domingo, 22 de março de 2015

Construção de conhecimento



Ao me deparar com o texto escrito em alemão, língua que desconheço, senti-me incapaz de decifrar as informações ali escritas. Essa atividade me trouxe recordações de quando na infância me deparava com materiais escritos, tais quais: livros, jornais, revistas, receitas, etc. E, ficava tentando desvendar o que ali estava escrito.
Quando havia ilustração, a “leitura” era menos complicada, porque fazia a “leitura” utilizando como fonte de informação as ilustrações, porém, quando não havia, era complicado, costumava pedir ajuda a outras pessoas.
Há mais de vinte anos, época na qual fui alfabetizada, a metodologia para alfabetizar era restrita e seguia uma sequência: primeiro decorávamos as vogais, em seguida consoantes, famílias silábicas, palavras e, por fim, pequenos textos. O método funcionava, afinal muitas pessoas aprenderam a ler e escrever desta maneira, no entanto, poucas sentiam prazer ao ler e escrever, era um ato mecânico de codificação e decodificação de palavras, algumas com significados desconhecidos e fora de contexto.
Atualmente, o processo de alfabetização é visto de outra forma, o educando é colocado como protagonista do processo e não como um mero participante. Busca-se uma maneira de contextualizar as experiências do educando às vivências em sala de aula e, principalmente, às situações reais de uso social da língua. Compreende-se que as práticas de leitura e escrita devem fazer parte da rotina escolar desde a Educação Infantil.
Segundo Paulo Freire (1989), a leitura de mundo antecede a leitura da palavra, portanto considerar as vivências do aluno é imprescindível, para formação de leitores competentes. Com base no autor, considero a leitura um ato libertador, revelador, aprender a ler é como retirar uma venda dos olhos, sendo assim, a leitura não pode ficar restrita à decodificação de palavras, deve estar inserida em um contexto que estimule a reflexão.
Em consonância com Paulo Freire, considero que o ato de ler implica sempre percepção crítica, interpretação e re-escrita do lido. Para o ato de ler acontecer em sua plenitude é necessário que o processo de Alfabetização esteja inserido no contexto do alfabetizando, seja atraente e prazeroso, só assim poderá desperta o prazer pela leitura e consequentemente pela escrita.
“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. Essa frase de Paulo Freire sintetiza meu pensamento com relação ao processo de alfabetização, pois cabe ao educador transformar o ato de ler em algo prazeroso e libertador ou em um simples ato de decodificar palavras.
De acordo com Madalena Freire, “Não fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, nós mesmos”. Aprendi ler e escrever no modelo tradicional, fragmentado e descontextualizado que tinha como ponto de partida o ensino das vogais, conforme citado anteriormente, com este padrão de ensino aprendi a decodificar as palavras, porém não despertei para o prazer da leitura, tampouco o interesse pelo mundo literário.
Em função da minha profissão, professora de Educação Infantil, vivo uma constante busca por conhecimento, e esta busca não pode se dar longe da leitura, pelo contrário, a leitura é uma ferramenta imprescindível para obter-se conhecimento. Iniciei a realização de leituras por necessidade, no entanto, ao longo do tempo fui despertando o prazer e atualmente a leitura está presente em todos os momentos, inclusive a leitura de fruição.
Já que os modelos atuais de alfabetização envolvem uma dinâmica muito diferente e priorizam o trabalho com práticas de leitura desde a Educação Infantil, iniciando pelo nome do aluno e estabelecendo conexões com seu repertório de vivências sociais, culturais e familiares, tenho como preocupação central em meus planos de aula desenvolver estratégias para transformar meus alunos em leitores competentes, reflexivos e principalmente conhecedores da importância da leitura para a vida.
No meu planejamento, reservo um lugar de destaque para práticas de leitura, roda de leitura e manuseio de diferentes gêneros textuais, tais como: jornal, receitas, livros, gibis, etc., quanto maior for a variedade de textos trabalhados, maior será a possibilidade de despertar nas crianças o prazer de ler, costumo dizer que, por meio da leitura, podemos “viajar” sem sair do lugar. A leitura está atrelada à escrita, quando se enriquece o repertório de leitura do aluno o processo de escrita torna-se menos complexo e mais prazeroso.
Este texto é resultado de uma atividade da disciplina de Conteúdo e Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, do curso de Pedagogia, que envolveu algumas etapas que exigiram atenção, participação, reflexão, leitura, escrita e re-escrita, dentre outras competências que devem permear a prática pedagógica.
Analisando a referida atividade do ponto de vista pedagógico e didático foi uma atividade embasada na teoria sociointeracionista, quando em sua primeira etapa, ler o texto em alemão, promoveu a interação do grupo classe na busca do significado do texto.
Teve base construtivista quando propôs a escrita da experiência de tentar decifrar as informações contidas no referido texto, a reflexão e re-escrita, estabelecendo conexão com o texto do Paulo Freire “A importância do ato de ler”, e, por fim, quando tivemos que ler textos de Madalena Freire e revisar o nosso texto, considerando a importância do registro na rotina do professor.
Do ponto de vista metodológico, foi um processo de busca e construção de conhecimentos e pode ser facilmente aplicado, com algumas adequações, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. As etapas a serem seguidas promoveu a reflexão, revisão e interação, este processo de ir e vir, ver e rever, escrever e re-escrever contribui significativamente para a aprendizagem.
Esse processo de construção me remete às palavras de Madalena Freire, quando a autora fala da importância do registro escrito, se não tivesse feito o registro de todas as etapas do processo, como poderia analisá-lo em sua totalidade? Certamente, muitas informações importantes teriam sido esquecidas.
Segundo Madalena Freire, a observação é um instrumento que deve permear todo o processo de ensino, no entanto se não houver o registro escrito perde sua funcionalidade. “A escrita materializa dá concretude ao pensamento, dando condições assim de voltar ao passado, enquanto se está construindo a marca do presente” (FREIRE, 1996, p. 23).
O registro permite a análise da situação, a autoanálise, como mediador e, por meio da reflexão, a busca de estratégias que atendam às necessidades observadas. “Mediados por nossos registros armazenamos informações da realidade, do objeto em estudo, para poder refleti-lo, pensá-lo e assim apreendê-lo; transformá-lo; construindo o conhecimento antes ignorado” (FREIRE, 1996, p. 23-4).

Referências bibliográficas
FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: Instrumentos Metodológicos I. 2ª ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989.

Sivaneide Pereira Vieira (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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