segunda-feira, 30 de março de 2015

O desafio de uma atividade inusitada

Na primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa II, as meninas da sala de aula me contaram que a professora Rosana surpreendeu a todos com uma atividade muito interessante.
Nesse dia, faltei por motivos particulares e isso, de certa forma, me prejudicou bastante, mas com as orientações e a paciência da professora Rosana, Mestra em Língua Portuguesa, e com toda a sua competência, pude dar início à minha tarefa. Na sala de aula, fui perguntando para as alunas sobre a atividade e elas me contaram que a professora entregou um texto em outro idioma e pediu para que todos o lessem e foi o maior reboliço.
Em casa, sozinha, quando tive contato com o texto, me senti frustrada, por causa da minha total falta de habilidade com outros idiomas. A princípio, diante da minha frustração com o texto “Carta em Alemão”, pude sentir na pele a minha total falta de compreensão na leitura. Foi estranho, parecia que não sabia ler, no papel eram apenas palavras sem significados, mas com significados para pessoas que dominam esse ou aquele idioma.
Após a leitura de “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, quando estava escrevendo este texto reflexivo, percebi que não se trata apenas de saber outros idiomas, esse desafio vai além. É buscar soluções, e não se sentir frustrada ou culpada por não saber outras línguas (lembrando que conhecimento nunca é demais). É buscar outras possibilidades para a compreensão do texto, pesquisando, perguntando, enfim, procurando informações para que, de alguma forma, encontre a resposta ou, pelo menos, chegue perto dela. Paulo Freire nos explica que a linguagem e a realidade se prendem dinamicamente, para que a compreensão do texto seja alcançada, na sua criticidade das relações do texto e o contexto, ou seja, é preciso que o sujeito utilize sua experiência de vida, sua vivência, aprendendo a fazer a leitura da palavra escrita, a partir de sua “leitura de mundo”.
Por isso, ao ler Paulo Freire, fiquei muito sensibilizada quando o autor relata seus momentos iniciais de leitura, que primeiro nasceram de sua experiência existencial, leitura do seu pequeno mundo, a leitura da palavra, buscando a compreensão do ato de “ler” e a capacidade de perceber suas relações com o outro.
Paulo Freire me fez refletir sobre minha trajetória pessoal com a leitura e a escrita. Quando criança, gostava muito de ler histórias em quadrinhos, a famosa “Turma Da Mônica”. Os meus pais não tinham o hábito de comprar livros, os que eu tinha eram emprestados, mas não era comum me ver lendo aqueles livros, eu não tinha ideia “da importância do ato de ler”.
Eu lembro bem do meu primeiro dia de aula, estava tão feliz, eufórica, não via a hora daquele portão abrir. Tenho em minha memória a primeira letra que escrevi no caderno, mal sabia pegar no lápis, me recordo da minha alegria de conseguir copiar as bolinhas e pauzinhos que a professora escrevia na lousa.
Quando fui para a segunda série, tive muitas dificuldades, lembro-me da primeira palavra que a professora mandou eu ler na lousa, diante de uma sala lotada de alunos. Naquele momento, fiquei olhando para a palavra e fiquei tão nervosa e tão envergonhada, porque eu ainda não sabia ler, só conhecia as letras. A professora perguntou para a sala qual era a palavra e a maioria dos alunos respondeu, bem alto e com eco em meus ouvidos: “– É limão professora!”.
Como futura docente acredito que posso trabalhar a linguagem oral e escrita, juntando esse aprendizado à realidade do meu aluno. Paulo Freire nos relata todo o processo antes de ser alfabetizado. Ele fala de sua compreensão de ler o mundo, em que ele vivia momentos que faziam parte de sua infância, experiência vivida no momento em que ele ainda não lia as palavras e da importância do trabalho de seus pais, no seu processo de alfabetização.
A Atividade de leitura e escrita que a professora desenvolveu conosco “Carta do Alemão” foi muito interessante do ponto de vista didático-pedagógico. Segundo Madalena Freire, posso compreender que a professora nos proporcionou momentos de criar, questionar, buscar significados e perguntar. Dessa forma, com base no texto da autora, “Observação, registro, reflexão”, a professora Rosana usou teorias que podem embasar esta atividade como o sociointeracionismo e construtivismo, porque pudemos pensar junto com o outro, num “grupo coordenado por um educador, construindo novas hipóteses na interação com o outro” (M. FREIRE). Assim, como diz Madalena Freire: “A ação, a interação e a troca movem o processo de aprendizagem”.
Com esta atividade, posso afirmar que
, enfrentando todos os meus medos e inseguranças, pude criar, pensar, pesquisar e fazer algo para a construção de minha ação pedagógica.
Aqui fica o meu agradecimento por palavras tão belas que recebi por e mail, pelo incentivo e por acreditar em minha competência que, por um momento, nem eu mesma acreditava. Aqui deixo o meu muito obrigada para a professora Rosana Pontes.

Ângela do Nascimento Oliveira
(7º semestre Pedagogia PARFOR)

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