terça-feira, 31 de março de 2015

Für die Position XYZ: só é possível refletir em alemão?

O desconhecido é misterioso, assustador e intrigante. O texto em alemão mexeu com muitos sentidos relacionados ao desconhecido. Como entender o que não transmite significado algum? A partir de conhecimentos já adquiridos, tive uma noção do que poderia ser o texto, mas seu real significado é impossível decodificar sem o conhecimento da prática da leitura em Alemão.
Isso me fez lembrar do meu tempo de criança. Sabem como é memória, cada um tem a sua. Muitos lembram com detalhes do que foi vivido, outros lembram apenas de fatos que realmente marcaram a vida, de uma maneira muitas vezes fantasiosa, em que a realidade e a imaginação se misturam e criam nossa memória de fatos vividos.
Aprendi a ler com cinco anos de idade, mas, mesmo assim, ainda me lembro quando as letras faziam parte do mundo misterioso e cheio de hipóteses que criava para dar significado aos montinhos de letras que surgiam nos livros
Sempre gostei de livros. Na minha casa, eram frequentes a leitura e o manuseio de diferentes gêneros textuais. Eu tive muita sorte, meus pais sempre liam para mim antes de dormir. Tinha eu cantinho de livros no quarto. Mas o que eu mais gostava era de sentar com a minha mãe e ficar folheando os livros de receita que ela tinha de uma tal marca de açúcar, bem conhecida nos anos 80. Ficava vendo as figuras de darem água na boca e tentava entender qual era a relação entre elas, os números e as fotos. Até que um dia minha mãe resolveu fazer a receita do tal “Pudim delicioso”. Minha mãe, que na maioria das vezes tinha muita paciência comigo, este dia deixou eu fazer a sobremesa com ela. Com muita atenção, fui entendendo o significado daqueles números ao lado das letrinhas e minha mãe ia me explicando e lendo para mim o que lá estava escrito.
Chegou a época em que as letras tomaram o espaço dos desenhos e brincadeiras que eu fazia na escola. Confesso que a receita do Pudim Delicioso era mais agradável de aprender do que a Cartilha da Talita, que me acompanhou por um tempo. Ela “a Talita” até que parecia legal, os desenhos eram bonitos, mas logo depois vinham textos a serem copiados e exercícios de repetição que nunca mudavam, apenas as famílias das letras. Quando entendi o esquema da Cartilha da Talita, não via a hora das últimas letras do alfabeto aparecerem. A “Xícara da vovó” nunca foi tão esperada.
Assim eu fui me alfabetizando. Confesso que funcionou muito bem, mas a preguiça e o não entusiasmo pelos exercícios repetitivos surgiram e aprendi também o significado da palavra desinteresse. Me lembro de dizer a minha mãe que eu já sabia aquela família de consoantes e que eu já tinha feito o mesmo exercício com outras famílias. Não entendia o porquê dos exercícios serem tão maçantes, mas, mesmo assim, era obrigada a fazê-los.
Hoje, como professora, e conhecedora de tantos teóricos que só fizeram ampliar meu modo de ver a alfabetização, tento trazer significado para os ensinamentos em sala de aula. Como diz Paulo Freire, “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, então por que usar um material que não tem significado para os educandos, se o mundo em que estamos inseridos nos oferece materiais infinitos para relacionarmos o texto com o contexto?
Seguindo o pensamento de Madalena Freire, “perceber-se no exercício de leitor e escritor da realidade não é tarefa fácil. Requer disponibilidade de re-alfabetizar-se em outra concepção de educação. Reaprender a olhar”. Precisamos, enquanto educadores, nos atualizar e não repetir as ações desconexas e sem significados usadas para nossa alfabetização.
Voltando a fazer um comparativo ao texto em Alemão, no início da nossa discussão, a respeito do ato de ler e escrever, se compararmos o que se aprende em doze meses de cursinho de alemão e um intercâmbio de seis meses na Alemanha, no qual o aluno irá vivenciar diferentes significados de cada palavra, ação ou sentimento, o aprendizado será muito maior e significativo, porque teve a vivência. 
“Aprendemos porque simbolizamos, experimentamos, pesquisamos, nos envolvemos com o nosso fazer e do outro... Aprendizagem do fazer, do ler, do pensar, do expressar e comunicar ideias e sentimentos” (M. FREIRE, 1996).
É com esta frase que tão bem expressa o que ocorreu nesta construção textual, em que pesquisamos, nos envolvemos com o nosso fazer e o dos outros, que encerro esta síntese reflexiva sobre a leitura e escrita.

Daniela Taborda Prado (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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