por lá horas aguardando ansiosa a visita das crianças, pois adorava contar-lhes histórias e elas também amavam ouvir seus contos de fada. Tanto gostavam que não teve jeito, a notícia de que havia uma bela jovem contadora de histórias ali perto começou a se espalhar pela vizinhança e agora as crianças já se multiplicavam.

Até aquelas que zombavam do orelhudo e daqueles que eram negrinhos foram se chegando, desvencilhando-se desses preconceitos e trazendo mais livros junto com seus pais, tios, tias e avós que vinham atrás das leituras que os cativavam cada vez mais.
Logo, a notícia de que Branca de Neve ainda vivia chegou até a rainha que furiosa não se conteve em ira e lançou-se em uma maldição.

Transfigurou-se completamente em uma idosa bondosa, como Dona Benta, lembram? Levou consigo uma sacola de livros de receitas apetitosas. Branca de Neve leria o primeiro ingrediente de uma receita qualquer e dormiria eternamente, até chegar aos seus ouvidos alguma história, contada por um jovem que a tocasse no coração, despertando-a enfim.
Assim foi feito, a madrasta, disfarçada de velhinha, esperou sorrateiramente todos irem embora e quando viu que Branca de Neve estava sozinha, chegou perto dela e pediu humildemente que lesse para ela uma receita de salada de frutas. A bela jovem muito caridosa não teve dúvidas e o fez.

Quando leu o primeiro ingrediente “maçã picadinha”, desmaiou com um breve suspiro. A rainha feliz da vida saiu em disparada, esquecendo de se livrar do seu disfarce e, de tão desastrada, foi confundida com uma velha infratora. Foi presa por guardiões do palácio quando tentava entrar de toda forma. Acabou ficando no calabouço por muito tempo.
Quando as sete crianças vieram ao encontro de Branca, encontraram-na desmaiada novamente, mas dessa vez ela não acordava, de jeito nenhum.

As crianças, então, pediram ajuda aos seus pais e vizinhos e eles se compadeceram tanto da jovem que não tiveram coragem de enterrá-la. Velaram-na com preces silenciosas por muitas horas. 
O tempo foi passando e, como a rainha e sua enteada estavam desaparecidas, os conselheiros do castelo deram ordens aos soldados para que fossem a procura das duas.
Enquanto isso, os habitantes do pequeno povoado, depois de muita conversa, acharam melhor não mais resistir e decidiram chamar um jovem catequista para ungir e ler uma oração do livro bíblico para que Branca de Neve tivesse um lindo enterro como despedida.
O jovem que se preparava para ser padre, e que, por sinal, era claro e também muito bonito, realizou o pedido do povo e foi assim... Na hora do “Amém”, quando a leitura acabou, todos ficaram espantados! 

Branca de Neve, no mesmo momento, levantou-se bocejando e se espreguiçando como se acabasse de acordar de um sono comum.
O jovem rapaz ficou muito admirado por sua beleza e quando se olharam, seus olhos e corações se tocaram numa vibração igual. Não mais tiveram dúvidas do seu destino.
Nessa altura da história, todo o castelo já sabia do que acontecera com Branca de Neve e, portanto, a madrasta continuou sua vidinha na cela do castelo, onde permaneceu por longos anos.

Branca de Neve, agora rainha, finalmente teve seu sonho realizado. Concluiu seus estudos, formou-se em Pedagogia, construiu também várias escolas e bibliotecas no reino, governando-o com muita beleza e ofertando sabedoria a todo seu povo.
O povoado das palafitas ganhou casas novas na cidade e as sete crianças continuam estudando muito e almejam ainda cursar uma boa faculdade.

O criado que era rude e ignorante está super feliz, pois está matriculado e frequenta agora uma turma na escola de jovens e adultos. Em todo o reino, não se fala mais e nem se pratica qualquer tipo de preconceito.
O jovem catequista que queria ser padre desistiu completamente da batina e com Branca de Neve se casou. Tiveram um casal de filhos mestiços e viveram felizes para todo o sempre.

Autoras: Ariellen de Araújo Gois, Arisa Pio Rodrigues, Daniela Martins, Débora Brito e Edna Cirqueira.


Proposta: Reconto de uma narrativa primordial, transpondo-a para a atualidade.
Aspectos mais positivos do trabalho: O grupo esbanjou criativadade em um texto bem escrito e muito bem articulado. As autoras souberam com propriedade manipular os elementos da narrativa, de modo a transformá-la em uma história divertida e envolvente. É delicioso ir descobrindo aos poucos as surpresas desse conto de fadas da Branca de Neve negra e pedagoga. Trouxeram a temática da diversidade cultural, recomendada pelos PCNs/temas transversais, ao criarem essa linda menina de olhinhos de jabuticaba, admirada e amada por todos. Fazem, inteligentemente, referência (ou seria reverência?) a Monteiro Lobato de forma lúdica e muito significativa, a fim de exaltarem a importância da leitura e da literatura infantil. Enfatizam, ainda, a felicidade dos personagens garantida pela conquista do direito à educação. Por fim, o desfecho feliz contempla o sonho de toda(o)aluna(o)do nosso curso: formar-se pedagoga(o) e espalhar sabedoria. Outro possível título para o conto seria O conto de fadas das(os) pedagogas(os)? Destaque na apresentação para as ilustrações de autoria da Débora, bem como para a ideia do grupo de leitura dramatizada, com pequena caracterização dos personagens, usando material da nossa brinquedoteca(chapéus e coroas). Parabéns às alunas!
Público indicado: leitores críticos (a partir de 11 anos de idade) e, claro, todos alunos(as)e professores(as) do curso de Pedagogia.

   

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