terça-feira, 8 de setembro de 2015

A influência mercadológica na educação

Inicio esta reflexão, comparando a Educação com o comandante de uma embarcação de dimensões gigantescas, que deve levar com maestria sua nau por mares conturbados da existência, e que, diante dos desafios de ondas revoltosas, nos convide ao enfrentamento e à superação.
Esta Educação deve ser iniciada no âmbito da família, mediante a atuação dos pais, na rotina diária com seus filhos, emprestando exemplos valorosos e acolhendo com amor e responsabilidade este embrião de vida, que tal como semente deve ser lançado em terreno apropriado e cuidado com dedicação e empenho.
Aqui, já temos o primeiro problema a ser tratado: Terceirização da Educação Familiar. Em face de uma vida cada vez mais atribulada e cobradora de medidas urgentes de sobrevivência, os pais de hoje, em sua grande maioria, encontram-se afastados desta responsabilidade e julgam ser suficiente, e até mesmo natural, terceirizá-la ao sistema de Educação vigente, no âmbito escolar. Mera ilusão, pois esta lacuna não pode ser preenchida pelos educadores. Esta tarefa tão delicada e primordial é exclusiva da engenharia da vida familiar e a ela está subordinada de forma irremediável, pois constitui ensinamentos não somente aos filhos, mas, principalmente, aos pais, no grande projeto que consiste a experiência doméstica.
Neste sentido, me cativa a ideia de entender o Estado, como o ente que, diante da necessidade urgente de conter esta onda de desamparados e aturdidos, possa acolher e encaminhar a sociedade para o sentido libertário da Educação, e aqui reforço: Sentido libertário da Educação, atuando como uma espécie de alma coletiva, atendendo ao chamamento de uma sociedade que carece de sentido, municiando-nos de bússola e mapa.
Neste ponto, surge um novo problema: Terceirização da Educação Pública para o Setor Privado Empresarial . É natural que não podemos cerrar os olhos ao fato de que nossa vida está mergulhada em um sistema apoiado na economia de mercado e, nesse sentido, o resultado desta operação de natureza comercial coloca em destaque o produto, que somado a uma engenharia financeira, auxiliada por uma publicidade cada vez mais atuante, nos induz a práticas de consumo cada vez mais absurdas e predatórias, tornando nossas vidas uma sombra caótica de nossas reais potencialidades.
O Estado tem todo o direito de buscar alternativas para solucionar o entrave da Educação, seja na sociedade civil, seja no meio Empresarial, tudo é valido quando se trata de tentar entender a amplitude deste problema, que assume desde sempre dimensões Titânicas.
Acredito que existam fórmulas adotadas pelo setor corporativo que possam ser aplicadas ao setor público, inclusive apoio este direcionamento, no que tange particularmente à gestão: controles, planejamento, etc... As Empresas poderiam fazer doações ao MEC, que tenham como contrapartida incentivos de natureza fiscal e tributária, enfim uma discussão em torno de um tema que busque apoio, sem a interferência direta na condução do Projeto Educacional de Natureza Pública, Universal e custeado pelo Tesouro Nacional. Me pergunto: Será que o pacote completo da Educação interessa ao setor privado? Ou, como de hábito, somente o filé mignon está na pauta desta discussão.
A Educação deve orientar o despertar do homem, para o questionamento do mundo que lhe cerca, tornando-o um ser reflexivo, capaz de se autodescobrir e vencer suas limitações. Esse projeto não deve estar subordinado a leis de mercado, que, via de regra, despertam em nós um sentido de TER que sobrepuja o de SER. Liberdade para pensar, questionar e escolher sua própria jornada, que atenda suas expectativas, diante da visão de mundo que ele próprio foi capaz de construir, mediante potências e talentos despertados em um ambiente que acolhe e motiva - a sala de aula, usina de ideias -, que envolve e abraça, onde não existem mestres e alunos, mas, sim, alunos em graus diversos, com boa vontade, humildade e generosidade.
Utopia, inocência, ilusão, sonho? Não importa, não acredito na mudança simples e prática, automática e instantânea, mas acredito na Mudança!! Sei da capacidade humana de Destruir e Construir, uma me assombra a outra me encanta, prefiro acreditar e empenhar minhas convicções e todas as minhas fichas na parte humana capaz de construir.
A História nos revela como são lentos os passos da humanidade. É que, para humanizar o humano, não existe roteiro de facilidades, tudo é empenho, exercício demorado de evolução que se encadeia, afinal, a natureza não admite saltos.
Em qual prateleira deste imenso supermercado estará disponível: O Belo, O Bom, A Ética, A Justiça, A Estética, A Política...? Existirá este produto? Ou por falta de demanda, ele será sucateado, interrompida sua produção e se tornará produto fora de estoque!!! Mas se os olhos da humanidade não puderem contemplar essa prateleira, com esses produtos expostos, terá valido a pena ir às compras??
É possível medir a humanidade! Estatísticas, gráficos, mapas de desempenho, equações, etc... mas, será possível mediar almas??
Educar é libertar almas. Esta ação generosa extrapola o olhar corporativo de resultados. Será que todo humano conquistará o Sucesso? Mas o que é mesmo o Sucesso??? Quem sabe, na próxima reflexão...
Segue abaixo o link de uma canção interpretada por Mercedes Sosa e o Grupo Calle 13. Gosto de escutá-la, pois me faz agradecer a vida abençoada que tenho e me convida a compartilhar o drama dos excluídos.

https://www.youtube.com/watch?v=1xVrHcN7zSA

TRADUÇÃO ( A PARTE CANTADA PELO GRUPO CALLE 13 NÃO ESTÁ NA TRADUÇÃO)

Canción para un niño en la calle

Canção para uma criança na rua
Neste momento exatamente
Há uma criança na rua
Há uma criança na rua!

É digno dos homens proteger o que cresce
Cuidar para que a infância não morra nas ruas
Evitar que naufrague seu coração andarilho
Sua incrível aventura de pão e chocolate

Colocar uma estrela no lugar da fome
De outro modo é inútil, de outro modo é absurdo
Ensaiar na terra a alegria e o canto
Pois de nada vale, se há uma criança na rua

Não deve andar o mundo com o amor descalço
Tecendo um diário como uma asa na mão
Sustando os trens, sonegando o riso
Golpeando-nos o peito com uma asa cansada

Não deve andar a vida, recém-nascida, sem valor
A meninice riscada sob a estreita ganância
Então as mãos são inúteis fardos
E o coração apenas uma má palavra

Pobre o que esqueceu que há um menino na rua
Que há milhões de crianças que vivem na rua
E uma multidão de crianças que crescem na rua
E agora vejo apertados seus corações pequenos

Todas nos tomam com fábulas nos olhos
Um relâmpago truncado atravessa a tomada
Ninguém protege essa vida que cresce
E o amor está se perdendo, como uma criança na rua

Maurício Pereira Casasco - Filosofia (2º semestre 2015-2)

Referência Bibliográfica:

FREITAS, L. C.. Os reformadores empresariais da educação: da desmoralização do magistério à destruição do sistema público de educação. In Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 119, p. 379-404, abr.-jun.2012 http://www.cedes.unicamp.br 

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