quarta-feira, 22 de abril de 2015

Círculo de Cultura 2: Aprender exige disponibilidade para o diálogo com o conhecimento

O texto sobre o qual farei uma reflexão será “Mediação: estratégia facilitadora da compreensão LEITORA”, de autoria de Vera Aparecida de Lucas Freitas (2009), recomendado pela professora Rosana, como atividade no formato de “círculo de cultura”, inspirada na abordagem de Paulo Freire, para alfabetizar adultos, retirando a figura central de um professor à frente da sala de aula, e os alunos enfileirados, recebendo os conhecimentos, como se fossem “tábuas rasas”.
Nessa atividade, todos os alunos da nossa turma de Pedagogia do 7º semestre, da UNISANTOS, sentaram-se formando 2 círculos: sendo um menor, composto por alunos que debateriam o texto estudado, propondo reflexões e perguntas, mediadas pela professora, que sempre procurou nortear e instigar os trabalhos; e um círculo maior circundando o primeiro círculo que foi denominado como “círculo de investigação” (FREIRE, 1970), composto por alunos que escreveriam um registro reflexivo sobre a atividade.
No “círculo de cultura”, muitas perguntas foram levantadas sobre o texto problematizado, e destacarei algumas: Por que os livros ficam inacessíveis em muitas escolas? O que é protocolo de leitura? O que é ZDP? Como uma professora de 3º ano, numa sala com 30 alunos, que só sabem letra bastão, pode treinar leitura? O professor insatisfeito com a carreira pode passar esse sentimento para os alunos? O que é autor-leitor-texto-mundo? O que é par produtivo? O que é mediação negativa? O vocabulário leva à leitura ou a leitura leva ao vocabulário?
Essas foram algumas das perguntas lançadas pelo grupo. Minha observação sobre o grupo debatedor foi de que todos procuraram participar, ora levantando questões, ora dando depoimentos do dia a dia da sala de aula.
Esse texto trouxe o resultado de uma pesquisa com uma aluna (C) de 5º ano, que, durante 8 meses, foi observada pela pesquisadora (P). Nessa pesquisa, se pretendeu observar as estratégias e habilidades de leitura da aluna, além de mediar ações positivas para ampliar e fortalecer suas competências como leitora.
Dentro da proposta de “círculo de cultura”, considero que foram positivos os resultados, e praticamente todos os princípios freireanos estiveram presentes durante a atividade: círculo de investigação; círculo de cultura; tema gerador (leitura); diálogo; leitura de mundo; tematização e problematização (por meio de perguntas).
De acordo com a consulta ao capítulo 3, do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire (1970), material cedido pela profa. Rosana, destacarei alguns trechos que reforçam os resultados positivos de nossa atividade em sala de aula.
Sobre educação bancária e educação problematizadora, Paulo Freire afirma: “O antagonismo entre as duas concepções uma, a “bancária”, que serve à dominação, outra a problematizadora, que serve à libertação, toma corpo exatamente aí, enquanto a primeira necessariamente mantém a contradição educador-educando, a segunda realiza a superação”. ( p. 40)
Ele diz ainda: “A educação problematizadora, se faz assim, um esforço permanente através do qual os homens vão percebendo, criticamente como estão sendo no mundo com que e em quem se acham”. (p. 40)
Em nossa atividade, não houve receio de se fazerem perguntas, de não seguir um conteúdo fechado e pré-determinado pela professora, ao contrário, através das perguntas muitos caminhos se abriram e enriqueceram nosso aprendizado.
O diálogo foi muito importante nessa atividade e sobre isso Paulo Freire (1970) discorre: “Por isso, o diálogo é uma exigência existencial. E se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes”. (p. 44)
Continua ele: “Para o educador ‘bancário’, na sua antidialogicidade, a pergunta, obviamente, não é a propósito do conteúdo do diálogo, que para ele não existe, mas a respeito do programa sobre o qual dissertará a seus alunos. Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou imposição, um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada”. (p. 47)
Nessa atividade, nosso tema gerador foi a leitura, foco da pesquisa das autoras estudadas, e nosso elemento diário, enquanto educadoras, pois lidamos com a formação de leitores nas nossas salas de aulas.
Para Paulo Freire (1970), se na etapa da alfabetização, a educação problematizadora e da comunicação busca uma “palavra geradora”, na pós-alfabetização, busca e investiga o “tema gerador”. Diz ele: “É importante reenfatizar que o ‘tema gerador’ não se encontra nos homens isolados da realidade, nem tampouco na realidade separada dos homens. Só pode ser compreendido nas relações homem-mundo”. (p. 58)
Considerei muito relevante e positiva nossa atividade e que nos proporcionou uma revisita aos conceitos de Paulo Freire, já estudados nos semestres anteriores, uma leitura densa e complexa, do meu ponto de vista, mas que veio clarear, de alguma forma, nossas dúvidas.
Na prática, o que se vê é uma forte resistência da educação “bancária”, como classificou Paulo Freire (1970), praticada ainda nos dias de hoje, na maioria das escolas e até nas universidades brasileiras.
O tema estudado, a leitura, veio bem ao encontro dessa abordagem freiriana, de mediação como forma de ajudar a formação de leitores. Como mediar sem haver diálogo, sem a escuta do outro, sem ouvir a história de vida do aluno?
Finalizo, registrando que gostei muito dessa atividade e que a professora Rosana nos conduziu com extremo profissionalismo.

Referências Bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 17ª. ed. 1970.

FREITAS, Vera Aparecida de Lucas. Mediação: estratégia facilitadora da compreensão LEITORA. In: RODRIGUES, Caroline; SILVA, Cláudia Heloísa Schmeiske da; LOPES, Iveuta Abreu; BERTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro. Leitura e Mediação Pedagógica. v. 30. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. (Série Estratégias de Ensino).

Lídia Ventura Régis (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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