sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Um olhar atento: "Pro dia nascer feliz"


O documentário “Pro dia nascer feliz” é um longa metragem produzido no ano de 2007, sob direção do cineasta João Jardim, que aborda a questão da educação no Brasil em diferentes regiões e realidades. 
João Jardim é um cineasta brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro em 1964, é formado em Jornalismo e estudou cinema nos Estados Unidos.
O documentário mostra diversas situação no nordeste e sudeste do país, passando pelos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O filme está organizado de forma comparativa, pois percebe-se, ainda que ocultamente, que 
há uma comparação de fato, ao mostrar situações de pobreza, analisando os aspectos que estão dados de antemão para a produção do filme, e observando esses aspectos em situações “melhores”.
No inicio do documentário, é apresentada a situação de uma escola no sertão do estado do Pernambuco. E vê-se como é precária a situação da aprendizagem. Ressalta a precariedade do sistema de ensino a começar pelo meio de transporte, professores e estruturas das escolas. Podemos observar, por exemplo, o meio de transporte dos alunos para a escola (um ônibus disponibilizado pela prefeitura). No tempo que a produção ficou na cidade, o ônibus esteve quebrado por duas semanas. A escola estava a cerca de 35 km da cidade, e isso dificultava o ensino. Pode-se observar também como os alunos sofrem para chegar às escolas, nas longas horas de viagens, que se tornam sempre mais difíceis pelas más condições das vias até a chegada ao destino.
Por se tratar de uma comunidade afastada, muitos adolescentes precisam trabalhar e isso afasta muito deles das escolas. O que aumenta a evasão escolar. Essa é ainda uma realidade forte no nordeste do Pais.
Seguindo para a Região Sudeste, observa-se fortemente um grande desinteresse por parte do aluno nas escolas. Em Geral, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, nas Escolas públicas, o aluno está na escola simplesmente por ser uma obrigação. Muitos tiram notas baixas, faltam, estão fora de muitos assuntos escolares e o seu desempenho é muito baixo. As escolas estão cheias e, como acontece certa desordem, nem sempre o professor consegue passar tudo oque é programado. Os alunos estão desanimados e não se empolgam em estudar, pois veem a escola como uma coisa “chata”. Esse problema acontece principalmente nas escolas que estão em áreas periféricas da cidade, onde há a influência do tráfico e da violência.
O problema não é o mesmo do nordeste. A distância, a falta de opções, logística, trabalho, estruturas. Vemos até uma contradição, por se tratar de cidades grandes e Estados desenvolvidos, há muita logística, as escolas são perto, e são relativamente muitas, contudo, há ainda uma precariedade no ensino. Talvez, por causa da grande procura por vagas nas escolas, a aprovação seja “automática”, ou seja, raramente o aluno é reprovado.
O documentário apresenta-nos uma realidade de uma escola particular no Estado de São Paulo, onde a qualidade, as estruturas escolares e toda a realidade são de um nível transcendente e inatingível ao relacionarmos com as outras situações das escolas públicas apresentadas no longa metragem.
Observa-se aqui, claramente, as intenções do autor do filme no detalhe do corte de câmeras. Nas escolas públicas, onde a situação não é tão satisfatória, as câmeras focalizam nos alunos e na sala em geral, e observam-se alunos distraídos, conversando ou até mesmo olhando para o aparelho de filmagem, e o esforço do professor no ensino. Na escola particular, o corte de câmeras segue o mesmo “critério” de filmagem. Veem-se alunos lendo, escrevendo o que o
professor diz, e centrados, situados, no que está sendo proposto. O professor consegue com facilidade explicar o conteúdo, pois todos fazem silêncio. Os critérios de avaliação são rígidos demais, forçando o aluno a estudar muito e fazendo que a sua formação seja integral, isto é, satisfatória, abrangente.
Os alunos têm metas diferentes dos alunos das redes públicas. São alunos de classe dominante da capital, sendo em sua maioria de cor branca e de famílias de empresários e executivos bem sucedidos. Os alunos são, em sua maioria, muito aplicados, estudam muitas vezes além do que se pede. Têm, em sua maioria, objetivo de fazer faculdade. Fazem cursos simultaneamente, sabem falar idiomas, em outras palavras, são empenhados e têm uma visão de educação
diferente dos alunos de redes públicas. Que posso colocar aqui como libertadora, ou construtora. Diferente da “chata” e “obrigatória” do aluno da rede pública.
No fim do longa, a violência figura de modo brutal. Observa-se uma conversa entre detentos, que falam de seus crimes tentando justificá-los. A mentalidade desses sujeitos é de que a educação é quase nada e que a nenhum lugar leva sob o pretexto do desemprego e da dúvida com relação à incerteza da sobrevivência; também pelo fato da corrupção existente no Governo. Esses sujeitos são, em sua maioria, das regiões periféricas da cidade; daí o conceito de que o meio faz o ser. Perguntamo-nos se não é o próprio meio, às vezes a ausência da escola, ou do Estado, que produz o marginal. Essa questão está presente no início do filme e volta no fim, englobando toda obra. Assusta quando os jovens dizem; “17, 18, 14, 18, 18, 17, 15” referem-se às suas idades.
O filme está muito coeso e claramente se vê o objetivo do autor. Sem dúvida, ele consegue chegar ao seu objetivo final, que aqui entenderemos como “reflexão”. O paralelo entre as situações extremas, observando o contexto social da escola e dos alunos, mostra a dificuldade que a educação no Brasil passa e como a solução ainda está distante. 
Que esse documentário seja fonte de reflexão, levando a perguntas e a ações de mudança radical nos conceitos e na formação da educação.

Jefferson Dionísio da Silva - Filosofia (2º semestre)

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