sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Possibilidades na Educação


Participando do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) – licenciatura de língua portuguesa, eu pude observar e analisar práticas escolares no ensino fundamental (sexto ano) da Unidade Municipal de Ensino Avelino da Paz Vieira, em Santos. A escola, enquanto instituição criada e destinada à sociedade, exerce uma série de atividades para realizar a medicação entre o estudante e o conhecimento, entre o aluno e a própria sociedade, entre as crianças e a comunidade do Bairro.
Com um pouco de ousadia, afirmo que não concordo com 80% das práticas que pude observar nestes últimos seis meses. Talvez por que eu seja de uma nova geração, talvez por que enxergo com olhos novatos, talvez por que ainda esteja naquele momento de lua de mel com a possibilidade de tornar-me docente, talvez porque, simplesmente, penso diferente. 
Apenas para ilustrar, posso relatar que os professores gastam muito
tempo (hora/aula), tentando evitar que os alunos comam balas e chicletes, chupem pirulitos; como fazer com que os alunos sentem-se em ordem numérica ou alfabética nas fileiras da sala de aula; tentando disciplinar os estudantes com as mais variadas possibilidades de sanções e punições, como tirar nota, botar para fora da sala, mandar para a coordenação, chamar os pais, etc. Percebi uma constante utilização da pedagogia bancária, nos moldes explicitados pelo consagrado educador Paulo Freire. Que a escola gasta muito tempo (hora/aula) com repreensões em público, com a obrigatoriedade do uso do uniforme, com as tentativas de impossibilitar que os alunos corram no recreio, brinquem, divirtam-se, etc. Que possui um currículo entediante e imutável ao longo do
semestre. Que desconsidera o currículo oculto das salas de aula.
Mas devo enaltecer os 20% de práticas escolares que observei e achei positivas.
A escola dá importância aos eventos extraclasse. Em períodos curtos, promoveu feira de ciências, peça de teatro, feira de talentos, visitas a outros espaços públicos como o Orquidário, estímulo à prática do esporte de competição, possibilitando aos alunos que
joguem em localidades diferentes da cidade, acompanhamento de formatura de programas específicos da educação municipal, entre outras iniciativas. 
Entendo que a escola é um espaço muito mais amplo do que os muros que a cercam, ela precisa interagir com a sociedade em que está inserida.
A professora que acompanhei, por sua vez, tenta conduzir os alunos no mundo da leitura, levando-os semanalmente até a biblioteca da escola, estimulando-os a ler poesias e poemas, inclusive a escrevê-los. Estimula a feitura de cartazes e trabalhos manuais de cunho artístico. Também segue uma programação gramatical pausada, não tenta cumprir um cronograma e forçar os estudantes a aprenderem muita coisa em pouco tempo. Busca uma relação afetiva e respeitosa com os alunos, ainda que, por muitas vezes, perca a paciência e tenha de elevar o tom de voz. Percebi que ela não foca apenas a cotidiana tarefa de ensinar e aprender, mas também sabe da função que tem de formar cidadãos para a convivência em sociedade. E por isso, ela estabelece com os alunos
essas iniciativas de refino da comunicação.
Além da relação escola-professor-aluno, outra entidade escolar que alterna práticas escolares com as quais concordo e discordo é a Secretaria de Educação do Município. A UME Avelino da Paz Vieira não tem impressora e os professores devem, eles mesmos, imprimir ou pagar por qualquer atividade e prova que queiram realizar em sala de aula. A Seduc regulamenta que a escola exija o uso do uniforme e cobre inúmeras tarefas dos docentes. Há diversas outras pressões políticas, pedagógicas e estruturais. Há coordenadores, diretora, fiscais de corredores, disciplinadores, pessoas de setor administrativo, da guarda municipal, da faxina, uma série de inter-relações que, de alguma forma, também entrelaçam sua presença e suas vozes no contexto diário da escola. Conforme Apple (1989), a escola e o Estado devem evitar que a verdadeira tarefa dos alunos seja sobreviver até que o sinal soe. Por outro lado, a UME Avelino da Paz Vieira é bem estruturada e limpa, tem boa ventilação, salas arejadas e espaço para os alunos correrem.
A Seduc apoia os projetos extraclasse, fornece transporte, uniformes e lanche. Apoia a capacitação dos professores, valoriza a cultura e estimula intercâmbio entre as unidades de ensino da rede municipal.
E é claro, não podemos esquecer dos alunos. Nem dos pais deles. Sim, há alunos bagunceiros e indisciplinados (no sentido de não cumprir regras de comportamento estabelecidas pela escola). Sim, há alunos com deficiência intelectual e de atenção que perturbam a aula. Sim, há pais ausentes e filhos com pouca ou nenhuma educação moral, de convivência e familiar. Sim, há alunos que buscam constante ruptura com o sistema e alunos com problemas socioeconômicos. 
Todavia, sim, há alunos comprometidos com a escola e suas práticas. Sim, há alunos que prestam atenção, levam as tarefas de forma interpretativa e quando não entendem, fazem perguntas. Sim, há alunos com educação moral, de convivência e familiar. Sim, há alunos que com 12 anos sonham em crescer na vida por meio da educação.
Toda essas observações que pude fazer neste período reforçam o pensamento de diversos educadores brasileiros que enxergam na área da educação infinitas possibilidades de crescimento, melhora e evolução dos alunos. O que deu certo numa escola, pode não dar em outra. O que deu errado com a turma A, pode chegar ao sucesso
com a turma B. Creio que essa enorme gama de opções e possibilidades é o que tanto chama a minha atenção e me atrai para o mundo da docência. O querer fazer parte e por em vigor práticas escolares que visualizo como interessantes animam-me e entusiasmam-me. A adrenalina de ajudar no desenvolvimento de outro ser humano é fascinante e empolgante. Conforme Paulo Freire, o estudante aprende, e assim, adota uma postura crítica diante do mundo, só permitida por meio da educação e do conhecimento; adquire um raciocínio crítico para poder analisar e modificar o mundo em que vive. A partir deste pressuposto e do momento em que nosso país vive em seu seio político e econômico, com reflexos nítidos no campo da educação e das práticas escolares, faço questão de terminar este texto com a sabedoria do educador baiano Anysio Teixeira:
“Embora todos os regimes dependam da educação, a democracia depende da mais difícil das educações e da maior quantidade de educação. Há educação e educação. Há educação que é treino, que é domesticação. E há educação que é formação do homem livre e
sábio. Há educação para alguns, há educação para muitos e há educação para todos”
(Teixeira, 1996, p. 108).

Fabricio Tineo dos Santos - Letras (2º semestre)

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