domingo, 17 de fevereiro de 2013

Livros de Literatura Infantil que amei


Lygia Bojunga Nunes - 2004, na Suécia

Solicitei esta tarefa para minhas alunas, inspirada no programa da TV Futura que gosto muito “Livros que amei”. Imaginei que seria uma maneira bacana de cada uma delas recomendar a leitura de um bom livro de literatura infantil.
Então, decidi abrir o nosso blog, em 2013, com a minha indicação de um livro de literatura infanto-juvenil que eu amo.
Como diz a autora desse livro, Lygia Bojunga Nunes, o leitor pode desenvolver “casos de amor” com livros e seus respectivos escritores. E esse é um dos meus casos de amor literário.
Embora, tenha uma boa coleção de sua obra e fica difícil escolher, a história da Lygia que mais me emocionou foi o conto “A Troca e a Tarefa” que faz parte do livro “Tchau”. Digo conto, porque é uma narrativa curta, com os elementos que caracterizam o gênero “conto”, mas acho que ela não se preocupou com essa limitação literária e escreveu uma história que brotou do seu coração. Narrado em primeira pessoa, conta a história autobiográfica de uma escritora que, quando menina, tinha uma obsessão: o ciúme por sua irmã mais velha. A partir de um sonho todo "sonhado em azul" aprendeu a transformar seus medos, frustrações e até o monstro do ciúme em histórias. Essa foi a "troca" que o sonho profético lhe deu. Mas quando estava escrevendo seu vigésimo sétimo livro, o sonho voltou e explicou qual seria a "tarefa": após terminar seu vigésimo sétimo livro ela morreria. Aí o desespero: como evitar terminar esse seu último livro? Não vou contar o final, tá! 
Só posso adiantar que esse conto é propositalmente revestido de um “realismo” que, ao final da história, todos se perguntam: isso aconteceu mesmo? A linguagem é deliciosa de ler, períodos curtos, leves, no tom coloquial que a criança fala, e vai envolvendo o leitor com toda a magia que os livros infantis precisam ter como ingrediente principal de uma boa literatura. Afinal, como todos nós acreditamos, literatura infantil precisa ser “obra de arte”.
A ilustração é um elemento muito relevante no livro infantil e, nesse livro, ela é "pontual", como classifica Luis Camargo. Ou seja, a ilustradora Regina Yolanda desenha letras capitulares, que marcam o início do primeiro parágrafo de cada parte do conto. Misturados às letras há desenhos que remetem a momentos significativos vividos pela personagem. Nos últimos parágrafos, as frases se movimentam em ondas, expressando o estado físico e emocional da personagem. Não há outras imagens. 
Sem dúvida, a Lygia produziu muitas obras de artes que foram reconhecidas e traduzidas em muitos países. Ela foi uma das poucas escritoras no mundo que ganharam os dois mais importantes prêmios destinados à literatura infantil mundial: Hans Christian Andersen (1982), pelo conjunto de sua obra; e Astrid Lindgren Memorial (2004), na Suécia. Também recebeu vários outros prêmios como, no Brasil, o prêmio Jabuti (1973).
Lygia nasceu em Pelotas/RS, em 1932. Hoje vive em Londres e, devido à idade avançada, não escreve mais com a mesma constância.
Vale a pena ler os livros dessa maravilhosa autora brasileira que aborda temas sensíveis e necessários para a psiquê infanto-juvenil em formação, como a morte dos pais em “A corda bamba” (1979); o suicídio em “Meu amigo pintor” (1987); a utopia da busca de uma vida perfeita para uma criança abandonada em “A casa da madrinha” (1978). Seu último livro, que eu saiba, foi “Retratos de Carolina” (2002).
Enfim, “realismo mágico” da melhor qualidade. Recomendo seus livros para leitores já fluentes (a partir de 10 anos) e para qualquer idade que aprecie boa literatura. Tenha um caso de amor com a Lygia, será inesquecível...

Rosana Pontes


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