sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Currículo e Didática: desafios e novas práticas




O Currículo e a Didática devem estar diretamente ligados, mas qual a relação desses dois termos nos dias de hoje? Existem três temas que envolvem o currículo: Compartimentalização do conhecimento; a construção do currículo considerando a diversidade cultural e a articulação de tempos e espaços na articulação do currículo. Esses três temas foram discutidos no programa Salto para o Futuro, exibido pela TV Escola, em 2013. 
Sobre o primeiro tema “A compartimentalização do conhecimento”, o professor António Flavio Moreira defende que os conhecimentos não devem ser compartimentalizados, mas sim trabalhados de maneira interligada, cortados por uma linha transversal, pois no dia-a-dia os conhecimentos são também ligados entre si. Isso se comporta como um grande desafio para a escola, pois partindo do sistema escolar que temos hoje com matérias separadas e não interligadas, não é fácil propor uma mudança tão drástica como a descompartimentalização, porém esta tensão entre disciplina e interdisciplinaridade deve ser criada dentro do ambiente escolar, e para que isso ocorra é necessário que haja momentos na escola em que os professores das diversas disciplinas se encontrem e proponham atividades interdisciplinares. No programa, há um exemplo de atividade realizada por uma professora, em que é trabalhada essa questão através da leitura do livro “Robson Crusoé”, em que diversas disciplinas são integradas, como: Artes, Geografia, Ciências e História.
Foi realizada uma enquete no programa sobre estes três temas questionando sobre qual seria o mais desafiador, a resposta foi o tema “ A construção do currículo considerando a diversidade cultural”. Inclusive, durante o programa, foi o tema que ganhou maior destaque, pois como a professora Vera Candau disse: “A escola é constituída com base do que é comum. Construída com base naquilo que é uniforme”. Levando em conta essa afirmação, podemos entender porque este assunto foi considerado o maior desafio, e como é essencial a inclusão do multiculturalismo, e como também é necessário o entendimento desse termo existindo diferentes pontos de vista sobre ele. 
A definição de cultura ao longo dos séculos tomou diversas formas, durante o século XIII, por exemplo, estava ligada ao cultivo da terra, já no século XVIII ao cultivo da mente, incluindo a apreciação da arte, que hoje está ligada a fatores sociais, tem sido usada por uma classe para manter status, o antigo, o clássico têm sido extremamente valorizado. E mesmo hoje muitos professores têm essa ideia de que apenas o que é clássico é cultura e descartando a cultura de seus alunos e a realidade da qual vieram que também envolve muitos temas como a sexualidade, gênero, discriminação racial, discriminação social e religiosa entre outros.
O multiculturalismo acaba colidindo com a questão da equidade social como se fossem opostos, o que não é verídico, uma professora faz citação do sociólogo português Boaventura Santos: “Temos o direito de reivindicar a igualdade sempre que as diferenças nos inferiorizam, e temos direito de reivindicar a diferença sempre que a igualdade nos descaracteriza”, essa citação deixa claro como se deve articular as questões de igualdades contidas nos direitos humanos e o multiculturalismo que existe dentro de nossa sociedade. 
A articulação do tempo e do espaço dentro do currículo está ligado aos espaços físicos, onde se situam as escolas. Muitas vezes estes espaços são improvisados, ou seguem padrões de outras instituições como o quartel, igreja, cantina. O tempo que, principalmente no ensino fundamental, às vezes é menor do que quatro horas diárias, o que é insuficiente para um bom desempenho do aprendizado.
Esses três temas se interligam e compõem grandes desafios que nossa escola tem que enfrentar. Desafios que só serão vencidos com o empenho de todos os trabalhadores da área. Este empenho tem que estar presente desde o estudo do currículo pelos profissionais atuantes, como pelos profissionais em formação, deve ser um trabalho contínuo dentro da escola propriamente, começando com um planejamento que articule a interdisciplinaridade e o multiculturalismo. Para isso, se fazem necessários espaço e tempo adequados. Por sua vez, planejamento deve ser sempre revisado, pois somente no dia-a-dia se poderá verificar a ou não sua eficácia. Essa verificação ocorre apenas na sala de aula, aí vemos a intrínseca relação entre currículo e didática. Mas afinal qual é a nossa didática?
A Didática desde os anos finais da ditadura até os dias atuais foi abordada no vídeo de abertura do ENDIPE 2016 – Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino, realizado em Cuiabá, em agosto de 2016. Vários professores falaram sobre sua experiência no ano de 79, ano do primeiro ENDIPE. Em 1979, estavam vivendo um momento de abertura política, momento no qual a educação começava a pensar numa nova Didática, diferente da tecnicista trabalhada durante aquele período. Uma didática que fosse capaz de formar cidadãos críticos e criativos. 
Durante a fala desses professores, percebeu-se uma certa tristeza porque a escola que desejavam ainda não se concretizou, mesmo depois de mais de trinta anos, mas os mesmos falam de uma utopia de que a educação pode mudar. 
Esse clima confirma-se ao fim do vídeo, quando dois e mails são mostrados sobre o planejamento do evento em Cuibá. O professor Silas Monteiro, organizador do evento, escreve para a profa. Dra. Selma Garrido Pimenta, uma grande didata brasileira, da USP e da UniSantos, falando como este momento de crise que o país está passando está afetando a área da educação. 
Esses dois momentos históricos, o passado da ditadura e o presente apresentam algumas características comuns, como dito no vídeo, estamos vivendo um momento em que está existindo uma tentativa do retorno da Didática tecnicista, além de uma discussão de um tema como o estado laico e escola pública e gratuita, bandeira defendida pelos “Pioneiros” do Movimento Escola Nova, no Brasil, que corre um sério risco de regredir. Aliás a laicidade da escola e do Estado é um assunto que até mesmo no programa Salto para o Futuro foi discutido.
Em meio a esse cenário uma Didática eficaz se faz necessária, pois somente na sala de aula, entre professor e aluno é que o currículo deixará de ser um mero documento e passará a ser um instrumento para a finalidade a que deseja útil, que é a formação de alunos críticos, criativos, que estejam preparados para a vida em sociedade, que estejam preparados para transformar a sociedade em um lugar mais justo e igualitário, sociedade em que sabemos conviver com multiculturalismo.

Felipe Lima - Letras 2º semestre/2016

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