terça-feira, 20 de setembro de 2016

Reflexões sobre Currículo e Didática



Na época da ditadura, havia um controle muito forte sobre as manifestações e ações das pessoas, principalmente, sobre as pessoas que excitavam a reflexão, o raciocínio, ou seja, sobre os professores e, consequentemente, sobre a educação no território nacional. Neste período, havia a limitação política e paralelamente o tecnicismo entrou no ensino, limitando assim o que falar, o que pensar, como fazer, banindo naquele momento a crítica e a reflexão dos professores e alunos, ao aplicarem a técnica pela técnica como fala a profa. Rosário.
Presos nesta redoma militar e vigiados pelo serviço nacional de informação, como cita o Prof. Libâneo, por volta do ano de 1979, os professores de prática de ensino começaram a se reunir para pensar em como superar os limites rígidos impostos pela ditadura. Desejavam resgatar os resquícios da educação que ainda sobravam e manifestavam a vontade de democratização não só da sociedade, mas como da educação também. Um dos caminhos para ultrapassar essa barreira no ensino era reestruturar a interação prática-didática.
A didática é o eixo norteador da formação docente, a responsável por articular a concepção e a discussão das abordagens dos conteúdos, e por instrumentalizar o professor para uma organização do trabalho docente qualificado, significativo. Ela tem como preocupação os processos de ensinar e aprender, objetivando assim o processo de ensino-aprendizagem. É o corpo teórico para entender a ação pedagógica do professor, compõe com a avaliação e formação dos professores.
Ao longo desses 37 anos que se passaram, ocorreu a consolidação do espaço político educacional brasileiro que hoje é reconhecido nacional e internacionalmente. Houveram muitos avanços neste espaço, entretanto ainda há muito o que se fazer. Sem perder a esperança, é preciso discutir a qualidade da aprendizagem, defender a educação pública, laica e para todos. Além de repensar o financiamento público para rede particular e voltar as atenções para o neotecnicismo, ao silêncio das escolas e a falta de autonomia dos professores.
Como vimos, no passado, a prática da didática estava articulada com a sociedade. Na época da ditadura, a sociedade era podada de várias formas, assim como a didática em sala de aula, fomentando discussões de como sair da inércia que aquele momento da história impunha. Sair da inércia é também uma das discussões que a elaboração do currículo escolar traz.
Para um currículo ser inovador, comprometido com a formação de cidadãos críticos, autônomos e criativos, é preciso superar alguns desafios. Dentre eles estão: pensar, planejar e executar um currículo que acompanhe minimamente as rápidas transformações do mundo contemporâneo; lidar com a heterogeneidade (sociedade x formação do professor); escola como espaço de diferença, multiplicidade; como articular campos disciplinares diferentes com as questões relacionadas ao cotidiano da escola; melhoria na qualidade do ensino. Não sendo esta mensurada por resultados de testes, eficiência, mas uma qualidade que leve em conta o desenvolvimento do indivíduo plenamente e com participação ativa e total na sociedade. Entender o que é currículo, sendo este estudado pela escola e na formação de professores; produção de material que mostre o que é currículo para ser usado pelos professores em formação; garantir aos professores igualdade na negociação curricular; incluir uma formação de professores adequada e competente; diversidade cultural; a não compartimentalização do conhecimento e a articulação de tempos e espaços na flexibilização do currículo.
Frente a esses desafios, é preciso analisá-los para elaborar um plano de ação com o objetivo de superá-los e consequentemente elaborar o currículo de forma ética, coerente e aplicável. Por exemplo, a cultura é um desafio, pois a escola está baseada no que é comum. Para superar tal desafio, esta deve compreender como articular o comum com o plural, a igualdade com a diferença. A construção do currículo deve considerar a realidade da escola, a diversidade local, pois esta é fundamental, demonstra experiência cultural, socialização. 
O professor deve saber relacionar essa riqueza que o aluno traz consigo com o conteúdo que precisa ser ensinado. Todavia, é preciso que haja compreensão dos gestores, diretores e professores sobre essa complexidade por enriquecer o trabalho. Com um currículo multicultural, a escola tem meios de combater o preconceito, estimular o respeito as diferenças presentes na realidade dos estudantes.
Outros desafios notórios são a organização do conhecimento e a relação do tempo, espaço e flexibilização do currículo. A organização é complicada porque os professores não dialogam, a escola não usa as disciplinas como eixo de organização, o que impede a interdisciplinaridade. Já o espaço da escola é muitas vezes improvisado, relacionado a uma ideologia (militar, religiosa, política) e se desenvolve a partir daquilo que é possível, ao invés daquilo que é necessário. O tempo, por sua vez, é pouco, frente à quantidade de conteúdo a ser trabalho, por isso é preciso um excelente dimensionamento cronológico para que não haja defasagem. 
A flexibilidade deve estar sempre presente na escola, no currículo, no planejamento, os quais vão se adequando à realidade, conforme o dia-a-dia vivido. O planejamento para ser eficaz deve ser feito no coletivo, de modo que possa sofrer alterações e servir de base para a construção do currículo. A prática coletiva dos professores na escola ocorre depois de serem reconhecidos nas suas diferenças e por serem capazes de criar um canal de diálogo.
Moreira, Candau e Cunha falam que currículo é o lugar dos conflitos que estão na sociedade e que refletem na escola (por exemplo, a religião), é o momento da construção da igualdade, é o coração da escola e que se realiza no momento em que o aluno e professor estão juntos. 
E é neste momento que o professor coloca em prática a didática que o acompanha. É com ela que o professor conseguirá ensinar ao aluno, não somente o conteúdo pragmático, mas também todos os outros aprendizados a que um indivíduo em formação deve ter acesso, como o respeito à diversidade, os direitos humanos, o multiculturalismo, a universalidade em um espaço e tempo adequados e com um ensino de qualidade.

Catharina Rocha - Matemática/2º semestre

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