domingo, 16 de agosto de 2015

Somos reservatórios de mistérios...

Somos reservatórios de mistérios, cada ser que existe é uma usina processando conhecimentos e sentimentos. Esta mistura, centrifugada em nosso caldeirão de dilemas, gera em nós uma visão de mundo particular, ela pode nos libertar ou aprisionar.
Após assistir ao documentário "Paulo Freire Contemporâneo", que por acaso já conhecia, como não verificar em Paulo Freire a figura do indivíduo preocupado com a formação de um ser capaz de refletir sobre as questões de seu Mundo, criando uma consciência mais participativa, para avançar trilhando um caminho de progresso intelectual e moral.
Acredito nesse movimento que imprime no Educador o interesse em mergulhar no universo particular do Educando, produzindo, a partir deste gesto de generosidade e humildade, um olhar capaz de enxergar o outro, como parte de si e de sua proposta de vida. Observo a profusão de um movimento que fere o verniz e encontra por trás deste a alma agitada, porém oprimida do outro.
Ainda não estudei essa pedagogia e o documentário, naturalmente, é apenas o fragmento de algo que deve assumir proporções muito mais vultosas, mas suponho que o autor tenta percorrer o caminho de encontro com o outro dentro de seu ambiente de convivência, assumindo a cultura local como a pedra de toque a ser empregada no desenvolvimento, tanto das palavras geradoras como dos temas a serem abordados. Esta percepção sensível do autor, por si só, já exprime o gesto que, para mim, é de suma importância, pois revela um movimento horizontal de acesso ao educando, compreendendo que tanto Educador quanto Educando podem se auxiliar mutuamente e aprender uns com os outros, portanto, o desenvolvimento percorre uma estrada de duas mãos.
Não basta ao Educador conhecer de forma primorosa o conteúdo que resolveu replicar, é necessária uma abordagem mais humana, que possa de fato afetar o indivíduo que está diante dele. Naturalmente, é mais fácil essa ação quando a realidade abordada faz parte do contexto vivenciado pelo educando, pois ele se encontra como personagem atuante, cabendo ao Educador adaptar o roteiro e mediar o conhecimento a ser aplicado.
Pode parecer simples ao primeiro contato, mas quando falamos de relações interpessoais, as tensões criadas são sempre um balaio de gato, em que muitas vezes o imprevisível surge, rogando a todos boa vontade. Por este motivo, sempre que abordo este tipo de assunto, ressalto a generosidade como elemento central desta relação, pois permite um passo atrás para nova reflexão e adaptação, visando sempre a uma correção na rota, dado que a Educação é tão dinâmica quanto a própria vida.
Por trás da tarefa de alfabetizar o indivíduo, encontra-se um projeto muito mais ousado e amplo. Ao descortinar palavras e construir frases, o indivíduo vai adquirindo segurança e, ao sentir-se mais confortável, encontra forças para ensaiar novos passos e, consequentemente, ampliar seus horizontes, formando uma nova dimensão para agir, não somente transformando suas possibilidades, como impactando o espaço ao seu redor.
O documentário me fez refletir sobre o que está ocorrendo atualmente com os movimentos migratórios, predominantemente vindos das regiões da Ásia e da África, para o Continente Europeu. É possível que as Nações Europeias mais atingidas com a nova onda tenham de adequar seus modelos educacionais, visando à inclusão dessa multidão de oprimidos, fugidos de guerras e processos de intolerância, e com culturas tão diversas.
Eis a vida apresentando ao Homem nova proposta de entendimento e adequação. O que se apresenta de início como uma tragédia pode ser a mola propulsora de uma nova conjuntura de aproximação entre realidades tão diferentes, para que os agentes, que estão mais adiantados no processo, possam estender suas mãos aos da retaguarda.
Essa dinâmica me fascina e gera em mim um desejo de entender melhor essas tensões. Exercito nova musculatura, forte para arcar com o peso dessa gigante tarefa, que tem assaltado minha mente, como a me convidar para esse generoso banquete, em que o alimento servido alimenta almas.
No educandário Terra, somos todos alunos, uns mais adiantados que outros, porém irremediavelmente alunos.


Referência:

PAULO FREIRE Contemporâneo. Direção de Toni Venturi. Brasília: Olhar Imaginário, Realização SEED/MEC, 2007. (53 min), son., color., educacional.

Mauricio Casasco - Curso de Filosofia (2º semestre 2015-2)

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