domingo, 26 de abril de 2015

A importância de ler, entender e escrever o mundo


Na primeira aula de Conteúdo e Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, a professora surpreendeu a todos da classe com um texto bem diferente do que esperávamos. Por um instante, me deparei com o sentimento de impotência em relação a não conseguir entender a proposta sugerida pela professora. Me coloquei no lugar das pessoas que não conseguem ler e nem interpretar e um sentimento triste tomou conta de mim. 
A “carta em alemão” foi um exercício interessante para refletirmos como o ato de ler e compreender o que se está lendo, de modo a entender os mais diversos significados que as palavras podem ter, é de grande relevância.
A prática da leitura é imprescindível na vida de qualquer pessoa. A leitura nos dá a oportunidade de enxergarmos o mundo, nos dando acesso a novos conhecimentos. Paulo Freire (1989), em “A importância do ato de ler”, nos explica que, ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, ele se sentia levado, de modo prazeroso, a “reler” momentos fundamentais de sua vida e de sua prática de professor, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de sua infância, de sua adolescência e de sua mocidade, “em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim se constituindo” (p. 4).
Portanto, é possível afirmar que ler é um aprendizado constante e infinito que amplia nosso vocabulário e nos dá capacidade de interpretação e de atribuir significados e sentidos a novas palavras. Conforme nos fala Paulo Freire: “Primeiro, a leitura do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da palavramundo”. (p. 4)
A leitura desperta o entendimento e o argumento crítico das questões relativas a acontecimentos que se passam no mundo global. Nesse sentido, Freire (1989) defende que “buscando a compreensão do meu ato de ler o mundo particular em que me movia, permitam-me repetir, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que não lia a palavra”. (p. 4)
O ato de ler é uma prática de aquisição de novos conhecimentos que deveria estar no cotidiano cultural de todas as pessoas, independente da classe social. E, como futuros educadores, devemos despertar o interesse pela leitura nas pessoas. Freire (1989) nos mostra o quanto é importante termos este hábito transformador que é a leitura, quando nos relata sua experiência pessoal de que foi alfabetizado à sombra de uma mangueira, de forma tão significativa que levou essa memória para toda a vida, e, a partir daí, pensou em criar a Pedagogia do Oprimido.
Complementando esta reflexão, a partir da leitura de Freire (1989), pude rememorar minhas experiências pessoais com a escrita e a leitura e me recordo que a única oportunidade para a formação do hábito de ler tive por intermédio de minha mãe que, com seu jeito tão simples, me ensinou a ler, utilizando a Cartilha Caminho Suave. Me lembro da sensação de prazer em estar com a minha mãezinha nesses momentos de aprendizagem da leitura.
Iniciei na escola com 9 anos de idade, já estava alfabetizada, pensei que teria o prazer de continuar aprendendo de uma forma prazerosa, mas me deparei com um método tradicional e mecânico, tive a sensação de ser um sujeito copiador da teoria dos outros, como aborda Madalena Freire (1996). O desafio de exercitar a leitura e o conhecimento de novas palavras e seus significados só tive quando iniciei na faculdade.
Se todos nós tivéssemos a consciência de tal importância do hábito da leitura e de tudo que proporciona na vida das pessoas, e por mais simples que seja o incentivo para começarmos, seria mais fácil inserirmos tal prática na sociedade, dando oportunidades igualitárias para toda e qualquer pessoa para ler e compreender o mundo.
No que se refere à importância de escrever, refletindo sobre a prática docente, Madalena Freire (1996), em “Observação, registro, reflexão”, defende o registro escrito das atividades pedagógicas, pelo professor, como instrumento metodológico de autoformação. Isso quer dizer que o questionamento é fundamental para se seguir caminhos que possibilitam a ação do professor no ensino e aprendizagem do fazer ler, do expressar e comunicar ideias e sentimentos, bem como aprender junto com seus alunos a construir conhecimentos e mudanças em suas histórias de vida.
É possível reconhecer que este exercício que começou com a leitura da “carta em alemão”, incorporou a leitura dos textos de Paulo Freire e Madalena Freire, para terminar com este registro reflexivo teve por finalidade fazer-nos refletir sobre nossa prática de professoras alfabetizadoras. Esta é uma ação imprescindível do professor formador de professores, como mediador responsável pelos desafios de despertar e desenvolver a capacidade reflexiva sobre o que nós, professores em formação, já sabemos e o que ainda não dominamos. Como diz o texto: “temos a obrigação de criarmos caminhos como artista que somos na arte de ensinar e na interação com outros”. (M. FREIRE, 1996, p. 6)
Concluo defendendo que a leitura compreensiva se realiza quando o leitor apreende novos significados das palavras do mundo.

Referências Bibliográficas:

FREIRE, Madalena. Observação, registro e reflexão: Instrumentos Metodológicos I. 2ª ed. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989.

Andréa da Silva (7º semestre Pedagogia PARFOR)

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