sábado, 18 de abril de 2015

A sistematização e o pensamento reflexivo na prática pedagógica

O texto proposto à reflexão “Carta em alemão”, a princípio, me levou a pensar o quanto é difícil para as crianças o exercício da leitura e, por conseguinte, senti uma tremenda vontade de decifrar os códigos ali escritos, porém não obtive total êxito.
O texto estava escrito em outra língua o que dificulta sua interpretação, mas pude identificar que o gênero textual utilizado era carta. Para fazer a leitura do texto proposto me ative a alguns elementos que compõem uma carta, ou seja, nome, data, descrição e a sequência de elementos textuais contidos no texto. Cheguei a essa conclusão quando me lembrei do artigo de Luiz Antônio Marcushi, no livro “Gêneros Textuais & Ensino”. Nesse livro, diversos autores analisam os mais variados gêneros textuais, inclusive a carta.
Fiz a leitura do texto em casa sozinha e, enquanto minha filha Julia brincava com seus brinquedos, olhei para ela e pensei, se está difícil para um adulto ler e compreender este texto, quem dirá para os pequenos na escola. Pensei também que se estivesse fazendo com outra pessoa, acredito que seria melhor, pois, poderíamos trocar informações e chegar a um senso comum em relação à leitura desse texto. Talvez, na sala de aula, quando a mesma atividade foi realizada em grupo, tenha sido mais fácil. O trabalho em grupo nos aproxima do sociointeracionismo. Vygotsky (1998) afirma que a integração e interação entre sujeitos possibilitam o desenvolvimento da linguagem e, dessa forma, estimula-se a construção de pensamentos mútuos, tornando o momento da aprendizagem algo significativo, e nessa mesma linha de pensamento, Madalena Freire (1996, p. 7) explica:
"Aprendemos a ler construindo novas hipóteses na interação com o outro. Aprendemos a escrever organizando nossas hipóteses no confronto com as hipóteses do outro. Aprendemos a refletir, estruturando nossas hipóteses na interação e na troca com o grupo".
O ato da leitura se compreende pelo fato de saber ler e compreender o que está sendo lido, não é apenas decifração de códigos, soletração de palavras ou frases. Para tal, exige-se a integração do contexto no qual estamos inseridos. Nesse sentido, Paulo Freire nos explica que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 1989, p. 11), ou seja, o contexto, no qual estamos inseridos, dá sentido aos novos conhecimentos.
Por isso, o fato de não conhecer a língua escrita no texto do exercício de leitura proposto dificultou sua interpretação e, consequentemente, a não compreensão do que estava sendo lido, tornando uma leitura não eficiente e pouco produtiva. No entanto, pude perceber e refletir sobre as dificuldades que as crianças ainda não alfabetizadas enfrentam no seu dia a dia, na sala de aula, nos momentos de leitura, chegando à conclusão do quanto é importante selecionar materiais que fazem parte do contexto histórico-social dos educandos. Faço esta afirmação embasada em Paulo Freire que defende que “linguagem e realidade se prendem dinamicamente” (FREIRE, 1989, p.11).
O texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, nos ajudou a aprofundar a reflexão sobre esta atividade, porque ele trata a leitura e a sua ação como um ato libertador e subjetivo do ser humano, nos levando à autorreflexão sobre nossos saberes e fazeres.
As tarefas 1, 2 e 3, orientadas pela professora Rosana, tiveram como proposta refletir sobre diversos aspectos da leitura, primeiramente, o diagnóstico a partir do texto em alemão e, posteriormente, a reflexão por escrito desenvolvida com base nas leituras de Paulo e Madalena Freire. A meu ver, foi utilizada, pela professora, uma estratégia metodológica sistematizada, baseada em pressupostos teóricos com o propósito de promover a desalienação do pensamento cópia/cola, ou seja, segundo Madalena Freire (1996), "Sujeito alienado do próprio pensamento torna-se mero copiador da teoria dos outros". Todo o processo desencadeado por essas tarefas levou-nos ao confronto com nossa consciência sobre os atos de ler e escrever, desenvolvendo nossa prática de leitura e escrita reflexiva. Finalizo citando:
"O desafio é formar, informando e resgatando num processo de acompanhamento permanente, um educador que teça seu fio para a apropriação de sua própria história, pensamento, teoria e prática" (M. FREIRE, 1996, p.9).
Desse modo, posso afirmar que a sistematização didático-pedagógica que realizamos (professora e estudantes) nos levou a compreender a importância do pensamento reflexivo na prática pedagógica.

Referências bibliográficas:

FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: Instrumentos Metodológicos I. 2ª ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989.
VYGOTSKY, L. S.. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Egler de Oliveira Alves (7º semestre de Pedagogia/PARFOR)

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