terça-feira, 12 de maio de 2015

Círculo de Cultura 1: O poder da palavra mediado pelo conhecimento

Logo quando cheguei à universidade, a nossa sala de aula já estava com as cadeiras em círculo e alguns alunos em seus lugares. A todos que chegavam a professora entregava um texto para atividades na próxima aula.
Confesso que estava um pouco apreensiva, porque não sabia bem o que iria acontecer. Com base no texto “A mediação da Leitura na educação infantil: onde a leitura de mundo precede a das palavras” (SOUZA; SERAFIM, 2009), a professora Rosana nos pediu na aula anterior para que todos lessem o texto, e a partir disso, cada aluno teria que elaborar cinco perguntas sobre o que não entendeu no texto.
Na aula seguinte, 30 de março, aconteceu o círculo de cultura (FREIRE, 1987) para discussão do texto. Aparentemente, todos pareciam calmos e assim foi dado início aos nossos trabalhos. 

A professora começou sendo a nossa mediadora e perguntou se alguém tinha alguma pergunta sobre a p. 19. A aluna Regina perguntou sobre o currículo na Educação Infantil, no que se refere à leitura, se existem diretrizes ou não (eu também tinha essa dúvida). O que ficou claro, para mim, é que vai depender da prefeitura. A aluna Daniela Taborda nos disse que, na prefeitura de Santos, existe um plano de curso e nele é avaliado o que está dentro do currículo e o que não está, mas o acesso aos livros ainda é restrito.
A partir disso, surgiu a pergunta se todos os alunos receberam esses livros em suas escolas, material tão importante e rico em conhecimento literário. A maioria respondeu que recebeu os livros em suas escolas e creches, mas ainda os alunos não têm acesso aos livros (inaceitável), e, para piorar, os profissionais da Educação contribuem para isso, como, por exemplo, vários livros irem parar no lixo. Onde trabalhei encontrei os três livros do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil no lixo, perguntei para a Coordenadora e ela me disse que se eu quisesse, eu poderia pegar, mas do contrário iria para o lixo. 

Foi discutida no círculo de cultura a importância gestão, que, enquanto docentes, precisamos e dependemos dela. Assim, uma gestão bem preparada é um caminho para a mobilização de uma escola ou creche na direção da conscientização da importância desse acervo literário, tanto para a instituição, quanto para o aluno.
No círculo de cultura, pude refletir sobre a mediação pedagógica da leitura que realizo. Uma experiência que me mostrou isso, em sala de aula, foi quando eu ainda estava na creche e tive a ideia de trabalhar em sala (Maternal I e II) a Fábula “Os músicos de Bremen”. Contei a Fábula de várias formas, proporcionando momentos de prazer e muito aprendizado. Relembro aqui a minha vivência em sala de aula:
- Ler a fábula com o livro (nesse caso, não tinha acesso ao livro, então tirei as imagens da internet e confeccionei o livro).
- Contava a história interpretando-a com caras e bocas, com gestos e mudando a voz.
- Fantoches (às vezes com 1 fantoche, outras mais elaboradas com casinhas, etc.).
- Músicas do Saltimbancos (de Chico Buarque 1977).
- Reconto da história.
- Por último, ensaio para a apresentação de um teatro (eu narrava e as crianças faziam a cena).
Mas, infelizmente, por força maior (gestão incompetente), não apresentamos, o que me deixou muito triste e os alunos também. Mas, em sala de aula, falei que todos estavam de parabéns, comprei uns livros sobre a história e dei para cada um e todos ficaram satisfeitos. 

Confesso que tirei uma grande lição disso, para minha surpresa, todos entenderam e recontaram a história, pensei que fosse dar mais trabalho, fui surpreendida! Como foi falado no círculo de cultura, não entendi porque foi dito que as auxiliares fazem esse momento literário de uma forma “feia”, acredito que há vários tipos de profissionais e não podemos generalizar.
O que ficou marcado em minha memória foi o momento em que trabalhei as cores, e, no momento em que eu mostrei o desenho que eles iam pintar, o Danilo de 3 anos tirou de sua bolsinha os lápis da cor exata de cada animal, vendo isso, perguntei qual era a cor de cada animal, conforme estava no livro, e ele me respondeu olhando em meus olhos, as cores de cada um. Sendo assim, destaco a importância sobre essa atividade e o objetivo do trabalho: Compreender a importância dos animais; valorizar o vínculo da amizade; trabalhar os valores; interpretar a história lida; reproduzir a leitura de imagens; conhecer as cores, Autores e a música; interagir com o outro; estimular o uso do raciocínio da criança (quantidade, jogos etc.). 

Com base em Souza e Sarafim (2009), posso afirmar que essa atividade ajudou a enriquecer o vocabulário dos alunos, no processo de letramento, e mobilizou várias habilidades relacionadas à leitura. Também Madalena Freire (1996) fala da importância do registro escrito, da reflexão e concretização de seu pensamento que seja do desenho, no jogo e na construção da sua escrita. Com essa atividade que fiz na creche, pude perceber isso com os desenhos sobre a história. Alguns eram apenas rabiscos, mas quando eu perguntava o que era aquele rabisco ou quem eram, os alunos tinham as respostas na ponta da língua, uns me apresentavam todos os animais da história e outros incluíam seus animais de estimação, ainda escreviam o nome deles, como não dava para entender os rabiscos, eu registrava ao lado do desenho o relato de cada um.
Lendo, analisando e refletindo sobre os ensinamentos de Paulo Freire (1987), compreendo que os princípios de sua pedagogia contribuem para uma educação libertadora. O diálogo proporciona uma relação professor-aluno, o direito à palavra, o refletir e o agir, como diz no livro Pedagogia do Oprimido (1987, p. 50): “Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam saber mais”.
A partir dessa atividade (Círculo de Cultura), percebi que fui uma importante mediadora para os meus alunos naquele momento. Gosto de ler histórias, contar, recontar, criar etc. Foi muito bom relembrar esse contato com os meus pequeninos e saber que fui uma peça importante para auxiliar o processo de leitura e potencializar o seu desenvolvimento rumo ao processo de alfabetização e letramento. A leitura nos proporciona oportunidade para a troca de experiências, saberes e aprendizado.


Referências bibliográficas:

FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: Instrumentos Metodológicos I. 2ª ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 17ª. ed. 1987.

SOUZA, Helen Danyane Soares Caetano de Souza; SERAFIM, Mônica de Souza. A mediação da LEITURA na educação infantil: onde a leitura de mundo precede a das palavras. In: RODRIGUES, Caroline; SILVA, Cláudia Heloísa Schmeiske da; LOPES, Iveuta Abreu; BERTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro. Leitura e Mediação Pedagógica. v. 30. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. (Série Estratégias de Ensino).

Ângela do Nascimento Oliveira Malaquias
(7º semestre Pedagogia/PARFOR)

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