domingo, 30 de agosto de 2015

A PEDAGOGIA DO SER EM PAULO FREIRE

Em busca de uma educação verdadeiramente humanista, Paulo Freire, por meio da valorização da perspectiva histórico-social do ser, e consequentemente da educação, critica o opressivo modelo de educação bancária. Neste, o foco é a mera transmissão de informação descontextualizada da realidade do educando. 
Já na pedagogia proposta por Freire, é inserida uma visão fenomenológica da realidade, na qual o sujeito – mediado pelo mundo concreto – é ator na construção do conhecimento. 
Por seu legado, Paulo Freire foi nomeado patrono da educação brasileira e é considerado uma referência mundial em Pedagogia.
Nascido em Recife, no ano de 1921, Paulo Freire viveu intensos 75 anos. Vivenciou o drama da vida real concreta das pessoas do interior de seu estado, do Brasil e do mundo. 
Sensível à opressão vivida pelo povo, desenvolveu um método de alfabetização cujo objetivo foi além da mera capacitação à leitura. Focava, em contrapartida, a criação das condições de possibilidades para as pessoas tomarem consciência de si, enfatizando o âmbito político da vida do educando, com foco na formação do ser-mais.
A concepção de ser alicerça a concepção de educação desse ser. Analisando-se, então, um determinado modelo de educação, podem ser encontradas as obscuras concepções de ser veladas pelo modelo em análise. 

Na "educação bancária", segundo Freire, o educador, cuja tarefa se resume a "depositar" conteúdos nos alunos, é sempre aquele que fala, sabe, prescreve, disciplina e educa o educando. Este, por sua vez, limita-se a receber esses conteúdos, é sempre quem escuta, não sabe, segue o prescrito, o disciplinado, o pré-estabelecido. Desse modelo, desvela-se a noção de ser do aluno como algo mecânico, uma “caixa”, “depositário”, passivo diante do processo, na visão freireana.
Na Pedagogia do Oprimido, o ser é visto como sujeito ativo no processo de construção do aprendizado, bem como no processo de transformação do mundo. O ser é histórico-cultural, incompleto, em transformação, existencial, coletivo, de práxis, está em constante busca e é capaz de dividir o mundo em sujeitos e objetos, por isso, pode tanto humanizar como desumanizar. 
Nessa perspectiva, o educador, por também ser incompleto e estar em constante busca, aprende com o educando, enquanto educa. É uma relação de troca em que ambos ganham. Daí se dá a concepção de educação humanista, na qual o foco é a formação deste ser em "devenir", do ser-mais.
Com este enfoque, na década de 1960, Paulo Freire ficou rapidamente conhecido pelo método que afirmava alfabetizar um adulto em 40 horas. Seu método de alfabetizar não se limitou apenas a ensinar pessoas a reconhecerem símbolos, mas sim a 
lerem o mundo, de forma crítica. 
Primeiro, a pessoa lê o mundo. Vive o mundo concreto e se relaciona com a realidade. Segundo, nos “círculos de cultura” – grupos de pessoas que se juntavam para aprender a ler – por meio das “palavras geradoras” – conjunto de palavras, de uso cotidiano dos integrantes dos círculos de cultura, representando todos os fonemas da língua portuguesa – o educador trazia a realidade concreta vivida pelas pessoas para o mundo intelectual da escrita. Terceiro, de posse da habilidade de ler o mundo e de se expressar, o educando passa a ser capaz de problematizar questões cotidianas de forma mais coerente e profunda, politizando-se. 
Esta tentativa de conscientizar politicamente as pessoas lhe custou um preço alto. Exilado em 1964, devido à ditadura militar, percorreu 16 nostálgicos anos em diversos países, incluindo Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça. No exílio, em 1967, escreve a Pedagogia do Oprimido, sua obra-prima, leciona em Harvard e Cambridge, e trabalha nas reformas educacionais da Guiné-Bissau e Moçambique. Retorna ao Brasil apenas em 1980, quando se filia ao Partido dos Trabalhadores e trabalha duramente por 17 anos no âmbito político-educacional deste país, vindo a falecer em maio de 1997.

Referências Bibliográficas:

FREIRE, Paulo. Papel da educação na humanização. Revista da FAEEBA, Salvador, n. 7, p. 9-17, jan./jun., 1997.
PAULO FREIRE Contemporâneo. Direção de Toni Venturi. Brasília: Olhar Imaginário, Realização SEED/MEC, 2007. (53 min), son., color., educacional.

Ricardo Winter Albernaz - Filosofia (2º semestre 2015-2)

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