domingo, 26 de abril de 2015

Círculo de Cultura 2: O diálogo e a reflexão na sala de aula


Foi pensando numa proposta diferente de metodologia do ensino da língua portuguesa, que a professora Rosana Pontes, da Universidade Católica de Santos, resolveu realizar com os alunos, com base em Paulo Freire, dois círculos de diálogos – ou “círculos de cultura” –, nas aulas de 30/03 e de 13/04/2015.
Neste sentido, a prática pedagógica leva o aluno à construção do seu conhecimento, “todos juntos, em círculo, e em colaboração, reelaboram o mundo e, ao reconstruí-lo, apercebem-se de que, embora construído também por eles, esse mundo não é verdadeiramente para eles”, relata Freire (1987, p. 12). Ou seja, em nossas aulas, o conceito freireano de “círculo de cultura” constituiu-se em uma metodologia que não só leva os alunos a construir seus conhecimentos, mas também a aprender a ensinar, por serem alunos do curso de Pedagogia.
Na preparação, uma turma ficou no círculo do meio e a outra no círculo externo. A turma que estava no meio dialogou e problematizou sobre o texto lido. Os alunos que estavam de fora registaram a conversa. Esta dinâmica, confirma o que explica Paulo Freire, na Pedagogia da Autonomia (1996, p. 47): “ensinar é criar possibilidades para a produção ou construção de novos pensamentos e reflexões, sobre o assunto que está em pauta”.
Alguns dias antes de desenvolver esta atividade, a professora pediu que os alunos estudassem o texto de Vera Aparecida de Lucas Freitas, Mediação: estratégia facilitadora da compreensão LEITORA e pontuassem perguntas mais relevantes. Esse artigo discutiu a importância da mediação pedagógica da leitura em sala de aula, como diz Freitas (2009, p. 65), todo professor tem a grande missão de levar o aluno a conquistar “autonomia nas ações de ler e escrever”.
Durante a preparação do círculo, percebi que todos os alunos estavam calmos e até estavam sorridentes por estarem sendo filmados pela professora. Quando eu olhei ao redor, observei que alguns alunos também estavam filmando com seus próprios celulares, não participando diretamente da conversa. Para começar, apenas uma aluna pronunciou-se com a seguinte pergunta:
Como o professor pode, em uma sala de aula, perceber que alguns alunos não conseguem desenvolver a leitura e a escrita? E como lidar com esta situação numa sala com muitos alunos?
Então a professora explicou:
P: – Mediante a necessidade que se percebe, é possível criar atividades que auxiliem estes alunos.
Na sequência, outra aluna de dentro do círculo ressaltou.
A: – Também fiquei surpresa quando meus alunos do terceiro ano não sabiam escrever nomes de frutas.
Outra aluna mostrou como solução uma atividade realizada no quinto ano, destacando a estratégia metodológica do professor: uma atividade de reconto, para ajudar o aluno na leitura e na escrita, considerando suas dificuldades.
A próxima pergunta surgiu do texto problematizado (p. 66), se a Prova Brasil 2011 pode se considerada como indicador para diagnosticar o conhecimento do aluno, porque a escola tem por obrigação proporcionar aos alunos as condições necessárias para o exercício da cidadania. Já que a aprendizagem da leitura e da escrita é um direito. Foi essa pergunta que mais instigou o diálogo entre os alunos, produzindo outros discursos sobre diversas situações da de suas práticas.
Percebi que, durante a conversa, outros alunos não faziam perguntas, mas comparavam o texto com situações vivenciadas nas escolas em que atuam. E, durante o diálogo, alguns alunos, que chegaram tarde na aula, estraram na sala e se sentaram fora do círculo, não respeitando a conversa. Eles falavam de outros assuntos e ficou difícil ouvir a interação do diálogo no círculo.
Achei importantíssimo, quando surgiu a explicação da professora sobre o texto, que destaca que o indivíduo que aprende e desenvolve conceitos por meio da internalização transferida do âmbito social para o individual, processo que Vygotsky chamou de zona de desenvolvimento proximal, em que a mediação acontece ocasionando o aprendizado (FREITAS, 2009, p. 69). Isto mostra que existe possibilidade de aprender com a experiência do outro e rever o que já aprendemos.
Essa é uma estratégia usada por muitos professores, principalmente no Ensino Fundamental que, por meio de pequenas leituras de textos, pode-se perguntar aos alunos sobre a situação vivenciada, os personagens, onde aconteceu, sobre do que se fala, permitindo que o mesmo participe e compare com as situações vividas no seu cotidiano.
O texto de Freitas (2009) explica que o mundo da leitura e da escrita exige que o professor, como mediador, possibilite aos alunos, no processo de ensino e aprendizagem, a leitura, o diálogo, as atividades criativas de problematização, a reescrita de textos, as adaptações às condições da escola, a observação da reação do aluno com as dinâmicas, como mediação na construção do conhecimento.
Tudo isso foi percebido pelo nosso “círculo de cultura”, pois, segundo Freire (1987, p. 9), “o círculo de cultura revive a vida em profundidade crítica. Reviver é estabelecer sobre aquilo que já conhecemos o aperfeiçoamento como se fosse um ingrediente a mais para melhorar e compreender o que já sabemos”. E foi nesta atividade que vivenciamos o diálogo, possibilitando expor experiências vividas, como pensamos como deveria ser. A proposta freireana (1987, p. 9) pode estar presente em toda prática pedagógica, “[...] não foi por acaso que esse método de conscientização originou-se como método de alfabetização”.
Acredito que, para o melhor desenvolvimento desta atividade, seria importante que os alunos escrevessem a pergunta numa cartolina e, na hora do diálogo, mostrassem para os outros, permitindo, assim, uma ordem da conversa. E, talvez, fosse mais produtivo, se os alunos que estavam no meio tivessem a oportunidade de interagir com mais confiança, pois percebi que, assim como eu, evitaram fazer perguntas, por temerem a opinião dos colegas. Conforme explica Paulo Freire (1996, p. 135), ensinar exige disponibilidade para o diálogo: “É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo que me encontro com eles ou com elas”. Diante dessa problemática, é preciso que os participantes respeitem a opinião dos colegas, por mais simples que possa parecer.
Ainda sugiro que, ao apresentarem as perguntas, os outros alunos dariam sua opinião sobre o assunto e, após o diálogo, a professora interveria explicando o significado, seria uma oportunidade de descobrir o conhecimento enciclopédico (ou conhecimento de mundo) dos alunos.
Por fim, destaco que é bastante relevante utilizar os princípios da pedagogia freireana – o círculo da cultura, a tematização, a problematização e o diálogo – como base da metodologia de ensino em toda prática pedagógica e em tudo que realizamos como professores.

Referências bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessário à prática educativa. 30ª. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro, (Paz e Terra), 1987.

FREITAS, Vera Aparecida de Lucas. Mediação: estratégia facilitadora da compreensão leitora. In: RODRIGUES, Caroline; SILVA, Cláudia Heloísa Schmeiske da; LOPES, Iveuta Abreu; BERTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro. Leitura e Mediação Pedagógica. v. 30. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. (Série Estratégias de Ensino).

Jane Rosilda Santos Ferreira (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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