domingo, 29 de março de 2015

A arte de ler e escrever a própria história

Na nossa primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, a professora nos surpreendeu com uma atividade inusitada: a leitura de um texto em outro idioma. 
A princípio, me senti confusa diante de tantas palavras desconhecidas. Por não dominar o idioma alemão, busquei decifrar e arriscar o significado de algumas palavras, para poder compreender qual o assunto tratado no texto. Ao discutir com os colegas de classe quais poderiam ser as hipóteses sobre aquele incógnito texto, nossos conhecimentos prévios nos auxiliaram.
No primeiro momento, não sabíamos que se tratava de um texto em alemão, mas por meio de nosso conhecimento enciclopédico, ou seja, “leitura de mundo”, como nos explica Paulo Freire, mesmo não dominando o idioma citado, chegamos à identificação juntos. Em seguida, foi preciso acionar nossas habilidades textuais, para chegar à conclusão de que se tratava de uma carta de emprego.
A atividade proposta pela professora nos mostrou que, para ler, é preciso muito mais do que decodificar palavras. É preciso que haja uma interação entre o texto e o leitor.
Paulo Freire diz, em A importância do Ato de Ler, que “a leitura de mundo procede a leitura da palavra”, ou seja, a leitura da palavra só fará sentido para nós quando for significante. A mesma coisa acontece com nossos alunos, no processo inicial de alfabetização.
O aluno traz consigo suas experiências culturais, por isso, já tem essa “bagagem” de mundo, e mesmo não sendo alfabetizado, desconhecendo os signos e a decodificação, sabe o que se passa, pois está inserido no mundo.
As experiências trazidas por ele representam sua “leitura de mundo”. Então, pode não saber fazer a leitura convencional da palavra, mas tudo o que viveu será significante no processo de construção de sentidos. E é por meio dessa “leitura de mundo” que estabelece relações com o que posteriormente irá ler. 

Considerei a carta em alemão um ótimo exemplo, para fazer essa associação com o que Paulo Freire afirma.
Analisando a leitura e a atividade de escrita, geradas a partir da carta em alemão, foi possível perceber que a didática e a metodologia devem estar em sintonia uma com a outra, embasadas em teorias educacionais, como por exemplo: 1. O sociointeracionismo se deu quando a professora permitiu que fizéssemos a troca de conhecimentos no início da atividade. 2. Os gêneros textuais permearam toda a atividade. Primeiramente, nos foi oferecida uma carta, gênero de fácil reconhecimento que nos ajudou na “leitura”; a seguir, nos foi solicitada uma síntese reflexiva, um gênero mais complexo que nos desafiou a desenvolver o pensamento crítico sobre o que lemos e produzimos por escrito. 3. Toda a sequência didática preparada pela professora nos ajudou a melhorar nosso nível de letramento com relação a textos acadêmicos, nos preparando para o TCC, bem como para uma análise mais crítica de nossa prática docente.
Ainda analisando a atividade do texto em alemão, podemos relacionar com o que Madalena Freire fala sobre a importância da interação entre o educador e o educando. A aprendizagem se dá por meio dessa movimentação e de diálogo que nos fazem refletir e aprofundar ideias.
A autora também fala da importância de registrar o pensamento, pois essa prática permite que, em um outro momento, possa haver uma revisão e um aprofundamento do que foi pensado.
Ao ler as palavras de Madalena Freire, confesso que me senti envergonhada por ser uma educadora e ter encontrado tantas dificuldades em registrar meus pensamentos.
Recordei-me da infância, quando ganhei um diário. Escrevia todas as noites, relatava, naquela linda agenda cor de rosa, tudo o que me acontecera durante o dia. À medida em que fui crescendo, fui perdendo o hábito de registrar meus dias. A era da internet chegou e foi tomando o lugar dos “velhos, queridos, diários”.
Talvez nossos alunos não tenham mais os diários, mas ainda existem outras ferramentas, por meio das quais é possível que eles registrem seus pensamentos, por exemplo, este blog do qual participamos com a professora Rosana e que se constituiu em um grande diário de bordo do curso, nos ajudando a praticar o registro reflexivo, tão importante para nossa prática docente.
Esse exercício de registro do pensamento nos permite guardar aquilo que, de alguma forma, faz parte de nós e deve ser contínuo. Na nossa prática pedagógica, escrever é algo indispensável e devemos despertar em nossos alunos esses prazeres que são a leitura e a escrita.
Só praticando os exercícios da leitura e da escrita, seremos capazes de escrever e compreender nossa própria história.

Elza Helena Costa (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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