domingo, 22 de março de 2015

Sentindo na pele a leitura e a escrita

Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora Rosana nos propôs uma atividade intrigante.
Ao receber o texto, me senti surpreendida, por me deparar com uma página escrita com palavras desconhecidas do meu vocabulário e do meu idioma.
Então, com um olhar mais atento e com a ajuda do grupo, começamos a identificar o tipo de estrutura do texto, decifrar algumas palavras-chave e logo concluímos que se tratava de um texto em alemão, de uma carta comercial, envolvendo transporte internacional, ou uma solicitação de emprego, ou algo do gênero.
Aprofundando reflexões, a partir da atividade com a carta em alemão, e após leitura do texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, pude compreender que, embora eu desconheça o idioma apresentado, com a vivência adquirida, leitura de mundo, me foi possível identificar algumas semelhanças com palavras já lidas em textos, cartazes ou propagandas. Segundo Paulo Freire: “A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior desta, não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente”.
Portanto, conseguimos “ler” a carta superficialmente, mas não conseguimos lê-la profundamente, pois a leitura de textos escritos também envolve o conhecimento da língua, das regras gramaticais, dos vocábulos e palavras, porém tivemos condições de identificar tipos gráficos já vistos anteriormente em nossas vivências e, a partir daí, chegarmos a algumas conclusões.
No texto lido em sala, observamos que Paulo Freire faz uma viagem a sua infância e a suas experiências com a leitura, “como se eu estivesse fazendo a arqueologia da minha compreensão do complexo ato de ler, ao longo de minha experiência existencial”.
Foi muito importante a contribuição desse texto para percebermos que o ato de ler vai muito além de sabermos decodificar a língua e a compreensão das regras gramaticais. Para Paulo Freire, o importante é “uma leitura anterior de mundo, antes da leitura da palavra”.
Após a leitura o texto de Madalena Freire, a Introdução de “Observação, registro e reflexão: Instrumentos Metodológicos I”, percebi a importância de termos feito esse trabalho em grupo, pois a troca de ideias e experiências de cada um se somou na busca de resultados, como a autora afirma: “Aprendemos a pensar junto com o outro, aprendemos a ler, construindo novas hipóteses na interação com o outro. Aprendemos a escrever organizando nossas hipóteses no confronto com as hipóteses do outro. A ação, a interação e a troca movem o processo de aprendizagem”.
E a importância de buscarmos nossas memórias e histórias de vida fica clara na afirmação de Madalena: “Não formaremos sujeitos leitores, nem tão pouco escritores, alienados de sua história. História que é apropriada pelo resgate de suas lembranças. O resgate desse mundo de lembranças, às vezes pode parecer tão longínquo, mas nos acompanha de perto em nosso cotidiano”.
Após várias etapas da atividade proposta pela professora Rosana, e com a aquisição de novos conhecimentos através da apostila “Um decálogo para ensinar a escrever”, de Auguste Pasquier y Joaquim Doiz, pude perceber um pouco do caminho traçado por ela, para que nós percorrêssemos pouco a pouco, alinhavando um texto coerente e mais complexo.
Acredito que através do trabalho inicial em grupo, pudemos socializar e compartilhar dúvidas e conhecimentos, e a partir daí, num trabalho individual de revisão, releitura e novas aprendizagens referentes ao tema, aos poucos, a “cegueira” que acomete os alunos, de acordo com Pasquier e Dolz, foi se dissipando e com distanciamento, entre um resultado e outro, e mediação da professora Rosana, os resultados foram aparecendo e o trabalho pôde ter um crescimento diferente da mera correção e troca de palavras.
Não esquecendo o primeiro sentimento de estranheza que senti, ao receber o texto, ressalto aqui um dos resultados, para mim, mais marcantes desta atividade e que nunca tinha pensado sobre tal sentimento, que é o de como uma pessoa, criança ou adulto, que ainda não sabe ler se sente, ao receber um texto, diante de outras pessoas, talvez já letradas, e ela frustrada e impotente em decifrar o que tem diante dos olhos.
Portanto, “sentir na pele” essa experiência foi importante, agora terei mais cuidado e reservarei um olhar mais compreensivo diante dos alunos em fase de alfabetização, pois, embora não dominem a língua escrita, têm muita bagagem e leitura de mundo o que tornam enriquecedor todo o processo.


Lidia Ventura Regis (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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