segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um dia nos museus: foi um piscar...

Foi um piscar, e já eram mais de oito da matina, e todos foram ao mesmo encontro, uma viagem, uma busca pelo novo que do passado absorvemos, idealizando um saber primário – a fonte de tudo que permeia nossa cultura, nossa pátria, tão ampla e tão materna. Registrando e fazendo valer o trajeto de acordo com sua raiz, respeitando o plano realizado e discutido em conjunto, via atrás.
De início, unimo-nos numa linha, de mãos dadas a caminho da palavra, do verbo, do substantivo mais primitivo que deriva, à medida que aumenta e/ou diminui o seu grau, ajustando-se ao gênero e número entre plurais que se entrelaçam com singulares perspectivas distintas. Em línguas e linguagens desvairadas que brincam e transitam entre nós, distanciando-se e nos acolhendo, quando assim se fazem no presente Saudosa num pretérito perfeito, mais que perfeito ou imperfeito, quando o ato de escrever sugeria tempo, oposto a um futuro ansioso, enquanto o tempo sugere outra escrita que se ajusta no seu próprio ato e, consequentemente, na fala daquele que a produz, talvez precipitando um outro dialeto sobre a mesma língua mãe... Será? (Museu da Língua Portuguesa)
Bom, mas nem só de palavras nos alimentamos, e chegada a hora “D” o corpo também fala, permitindo uma pausa de duas horas muito bem devoradas, num comer e lambiscar a todo gosto e paladar, salgado, amargo ou bem docinho e açucarado, frio, gelado, morno ou bem quentinho. Entre tentações gastronômicas e consumistas, num querer sem poder e poder sem porque, vagamos por entre corredores e escadas, desfrutando de um tempinho por ele só, um querer bem a si mesmo. “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.” (Guimarães Rosa)
Já bem munidos de muita degustação, embarcamos rumo à história, contada através de registros, documentos, objetos, pinturas, fotos, obras, etc. A retórica de um tempo importante (O Ipiranga), numa visão particular, a princípio, de quem retrata conduzindo a um público que contempla, escuta, sente e escolhe o que quer levar consigo. Admirando, reprovando e testemunhando tudo o que já “sabemos”, quer dizer quase nada. Tão intenso, tão profundo, alegre e triste, louvado por si próprio.
Os museus deixam saudades, deixam marcas, deixam história. A cultura de um povo se compreende primeiramente pela sua origem, e a história caminha originando sempre outros círculos de cultura, manifestando sutilezas aparentes ou não. Embriaguemo-nos, então, de cultura, pois é tarde e como em um espirro a ausência se faz.
Voltemos ao jardim, um deslumbre de formas, cores, texturas, sons e muita beleza, tudo em sintonia, um convite ao embarque da imaginação, inventamos e descobrimos outras formas de contar a nossa história.
E, assim, num outro piscar, retornamos aos nossos lares, com a bagagem cheia de imagens, momentos, palavras e emoções, porque como diz a Emília: "- A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso.” (LOBATO, Monteiro. Memórias de Emília, 1936). Que possamos piscar ainda muitas vezes!

Débora Brito - 3º semestre 2013/1


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